[Cinema] 007: Spectre - Crítica
Os tentáculos de 007: Spectre já chegaram a Portugal e não fizeram esperar a sua influência junto do público: mais de 140 mil espetadores viram o 24º novo capítulo de ação e espionagem no primeiro fim de semana de exibição, o que perfaz a melhor estreia de sempre da saga em Portugal.
007: Spectre traz de novo aos cinemas a figura do agente (pouco) secreto James Bond, interpretado por Daniel Craig, e o realizador inglês Sam Mendes. Não são apenas eles que aquecem de novo o lugar nesta produção megalómana do cinema, mas são indiscutivelmente quem mais dá a cara pela nova história da saga. E desta vez, James Bond tem a seu cargo uma missão que não podia ser outra coisa senão arriscada: travar uma organização terrorista que opera através de um novo sistema de segurança e controlo com ambições mundiais, enquanto os serviços secretos britânicos fazem tudo para desmantelar o MI6.
O argumento é moderno e pertinente na forma como expõe os potenciais perigos do avanço tecnológico em matéria de segurança – a dos países, dos cidadãos e do mundo. O desenvolvimento de novos modelos de inteligência e análise de dados tanto pode ter fins benéficos e responsáveis como fins malévolos e destrutivos. A própria narrativa não assenta no “jogo do gato e do rato”: Bond tem de seguir várias pistas em viagens de luxo por todo o mundo, durante as quais se cruza com as restantes personagens, do vilão às mulheres capazes de lhe tirar o fôlego. As dinâmicas são variadas.
A sede de poder surge retratada com Tanner (Rory Kinnear), que ascende dentro do IM6, e o delírio do vilão Blofeld (Christoph Waltz) percebe-se perfeitamente conforme a velha ideia de domínio do mundo. Apesar destas premissas parecerem algo infantis, podendo tornar o antagonista uma personagem impulsiva e psicologicamente pouco densa, em 007: Spectre Blofed apresenta-se num contexto mais sofisticado, com ações maduras e premeditadas.
Bond, por sua vez, confirma o estatuto de agente secreto mais
insubordinado de sempre perante as diretivas do IM6. Daniel Craig
oferece ao espetador um James Bond com cara de poucos amigos, destemido e
ágil; e simultaneamente mais humano, quase sensível, perante as
seduções femininas em que se deixa envolver. Como se houvesse dúvidas,
reforça que o papel de Bond, James Bond, lhe estava destinado – é que
além de o ator desempenhar excelentemente a personagem, também
personifica um dos ícones máximos da elegância e virilidade (cujos bens e
estilo de vida muitos homens não se coíbem de gabar).
A realização de Sam Mendes atinge um novo patamar de espetacularidade
cinematográfica. Basta a abertura do filme acontecer com um
plano-sequência na Cidade do México, durante as festividades do Dia dos
Mortos, para o espetador perceber que a fasquia elevada não deverá
baixar. A partir daí, desenrolam-se cenas de ação a um ritmo frenético e
com uma edição exímia, ancoradas numa banda sonora ribombante (composta
por Thomas Newman), cujos acordos caraterísticos do tema de 007 fazem
arrepiar a pele do espetador.
O filme é produzido por Barbara Broccoli e co-produzido por Daniel
Craig. Como filme de ação assumidamente vocacionado para o grande
público (e por isso comercial e um dos mais caros – e rentáveis – de
sempre), 007: Spectre preenche todos os requisitos: tem perseguições a
alta velocidade em automóveis de luxo, combates corpo a corpo de uma
brutalidade desumana e outras sequências de grande aparato visual com
explosões e destruição. O facto de existirem cenas de ação
cinematograficamente favorecidas e por isso inverosímeis na forma como
acontecem, não belisca a coerência e nível de realismo dos outros
elementos do filme. O espetador sabe que Bond talvez nunca sobrevivesse a
certa derrocada, escapando com o fato e até o nó da gravata intactos,
mas também sabe que um filme de 007 precisa disso para fazer jus ao que
se espera.
007: Spectre confirma, com efeito, que a temática da espionagem
mundial ainda é fonte inesgotável de argumentos cinematográficos. Sam
Mendes, Barbara Broccoli e Daniel Craig compõem uma equipa de
profissionais acreditados, ao produzir o 24º filme de 007 atingindo
receitas de bilheteira de 73 milhões de dólares nos Estados Unidos e
quase 800 mil euros em Portugal.
Os tentáculos da organização
Spectre prometem manter-se por longas semanas no TOP dos filmes mais
vistos. Vale a pena ver. Até lá, fique com o trailer.
Photos by Jonathan Olley - © SPECTRE2015 Metro-Goldwyn-Mayer
Studios Inc., Danjaq, LLC and Columbia Pictures Industries, Inc. All
rights reserved.
Uma crítica de André Rosa
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