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Duplo Clique | A Impostora - "Até já, Portugal"


Vivem-se tempos incríveis na história da ficção portuguesa, com a exibição de quatro séries temáticas diariamente na RTP e o reforço da produção de telenovelas nos canais privados. A Impostora, que estreou no domingo, é a bandeira com marca TVI/Plural que parece querer dar novos mundos ao mundo da ficção, com grandes elencos e cenas gravadas em destinos paradisíacos e emocionantes. Mas será que abandonar a portugalidade das nossas histórias é sinónimo de um produto melhor? 

A Impostora é a irmã mais nova de A Única Mulher. Ambas têm muito em comum e isso preocupa, apesar de o novo produto já estar gravado e não ser sujeito às modificações trágicas que ditaram a queda de popularidade de A Única Mulher. É esperar para ver. Certo é que a nova novela não convenceu absolutamente na estreia nem nos episódios que se seguiram. 

A ação de A Impostora decorre em demasiados locais – Lisboa, Porto, Maputo (Moçambique) e Santiago do Chile – e isso não facilita a compreensão da história e do nexo lógico das relações/ações entre as personagens. Cada cena de três minutos de diálogo é seguida de um “postal turístico” daqueles destinos, com imagens aéreas incríveis e planos quase cinematográficos, mas isso não garante o “sumo narrativo” da história nem a faz avançar – apenas a embeleza. 
 

A esta marca de superioridade (e exagero) visual junta-se o próprio tema da novela, que à partida é pouco identificável. Desta vez debate-se a sociedade cosmopolita, repleta de pecados e de virtudes, e no meio desse quadro social genérico e habitué das novelas, aborda-se o drama de uma mãe que é obrigada a fazer de tudo para salvar um filho e o de outra mulher que terá de ser capaz de a substituir. 

É mais uma história de irmãs gémeas idênticas (Dalila Carmo interpreta as duas personagens), envolvidas nas teias de quem as quer ajudar e prejudicar. A entrada de um maestro de ópera (Diogo Infante) e de uma cantora lírica (Joana Seixas) revela alguma novidade no meio das restantes personagens, recorrentes e estereotipadas. Já o fotojornalista de guerra (Diogo Amaral) serve a necessária reflexão sobre o drama atual dos conflitos e dos refugiados, em linha com a cena do desaparecimento do avião em pleno oceano.
 

Na promoção que fez à novela, a TVI prometeu uma sucessão de acontecimentos e desenlaces capazes de surpreender os espetadores, mas os dados lançados até agora parecem estar viciados. A verdade é que a matriz esquemática da novela não deixa grande margem para inovações, e por isso os autores/guionistas que ainda conseguem marcar a diferença são premiados (seja feita justiça à qualidade narrativa das recentes produções da SIC). 

A Impostora parece marcar definitivamente um rumo na ficção nacional produzida pela TVI. Uma ficção temporariamente afastada de Portugal e dos portugueses naquilo que mais os identifica: o bairrismo das pequenas e grandes cidades, os hábitos e os costumes; os dramas, desafios e oportunidades com que as pessoas se cruzam nas vidas que levam. Em A Impostora, Portugal não surge retratado em pleno, e por isso muitos espetadores podem não se identificar com a história. O público decide.

A Impostora, para ver de segunda a sexta, depois do Jornal das 8, na TVI. 

Duplo Clique - 82ª edição
Por André Rosa