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Duplo Clique | "Ou cantas ou danças"


Got Talent Portugal soma e segue na RTP em busca de outro grande talento nacional. O concurso chegou aos diretos com uma apresentação competente e tem tudo para continuar a merecer a preferência dos portugueses ao domingo à noite, por mérito próprio e por ter o caminho facilitado pelos concorrentes privados. Cantando e dançando, assim se distrai o país.

A dimensão do espetáculo televisivo é amplamente conseguida pelas atuações que acontecem no palco e pela produção da RTP e da FremantleMedia. Quanto à apresentação, reconhece-se o profissionalismo com que José Pedro Vasconcelos e Vanessa Oliveira guiam o programa. É o apresentador que melhor introduz a palavra dos jurados e improvisa as conversas entre atuações, cumprindo os timings do alinhamento. Vanessa Oliveira, apesar dos nervos, mostrou-se à altura do desafio na sua estreia em direto no horário nobre, e daqui para a frente deverá brilhar ainda mais, com a sua espontaneidade e carisma.
 
Fotografias: Rui de Oliveira/FremantleMedia

O protagonista da estreia foi, curiosamente, Manuel Moura dos Santos: sem pudores em expressar a sua opinião, incisivo e polémico. O jurado "ditou" mesmo que concorrentes não passariam à final (já se sabia quais eram, mas isso não tinha de lhes ser dito diretamente), e continuou a duvidar do potencial de certas atuações. Manuel Moura dos Santos não está no programa para fazer fretes, e mostra-se blindado perante os assobios do público descontente – o mesmo público que o elegeu na aplicação do programa como o jurado mais justo. Ironia ou reconhecimento? As apreciações que fez foram subindo de nível ao longo da noite e certamente estimularam as audiências.
  
Divertida e inesperada foi a sua subida ao palco para contracenar com o ventríloquo João Seabra num número com o macaco Sidónio - aí, Moura dos Santos mostrou fair-play e boa disposição. Menos engraçado e mais constrangedor foi a eleição das meias de José Pedro Vasconcelos como a peça de roupa mais surpreendente vestida em estúdio. Pergunta de mau gosto para um programa de tanta classe. Foi renovado o convite ao comentário em tempo real através da hashtag #GotTalentPT, mas a RTP ainda não percebeu que é necessário mostrar o feedback das redes sociais em direto num ecrã...

Fotografias: Rui de Oliveira/FremantleMedia
Agora, o busílis da questão: "competição é competição", lembrou o temido manager musical. E porque o sistema de voto telefónico delega no público, a palavra final no apuramento dos finalistas, o facto da jovem cantora Micaela ter passado automaticamente à final não representa um espanto. Está à vista que os portugueses só conhecem e reconhecem a dança e o canto como manifestações artísticas de relevo e merecedoras de prémios (porque será que anualmente se produzem temporadas e temporadas de Ídolos e Achas que Sabes Dançar?, mesmo que sejam buracos-negros nas audiências?).
 
Com efeito, e alguma previsibilidade, os preferidos do público deverão ser aqueles que melhor dançam e cantam. Os jurados não tomaram a decisão de ânimo leve, mas acabaram por escolher o par de excecionais bailarinos como finalistas. Falta ecletismo como critério nas tomadas de decisão. Assim se percebe como pessoas como Ricardo Paz, acrobata de mastro chinês (técnica centenária e tradicional do circo chinês), mal têm espaço para brilhar na televisão e se mantêm longe dos horizontes dos portugueses.

Fotografias: Rui de Oliveira/FremantleMedia

Got Talent Portugal continua a ser, ainda assim e com justiça, o melhor programa de grande entretenimento da televisão portuguesa, exibido por estes dias. Uma garantia de visibilidade para todos os que se esforçam no anonimato poderem agora mostrar ao país o seu engenho e arte, nem que seja por uns minutos. Só por isso, a RTP tem talento e está de parabéns. 

Got Talent Portugal, para ver aos domingos, às 21h15, na RTP.

Duplo Clique - 74ª edição
Uma crónica de André Rosa