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Óscares 2016. A noite em que DiCaprio falou mais alto



A 88ª edição dos Óscares, os prémios mais importantes do mundo na área do Cinema, decorreu na noite de 28 de fevereiro, no Dolby Theatre, em Los Angeles, Califórnia. Pela passadeira vermelha passaram os atores, realizadores, argumentistas e técnicos da indústria, na esperança de conquistar um lugar na história do Cinema. Leonardo DiCaprio foi o protagonista da noite, marcada pelo discurso de Chris Rock sobre a polémica #OscarsSoWhite. 

Num ano de controvérsia devido à alegada falta de diversidade proclamada por Jada Pinkett-Smith e outros nomes do mundo do Cinema, a cerimónia contou com um apresentador negro como anfitrião dos Óscares. Chris Rock, que já tinha desempenhado muito bem o papel em 2005, conseguiu melhorar a fraca prestação de Neil Patrick Harris no ano passado. A referência à polémica, conhecida nas redes sociais como #OscarsSoWhite, não aconteceu só durante o monólogo inicial, mas durante toda a cerimónia. E embora as piadas tenham feito todo o sentido, a repetição quase exaustiva deste tema poderá ter-se tornado maçadora para muitos dos espetadores. 

Piadas sobre discriminação racial à parte, Rock teve vários momentos altos. Alertou para o sexismo nas duas categorias de representação que separam os atores pelo seu género e outro que envolveu a sua filha. Enquanto que, em 2014, Ellen deu pizzas, este ano Rock vendeu bolachas. “Leo, ganhaste 30 milhões de dólares, anda lá!”, incentivou Chris Rock ao tentar fazer negócio com os milionários sentados na plateia. O objetivo era fazer o máximo de dinheiro possível para que as filhas conseguissem ajudar meninas carenciadas americanas e estrangeiras que vivem nos EUA. O resultado foi impressionante: 65.342 dólares.

 

E o Óscar de Melhor Realizador vai para… Glenn Weiss

A nível técnico, importa destacar a qualidade de produção e realização desta gala, claramente superior aos anos anteriores e com muitos pontos inovadores. Glenn Weiss, o realizador responsável pela cerimónia, mostrou que é possível fazer diferente, mudando apenas alguns detalhes, como a cenografia e os movimentos de câmara que acompanharam os atores na introdução das categorias. Exemplo perfeito foi o momento em que Cate Blanchett subiu ao palco para anunciar os nomeados para Melhor Guarda-Roupa.

Quanto à emissão portuguesa dos Óscares, a SIC voltou a apostar em Sílvia Lima Rato e João Lopes como comentadores. A dupla não agradou a todos e um dos pontos negativos diz respeito ao facto de anunciarem as suas apostas para os vencedores antes de estes serem revelados, algo que não tinha acontecido no ano passado e que, de certa forma, estragou o suspense a quem assistia ao programa. Ainda assim, os comentadores mostraram-se contidos, cingindo os comentários ao que era estritamente necessário e deixando a maior parte das curiosidades e factos sobre os Óscares para o rodapé da SIC. Apesar de incomodar a maioria dos fãs da cerimónia que não necessitam da tradução, esta opção é compreensível para a emissão num canal aberto. 

Para aqueles que tinham acesso à SIC Caras, a cerimónia foi emitida sem qualquer tipo de comentários. Aqui, apenas Maria Botelho Moniz conduziu a emissão, surgindo nos intervalos para nos atualizar com as curiosidades nas redes sociais. A apresentadora acaba por ser o ponto positivo destas intervenções, mostrando que tem carisma para atrair o público, mesmo quando o conteúdo não é o mais interessante. Tecnicamente, estes momentos poderiam estar bem mais interessantes, sobretudo visualmente, pois passar a noite toda a olhar para um pequeno ecrã de computador na redação da Caras não foi a melhor opção.

 

Gaga não levou o Óscar, mas ganhou a noite

Vamos aos prémios. Os vencedores mais sonantes não foram surpresa. Writings on the Wall, de Sam Smith, que se pôde ouvir no filme Spectre, foi considerada a Melhor Canção Original de 2016, fazendo com que a saga 007 conquistasse o seu quinto Óscar (o segundo nesta categoria, depois de Adele ter levado para casa o mesmo galardão em 2013). Apesar da vitória, Smith teve a atuação menos impressionante da noite. Já Lady Gaga, que de cerimónia em cerimónia continua a surpreender, foi responsável por um dos momentos altos, ao cantar a nomeada Till It Happens to You, levando consigo para palco algumas vítimas de abusos sexuais. Excluídas da cerimónia ficaram as brilhantes Simple Song #3, de Youth, e Manta Ray, de Racing Extinction, por restrições de tempo (segundo a Academia). Uma desculpa muito triste que já não é novidade, sobretudo num ano em que Cheryl Boone Isaacs, Presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, respondeu às críticas com promessas de incluir mais diversidade nos membros e votantes da mesma.

O tributo de Asif Kapadia e James Gay-Rgvghees a Amy Winehouse arrebatou o último prémio que lhe faltava na categoria de Melhor Documentário. Por sua vez, o troféu de Melhor Banda Sonora Original foi para Os Oito Odiados de Quentin Tarantino. Após cinco nomeações em filmes de realizadores como Brian DePalma ou Terrence Malick, o lendário Ennio Morricone foi finalmente premiado com o seu primeiro Óscar atribuído em competição, visto que já lhe tinha sido atribuído em 2007 um Óscar Honorário pelo seu contributo para a cinematografia mundial.

 

Spotlight, DiCaprio, Iñarritu, e Mad Max: os protagonistas da noite

Nas categorias de representação, houve quatro vencedores estreantes. A it-girl Alicia Vikander acabou por conquistar meritoriamente o seu primeiro Óscar em A Rapariga Dinamarquesa, como Atriz Secundária, tal como a revelação Brie Larson na categoria de Melhor Atriz Principal, com  Quarto. Mark Rylance (que já tinha levado o BAFTA), venceu também o seu primeiro Óscar com Ponte dos Espiões, de Steven Spielberg, e Leonardo DiCaprio, um dos melhores atores na indústria, confirmou o favoritismo vencendo o prémio de Melhor Ator Principal com O Renascido e prometendo, no seu discurso, não se acomodar ao Óscar que tantos anos tardou em chegar. Fora da lista dos nomeados ficou, injustamente, o pequeno ator Jacob Trambley, protagonista de Quarto. Ainda assim, a estrela de 9 anos foi responsável por alguns dos momentos mais ternurentos e divertidos da gala.

Nas categorias técnicas, o blockbuster Mad Max – Fury Road arrecadou seis prémios, nas categorias de  Mistura Sonora, Edição de Som, Efeitos Visuais, Guarda-Roupa, Direção Artística e Caracterização, tornando-se no vencedor com mais estatuetas este ano. Enquanto isso, O Renascido, apesar de derrotado, conseguiu levar para casa três dos prémios mais cobiçados da noite. Emmanuel Lubezki arrecadou pelo terceiro ano consecutivo o galardão de Melhor Cinematografia, na película de um conterrâneo mexicano (depois de Gravity, de Cuarón, e Birdman de Iñárritu); Alejandro Iñárritu fez história por ser o terceiro realizador a vencer o segundo Óscar consecutivo por Melhor Realização; e o já referido Leonardo DiCaprio quebrou a Internet com o momento dos Óscares mais comentado de sempre no Twitter. 

O grande vencedor da noite foi mesmo O Caso Spotlight, a história sobre o trabalho de investigação de quatro jornalistas que denunciaram casos de pedofilia praticados por vários padres de Boston. O filme tinha como forte concorrente O Renascido, que havia vencido o BAFTA e o Golden Globe para Melhor Filme. No entanto, foi mesmo a Academia dos Críticos (Critics Choice Movie Awards) e a Academia dos Atores (Screen Guild Awards) que acabaram por acertar. O Caso Spotlight abriu a noite com mérito ao vencer o Óscar de Melhor Argumento Original, e fez as honras do fecho, entrando para a história dos Óscares e do Cinema com o prémio mais importante, o de Melhor Filme.

Óscares 2016
Texto: Rita Pereira e André Pereira
Revisão: André Rosa