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“Isto só visto!”, poderia dizer qualquer espetador deparando-se com mais uma mudança na programação da RTP. “Então não é que o magazine Só Visto! mudou de nome? Agora chama-se Sociedade Recreativa!”. É verdade, mais uma experiência da direção de programas, traduzida, no fim de contas, numa recauchutagem gráfica e visual. O magazine de atualidade mantém com os mesmos conteúdos, mostrando o que se passa no cinema, teatro, televisão e outras áreas socioculturais do país. E enquanto à mesma hora, na concorrência, desfilam as iguarias típicas e as bailarinas seminuas, a RTP marca pontos.
O termo “recreativo” significa algo que “recreia, diverte e dá prazer”. Assim se explica a escolha do nome Sociedade Recreativa, que na sua primeira leitura causa estranheza. O título do magazine remete para um ambiente comunitário – um salão de jogos, um bar e uma zona de estar – no qual todos se conhecem e onde se comenta o que se passa na sociedade. Foi aí que a RTP quis chegar.
E um dos trunfos é o leque de apresentadoras. Sílvia Alberto, considerada uma das melhores profissionais da televisão portuguesa, revela cada vez mais o seu espírito descontraído em televisão, domina os diferentes registos com mestria e cativa genuinamente o público. A ela se juntam as repórteres Jani Gabriel, Teresa Peres e Rita De La Rochezoire, uma apresentadora quase camaleónica na forma como adapta o seu tom e postura aos diferentes ambientes de entrevista e reportagem.
O magazine cultural do início das tardes de domingo da RTP estrutura os espisódios numa entrevista central (conduzida por Sílvia Alberto), que é habilmente interrompida para dar lugar às rubricas e reportagens. O facto de o grafismo não inserir segmentos do género “Já a seguir, não perca” é um ponto positivo, tornando mais fluidas as interrupções, sem que o programa perca ritmo.
A nova roupagem estética é, portanto, a alteração mais visível desta transição do Só Visto! para o Sociedade Recreativa. Na origem da decisão de mudança poderá ter estado a importância daquilo que os espetadores veem, o que na maioria das vezes, uma vez repensado, permite apresentar o mesmo conteúdo de uma forma alegadamente diferente e atrativa. Ainda que a diferença não seja um elemento predominante na génese deste magazine – que na sua lógica e estrutura já foi replicada em todos os canais –, a verdade é que, face ao programa anterior, Sociedade Recreativa pode parecer mais convidativo.
Debatendo-se com um horário ingrato para exibir este género de programa, que está nos antípodas daquilo que são o exagero visual e a imoralidade dos arraiais populares, a RTP não lidera audiências, mas cumpre, como lhe compete, a missão de serviço público. Sociedade Recreativa procura ser o espaço televisivo onde os portugueses se reúnem para saber o que de melhor se vai fazendo nas artes em Portugal. Só visto!
Sociedade Recreativa, para ver aos domingos, às 14h15, na RTP.
Duplo Clique - Edição 69
Uma crónica de André Rosa
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