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Segunda Opinião | A Peça Que Faltava


A Peça Que Faltava marca o regresso do teatro, em português, à nossa televisão. Porta Aberta e Perfeito Círculo Presente foram as duas primeiras peças exibidas, em setembro e outubro, respetivamente, na RTP2. O projeto é de louvar, mas será que alguém percebeu que ele tinha começado?

Tal como é habitual na RTP2, um dos grandes problemas na programação do canal público é a falta de divulgação da mesma. Sendo um canal onde a cultura marca presença em muitos formatos, na sua maioria em exibições únicas, as alterações nos horários e programas exibidos são, praticamente, diárias. Torna-se, por isso, complicado criar hábitos culturais junto dos telespetadores. A emissão de A Peça que Faltava é um exemplo disso mesmo.

Ao todo, serão seis espetáculos encenados propositadamente para serem gravados e exibidos na RTP2. Acontece que cada um deles tem uma duração aproximada de 30 minutos e o formato vai para o ar apenas uma vez por mês, aos sábados à noite. Num país em que este tipo de apostas não consegue vingar nas audiências, o facto de este não ser tratado da melhor maneira, não ajuda a que o mesmo consiga bons resultados.

Perdido na programação de sábado, sendo exibido pouco depois das 22h30, o programa não foi além dos 0,1% de audiência e 0,2% de share, na emissão do dia 22 de outubro. O serviço público foi cumprido, o espetáculo foi exibido... Mas será que vale a pena "abrir o pano" com a sala ainda vazia?

Nos últimos anos, o teatro como formato televisivo tem sido renegado. Excluindo alguns momentos excecionais, em que são exibidos musicais de Filipe La Féria e Revistas à Portuguesa , é raro assistirmos a peças de teatro no pequeno ecrã. Em 2009, a RTP1 estreou o programa Teatro em Casa, composto por 10 peças de teleteatro, ou seja, peças pensadas propositadamente para televisão. Mas, mais uma vez, foi um projeto que pretendia "retomar uma estratégia de proximidade da RTP com o Teatro em Portugal", segundo a própria estação, mas que caiu em esquecimento.

O que distingue A Peça que Faltava de outras produções do género é a ideia que lança o mote para os conteúdos escolhidos. Neste caso, temos criações de jovens portugueses, onde a performance e o teatro andam lado a lado, mostrando novas formas de representar num palco. Este é um teatro contemporâneo e alternativo, que é urgente levar até à televisão, para que chegue ao maior número de espetadores.

Lançado o projeto, é necessário fomentar tudo o que já foi mostrado. Depois destas seis emissões iniciais, espera-se que a RTP2 continue a mostrar A Peça que Faltava, talvez de uma forma regular (pedia-se uma exibição, pelo menos, quinzenal). Importa é mudar o dia e horário - porque não durante a semana, na faixa das 21h00? - para que chegue a um maior número de pessoas, sobretudo um público mais jovem.

Não se espera que A Peça que Faltava venha a ser líder de audiências. Sabemos que não, que (ainda) não é um formato de consumo fácil e rápido, que atraía as massas. Mas é inegável que todo o trabalho criativo deste programa - desde a encenação, à representação, passando pelos figurinos, cenários e pela própria realização e outros aspetos técnicos da gravação - acaba por resultar num produto muito bem conseguido, inovador, relevante, inspirador e artístico. Agora, falta apenas que o público percebe que o teleteatro está de volta à televisão portuguesa.

Segunda Opinião -  69ª Edição
Por André Pereira
Uma rubrica em parceria com o Diário da TV