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"Nem tanto ao mar, nem tanto à terra". Estreou Rainha das Flores, a nova telenovela de horário nobre da SIC, plantada como uma flor no terreno das mal amadas Poderosas. Depois do peixe de Setúbal e dos vinhos do Douro, parece que são os campos floridos de Santarém a dar cor a mais uma narrativa da vida real durante os próximos meses.

O que é que Rainha das Flores traz de extraordinariamente novo à ficção nacional, comparando-se com Mar Salgado, Coração d' Ouro e até com qualquer outra novela da concorrência? Provavelmente, muito pouco. Porque em matéria de ficção já foi tudo feito, inventado e reescrito, qualquer nova telenovela portuguesa pode parecer um espelho das anteriores em forma e conteúdo (salvo algumas exceções).


E a história principal das irmãs Rosa (Sandra Barata Belo) e Narcisa (Isabel Abreu), na verdade, "já tem barbas". Ou os espetadores nunca viram uma mulher perder a memória por causa de um acidente grave, e a sua irmã querer "roubar-lhe" a família, a riqueza, o estatuto, ou seja, a vida que nunca teve? De vítimas desmemoriadas está a ficção nacional cheia, e não é preciso nenhum esforço de memória para recordar exemplos concretos de como as famosas amnésias mexem com os enredos.

As histórias podem não oferecer novidade, mas se há facto que continua a merecer elogios, é a evolução técnica das produções. A maneira de gravar novelas não é a mesma de há 20 anos e hoje o trabalho de realização, cenografia e iluminação está ao nível do que se faz na indústria internacional. Nas produções da SP Televisão para a SIC nota-se o realismo da luz e o ritmo da montagem, e Rainha das Flores não é uma exceção neste caso.


A par da sofisticação técnica e da exibição melhorada dos generalistas (que finalmente emitem em 16:9 e se preparam para a alta definição), a qualidade e diversidade dos elencos de atores é outro dos pontos fortes de uma indústria que é já experiente mas não deixa de ser pequena. Rainha das Flores reúne um elenco de primeira-linha, com caras habitués da SIC, e a verdade é que o primeiro episódio foi tomado pela interpretação dramática de Isabel Abreu.

As flores ainda mal abriram, mas já se percebeu como esta também pode ser uma oportunidade para Luís Garcia, por sua vez, amadurecer como ator, depois de uma prestação pouco memorável como protagonista de uma das temporadas de Morangos com Açúcar, da TVI. E quem diz o ex-moranguito, diz José Condessa, outro talento em crescendo que se mudou da mina de Queluz de Baixo para Carnaxide – tal como de resto fez Marco Delgado, que agora dá vida ao médico Marcelo.


Rainha das Flores vai em breve substituir Poderosas, e enquanto isso não acontece, entra em antena em intervalos, assim como quem diz "se vê Coração d'Ouro, esta nova história é tão boa que nem vai notar que é diferente". 

A primavera ainda mal começou, estando por apurar se os portugueses vão confirmar o trono, ou não, desta rainha das flores. Um milhão e 500 mil espetadores quiseram conhecer a história, e por isso uma coisa é certa: pétala a pétala, a ficção portuguesa vai mostrando vitalidade.

Rainha das Flores, para ver de segunda a sexta-feira, às 22h, na SIC.

Duplo Clique - 78ª Edição
Uma crónica de André Rosa