Duplo Clique | A Fama é a Alma do Negócio
Foto: N-TV |
Criando as próprias regras, Biggest Deal tenta inovar no tema e na
mecânica dos reality-shows – agora os
famosos não são concorrentes, antes “empreendedores” de fazer inveja a qualquer
programa de qualificação do IEFP –, mas continua refém da lógica de laboratório
vigiado com cobaias à solta. E isso não acrescenta nenhum valor à televisão.
O título
desta crónica não é original. Foi dito pela voz feminina e sedutora que
apresentou os novos espaços comerciais do Atrium, o mais recente parque
temático da TVI, na Venda do Pinheiro, aberto 24 horas por dia, sete dias por
semana, durante pelo menos 90 dias para todos os portugueses. A anfitriã – que
até há bem pouco tempo havia jurado a pés juntos reformar-se da condução de reality-shows – é, sem surpresas, Teresa
Guilherme, mais uma vez ao comando de um formato que por mais que se constate
estar em fim de vida, a TVI insiste em recuperar.
Temos Negócio, o concurso/reality-show não assumido apresentado por Leonor Poeiras na antena do canal em 2015, foi, ao que parece, uma antecâmara deste Biggest Deal. Os concorrentes viviam num armazém e era aí que tinham de gerir diferentes negócios com o objetivo de obter o máximo de lucro. Depois dos campos de treino, dos circos, das florestas tropicais e das casas dos segredos que punham tudo às claras, a TVI virou-se para o empreendedorismo – sendo também ela empreendedora a criar aquilo que acredita ser um novo formato de entretenimento, quando não é.
Temos Negócio, o concurso/reality-show não assumido apresentado por Leonor Poeiras na antena do canal em 2015, foi, ao que parece, uma antecâmara deste Biggest Deal. Os concorrentes viviam num armazém e era aí que tinham de gerir diferentes negócios com o objetivo de obter o máximo de lucro. Depois dos campos de treino, dos circos, das florestas tropicais e das casas dos segredos que punham tudo às claras, a TVI virou-se para o empreendedorismo – sendo também ela empreendedora a criar aquilo que acredita ser um novo formato de entretenimento, quando não é.
Biggest Deal é um reality-show e a partir desse rótulo está tudo dito. Elevando o nível face ao dos concorrentes anónimos que têm povoado os jogos de sexo, fortuna e azar da Venda do Pinheiro, este regresso da TVI aos elencos famosos funciona mais como salva-vidas mediático para todos aqueles a quem as revistas sociais já deram mais importância – e que agora precisam de mais umas histórias, fotografias e vídeos polémicos para regressar às bancas. Criando as próprias regras, tenta inovar no tema e na mecânica dos reality-shows – agora os famosos não são concorrentes, antes “empreendedores” de fazer inveja a qualquer programa de qualificação do IEFP –, mas continua refém da lógica de laboratório vigiado com cobaias à solta. E isso não acrescenta nenhum valor à televisão.
O
palco principal já não é “a casa”, tampouco existe a figura mítica da “Voz”. No
terreno da TVI na Venda do Pinheiro ergueu-se um átrio comercial (ali
escreve-se Atrium, em nome da internacionalização), com uma lavagem de
automóveis (Teresa Guilherme chama-lhe car wash), uma pizzaria, um salão de
beleza e um género de alojamento local com pequeno-almoço incluído (ali chamam-lhe
bed & breakfast e até já teve direito à presença de um casal de chineses muito maus atores). E a voz que comanda os habitantes do Atrium é da tal mulher que se faz anunciar
com acordes típicos de um hipermercado.
É
claro que todo este cenário contemporâneo, multifuncional, colorido e
construído à escala de uma produção nacional que já viu mais dinheiro correr
pelo cano concorre para a finalidade de tudo se ver e ser visto – ou não se
tratasse de um verdadeiro reality-show.
Há câmaras em todo o lado, paredes de vidro e até uma piscina para os
empreendedores se banharem fora do horário de expediente. E que divertido foi
vê-los cozinhar pizzas, cortar cabelos e lavar um carro com os fatos, vestidos
e saltos altos tão práticos e elegantes com que desfilaram na estreia ao lado
de Teresa Guilherme...
A
apresentadora está como peixe na água e não tem rival na hora em que Bruno
Santos, diretor de programas da TVI, decide quem colocar à frente das câmaras.
É um valor seguro, mesmo que o público não esconda o cansaço de a ver sempre ao
comando dos reality-shows e no mesmo
registo baseado em trocadilhos sensaborões.
Atinjam
ou não o topo da tabela de resultados como gestores, os concorrentes famosos
podem ter a certeza de que darão muito dinheiro a ganhar aos anunciantes e à
TVI ao longo dos próximos três meses (ou mais), enquanto as audiências sintonizam
Biggest Deal na TVI e no TVIReality e
teclam na aplicação para telemóveis e tablets como se não houvesse amanhã.
O
formato que desde 2000 rompeu com os cânones da programação privada generalista
parece ter sete vidas na TVI, só que desta vez apenas 701 e 100 mil espectadores,
em média, assistiram à estreia. Biggest
Deal é sempre mais do mesmo, e se “tempo é dinheiro”, não vale muito a pena
perdê-lo neste programa.
Biggest Deal, para ver diariamente na TVI.
Duplo Clique - 94ª Edição
Por André Rosa
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