Duplo Clique | "Cão que Ladra, Não Morde"
Estreou de forma pouco esfuziante a nova temporada da série policial Inspetor Max. Nem a cena de perigo inicial, com a encomenda armadilhada, foi suficiente para acelerar o ritmo cardíaco dos espetadores. As personagens principais estão lá, assim como o velho cão Max e a equipa de combate ao crime. Talvez a questão seja mesmo essa: a continuidade demasiado aborrecida em relação à segunda temporada.
A TVI quis jogar pelo seguro. Se, por um lado, a história do novo Inspetor Max respeita a passagem de alguns anos e reflete as mudanças profissionais, amorosas e familiares vividas pelas personagens, por outro, na sua lógica de episódios fechados com uma trama comum mais desenvolvida, peca pela monotonia em relação ao que já tinha mostrado.
Os (novos) filhos do inspetor Jorge Mendes (Fernando Luís) continuam a reclamar atenção com os pseudo-dramas próprios da idade, o avô João (Rui de Carvalho) continua a ser uma fonte de equilíbrio e moral familiar e o velho Max uma presença canina ternurenta.
A empregada Justina, substituída por uma nova personagem interpretada por Rita Salema, parece vir a ser o comic-relief dos dramas familiares e é, portanto, a nova mulher de Jorge, advogada, que terá um papel conflituoso e mais estimulante para o espetador, ao defender suspeitos comuns aos casos de polícia.
Inspetor Max mantém-se assim – e ainda bem – como uma série verdadeiramente familiar e para toda a família, ao refletir problemas da sociedade portuguesa. Isso interliga-se, de certa forma, com o crime que Jorge Mendes combate nas ruas, com a ajuda do filho Tiago (Isaac Alfaiate) e de uma nova equipa de inspetores.
Mas no episódio de estreia, o facto de toda a equipa ser destacada para a resolução do mesmo caso não pareceu, de todo, uma situação realista, tendo em conta a constante falta de meios humanos que afeta os organismos públicos e que obriga à distribuição dos profissionais por diferentes casos.
Se esse pormenor for desculpável, não o é, de certeza, a queda forçada (e risível) de Jorge e Tiago aquando da explosão no estacionamento da Polícia Judiciária de Setúbal. Está claro que a bomba não teria força suficiente para os projetar à distância sugerida pelas imagens.
A terceira temporada de Inspetor Max estreou, assim, longe do vigoroso ritmo das anteriores. Recordemos apenas o primeiro episódio da primeira temporada, com um assalto a um banco e imensa ação policial, para perceber como, em 2004, havia outro fôlego criativo (e orçamental) na produção da série.
O orçamento da nova temporada, provavelmente mais magro, reflete-se ainda nos décors: a nova casa da família Mendes, que era uma vivenda, parece que encolheu e as instalações da Judiciária mantêm os corredores monocromáticos e gabinetes de trabalho visualmente pouco ricos. Isso é visível, por exemplo, no laboratório forense, muito menos tecnológico até do que o da temporada anterior e do que seria de esperar numa produção de hoje em dia.
Por outro lado, o visual da paisagem urbana e marítima de Setúbal – onde decorrem as gravações – surge demasiado subaproveitado pela realização. A cidade aparece apenas numa sucessão de colagens de imagens, que não valoriza o ritmo de gentes e movimento que a carateriza, e com a mera função de assinalar a passagem do tempo entre as cenas.
Fiel à sua essência original, mas previsível na sucessão das peripécias e emocionalmente frouxo, assim se apresentou a nova temporada da série Inspetor Max, da TVI. Quando estrear oficialmente, no primeiro trimestre do novo ano, esperemos que se torne uma série em que o cão polícia “morda” mais e “ladre” menos.
Duplo Clique - 87ª Edição
Por André Rosa
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