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Segunda Opinião | Ministério do Tempo

 
Ministério do Tempo é a nova grande aposta da RTP1 para o horário nobre de segunda-feira. O produto de ficção nacional estreou a 2 de janeiro e prometia ser “a melhor série de todos os tempos”. O trocadilho é evidente, a frase parece exagerada, mas Ministério do Tempo arrisca-se a ser, pelo menos, uma das melhores apostas do ano da estação pública.

Adaptada de um original espanhol com o mesmo nome, Ministério do Tempo é “o grande segredo do Estado Português”. Neste local, a patrulha composta por Salvador (António Capelo), Amélia (Mariana Monteiro), Afonso (João Craveiro), Tiago (Sisley Dias) e Irene (Andreia Dinis) irá viajar até ao passado. O objetivo é evitar que certos acontecimentos da História do nosso país não se realizem. Nuno Alvares Pereira, Camões, Afonso de Albuquerque, D. Afonso Henriques, Fernando Pessoa, Ribeirinho ou Vieira da Silva são alguns dos nomes com os quais se irão cruzar.

No primeiro episódio, percebemos que a ficção nacional está a procurar enveredar por um caminho diferente. Numa história que mistura factos históricos com momentos contemporâneos, a narrativa poderá parecer um pouco confusa ao início, mas rapidamente entramos no verdadeiro espírito do Ministério.


O guião peca por alguns diálogos menos bem conseguidos, mas a linha narrativa desenvolve-se da forma certa. Atento à veracidade e factos históricos relatados, não se exige de Ministério do Tempo um rigor histórico total – afinal trata-se de um produto de ficção –, embora este seja importante.

Na série, António Capelo é Salvador Martins, o secretário-geral do Ministério, e lidera um elenco composto por nomes sonantes, ainda que nem todos estejam habituados a protagonismos. No caso de Mariana Monteiro, presença assídua nas últimas apostas da RTP1, isso não é bem assim. No papel de Amélia Carvalho, a jovem atriz prova que evoluiu ao longo dos anos, e convence agora ao interpretar a primeira mulher que frequentou uma universidade em Portugal.

Sisley Dias, Luís Vicente, Andreia Diniz e João Craveiro têm também prestações de assinalar. A atriz ganha destaque numa série, depois de vários papéis mais apagados em novelas da SIC – embora tenha vindo sempre a demonstrar o seu inegável talento. Também Sara Barros Leitão e Filomena Cautela, mesmo com participações mais curtas neste episódio, demonstraram o porquê de serem consideradas duas das grandes revelações na representação nos últimos anos.
 

Tecnicamente, Ministério do Tempo não fica atrás do original. Embora siga quase à risca as ideias cénicas da série espanhola, a versão portuguesa tem momentos adaptados exclusivamente à nossa realidade. Todo o trabalho de efeitos especiais, sobretudo no uso de chroma key, acaba por convencer, mostrando que em Portugal também é possível fazer bons trabalhos do género com um orçamento reduzido.

A direção de fotografia de Denise Domingos é também um dos pontos altos da série, ao criar uma ambiência necessária. A realização de Bruno Cerveira e Paulo Rodrigues não é propriamente inovadora, limitando-se a cumprir o seu objetivo, com uma linguagem diferente das telenovelas e de outras séries portuguesas. Será por isso possível melhorar e arriscar mais no que toca às escolhas do realizador.


Ministério do Tempo tem tudo para resultar e mudar, definitivamente, o paradigma das séries nacionais exibidas pela estação pública. Para além de estar disponível na RTP Play, a aposta em grelha é agora diferente e o horário de exibição ajuda.

Com início pelas 21h08, logo após o Telejornal, a produção estreou em terceiro lugar no horário mas conseguiu melhorar – e muito – os resultados das estreias de séries da RTP em 2016. De facto, 558 mil telespetadores, em média, é um bom número, que terá tudo para melhorar e trazer novos públicos – sobretudo o mais jovem – aos ecrãs da televisão pública.

Segunda Opinião -  71ª Edição
Por André Pereira
Uma rubrica em parceria com o Diário da TV