Duplo Clique | "Sorriso Amarelo"
O novo programa de domingo à noite da SIC chama-se Smile, quer arrancar gargalhadas à audiência, mas só provoca bocejos. A atriz Diana Chaves torna a assumir o papel de apresentadora em horário-nobre e familiar, ao lado de João Paulo Sousa, e a dupla até funciona, mas quase que chega a cair no ridículo. Alguém reparou que um programa como este – que vai buscar combustível às redes sociais – não tem sequer página oficial no Facebook?
O conteúdo de Smile não é novo e
já foi explorado numa série de outros formatos do mesmo género,
anteriormente transmitidos pela SIC. Assim de repente, nenhuma marca de
qualidade distingue os programas Gosto Disto, Não Há Crise! e Tá a
Gravar sem serem os apresentadores, que terão feito o seu trabalho a
agradar a diferentes públicos.
A dupla que agora aparece na
televisão revela empatia e disposição para alinhar nas conversas e
comentários gozões, e divide os papéis quase em formato de stand-up. A
entrada de João Paulo Sousa como apresentador inesperado é que não
marcou nem pela diferença nem pelo humor. Diana Chaves é divertida e
oferece então contracena a João Paulo Sousa. Porém, tudo parece
demasiado: a conversa constante, as picardias em frente às câmaras e
sobretudo os emoticons criados pela produção, irritantes e que quase
chegam a roubar o protagonismo às caras da SIC.
A lógica de
entretenimento é tão simples e tão falível que torna Smile um programa
demasiado árido – porque o cómico de situação dos vídeos de quedas
aparatosas já não significa rir até às lágrimas, as montagens virais da
Internet estão ultrapassadas e mais que vistas e não é por um programa
mostrar episódios caricatos no enquadramento de um tablet que de repente
a televisão generalista se tornou o sítio onde os utilizadores digitais
querem estar. E assim, a aposta da SIC falha no primeiro nível desta
tentativa de (re)aproximar o público mais jovem da programação
sensaborona e agastada do domingo à noite.
Os espetadores
jovens, e sobretudo as crianças, provavelmente já nem sintonizam a
televisão na oferta portuguesa ao longo do dia, porque os talk-shows são
vistos pelos avós, os noticiários são sérios e aborrecidos e as novelas
“são sempre iguais”. Nesse cenário, é óbvio que tem de haver um esforço
muito maior por parte dos programadores, conscientes de que à partida
não têm margem para inovar muito nos géneros e na programação (porque as
pessoas não gostam daquilo que desconhecem), mas também têm de ir ao
encontro da sede de inovação que o público manifesta. Consumir programas
de televisão já não é um ato passivo em que o espetador se senta
comodamente à espera do que têm para lhe dar: as audiências têm poder de
veto na programação (mais na continuidade do que nos conteúdos) e se um
programa não conquistar audiências suficientes, sai da antena.
Smile foi gravado, para já, em seis episódios e ao que parece o canal
ponderou produzir novos capítulos de 45 minutos caso os resultados o
justifiquem. É esperar para ver. A televisão vive de emoções – e um
programa que se chama “sorriso”, quer provocar gargalhadas e só consegue
esboçar um sorriso amarelo na cara dos espectadores, fica aparentemente
aquém daquilo a que se propôs: entreter o público.
Smile, para ver ao domingo à noite depois do Jornal da Noite, na SIC.
Duplo Clique - 81ª edição
Uma crónica de André Rosa
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