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Segunda Opinião | "Aqui Tão Longe: uma questão de proximidade"



A RTP1 estreou, no final de março de 2016, a série diária Aqui Tão Longe. Esta nova produção, composta por 32 episódios, veio substituir Bem-Vindos a Beirais no horário nobre da estação pública. Diferente da sua antecessora, a história parece não ter cativado os telespetadores e mantém-se – injustamente - à deriva nas noites do horário nobre da RTP.

À semelhança do que aconteceu com Terapia, que passou igualmente despercebida nas noites do primeiro canal, esta série tem antestreia diária no RTP Play. À noite, regista habitualmente menos de um quarto da audiência das novelas da SIC e da TVI. Segundo Nuno Artur Silva, em declarações ao Espalha-Factos, “não é tão importante dar audiências à RTP1, é importante que vejam a série quando quiserem e no suporte que quiserem”. Mas valerá a pena fazer ficção se ninguém a verá?

As grandes questões que se colocam são aquelas que tentam explicar o porquê desta rejeição do público. Será esta uma má história? O elenco de Aqui Tão Longe não convence? Estarão as pessoas demasiado presas ao formato de telenovela? Ou o horário inconstante é também um dos fatores para o fracasso? Mas se tentarmos responder a cada uma delas, rapidamente poderemos tirar algumas conclusões.

No que respeita à história, a ideia inicial é boa, mas a concretização podia ter sido melhor. O terrorismo dá o mote para a ação da série e depois juntam-se as várias histórias e dramas das personagens, com uma família disfuncional como pano de fundo. Inicialmente poderemos achar que o guião é estranho e um pouco desadequado à ação. É essa estranheza que nos deixa reticentes e a duvidar da veracidade dos diálogos.


Se normalmente dizemos que “primeiro estranha-se, depois estranha-se”, no caso de Aqui Tão Longe custa um bocado até “entranharmos” na história e na vida das personagens. Existem saltos temporais, típicos de uma série, mas que neste caso causam algum incómodo para quem vê. Não vemos o desenvolvimento das relações ou até mesmo a evolução de uma personagem e por isso acabamos por nos sentir “traídos” e, mais uma vez, custa-nos a acreditar que aquilo aconteceu assim tão rápido. Contudo, a escrita de Filipe Homem Fonseca, Nuno Duarte, Pedro Goulão, Luís Filipe Borges e Tiago R. Santos não é má, longe disso. É até um guião bastante original e diferente do que estamos habituados. A série acaba por ser uma lufada de ar fresco na televisão portuguesa e um oásis no meio da meia-dúzia de novelas que a concorrência nos apresenta.

Segunda questão colocada: o elenco. Aos grandes nomes da ficção portuguesa – como Rui Mendes ou Margarida Carpinteiro – juntam-se novos talentos da representação. No geral, os atores do elenco fixo são credíveis e conseguem desempenhar convenientemente as suas personagens. Exceção para o jovem Rodrigo Antunes, que no papel de Pedro não convence totalmente. Já os atores principais, José Mata e Filipa Areosa, provam que são dos melhores da sua geração, com destaque claro para o protagonista masculino, que se tem mostrado uma das grandes revelações da televisão e cinema em Portugal.

As restantes questões colocadas têm uma resposta simples: sim, para todas elas. As pessoas estão demasiado habituadas ao formato telenovela e torna-se complicado deixar de o fazer para ver uma série de curta duração. Por outro lado, os horários inconstantes dos vários programas de horário nobre da RTP não ajudam. Por isso mesmo, a maioria do público que quer realmente ver Aqui Tão Longe  grava ou assiste no site da RTP.

A aposta nesta e noutras séries portuguesas tem como objetivo a “diversificação dos géneros de ficção, saindo do género dominante e praticamente totalitário neste momento, que é a telenovela“, explica Nuno Artur Silva. A ideia é certeira e digna do verdadeiro serviço público, mas é necessário que o telespetador acompanhe a tendência e dê sentido à produção destas séries. Ainda assim é possível que daqui a algum tempo, e com a aposta contínua neste género de ficção, se comecem a obter resultados mais positivos.

Segunda Opinião - Edição 58
André Pereira

 Texto escrito pelo Fantastic em parceria com o Diário da TV