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Duplo Clique | "The Voice: a televisão que se ouve"


The Voice Portugal está de regresso à RTP. Não é uma novidade, mas é um excelente entretenimento. Entretém com algumas nuances melodramáticas, mas afasta-se da concorrência. Procura “a voz” de Portugal com o tom certo, em vez de mostrar castings pouco cómicos. A RTP prova que ainda é possível produzir boas horas de televisão.


A aposta do canal público é previsível e confortável, feita numa tentativa de manter o histórico de bons resultados das temporadas anteriores. A avaliar pela estreia, as vozes estão bem afinadas: 1 milhão e 170 mil pessoas, em média, deram à RTP a vitória no horário, apertando o cerco à herdade e à Quinta.
 

O programa tenta marcar a diferença, apesar de não resistir a certos clichés próprios do género (muitos deles verbalizados por quem aparece no programa, e não tanto construídos pela produção). Isso nota-se nas “frases feitas” ditas tanto pelos concorrentes como pelos jurados – qualquer coisa como “perseguir o sonho” e “a música é a minha vida” –, e nalguns trechos narrativos desnecessários em que os concorrentes contam histórias familiares dramáticas. Analisando a questão friamente, o que é que interessa se o pai de tal rapariga tem uma doença grave? Muito pouco, pois não deverá ser pela solidariedade emocional que os espetadores devem identificar-se com uma ou outra voz, mas sim pelos seus dotes vocais. E logo aí o formato marca pontos.


The Voice Portugal é o programa das “provas cegas”. Quem está “às cegas” são os jurados/mentores, sentados de costas e com o ouvido apurado. O sistema de aprovação é desde logo mais justo e faz acreditar, por momentos, que na indústria da televisão a aparência dos concorrentes pode não ser uma sentença. Mas não há que esquecer a inevitável triagem de candidatos feita pela produção, que procura os rostos mais telegénicos e as histórias mais apaixonantes – essa continua a ser a moeda corrente, quase sempre mais valiosa que o verdadeiro talento.


Anselmo Ralph, Aurea, Marisa Liz e Mickael Carreira sabem muito bem qual é o poder da imagem e apresentam-se de forma inconfundível. O novo elemento é a cantora Aurea, que até agora não tinha participado em nenhum talent-show televisivo como jurada. Fez bem em aceitar. Os quatro cantores acabam por conseguir esbater as diferenças ou, pelo menos, parte dos preconceitos em relação aos seus estilos de música, lembrando que a música, enquanto forma de expressão universal, não vive de cânones elitistas, mas sim das emoções que desperta nos ouvintes.


Não menos importantes são os apresentadores que, neste género de programas, costumam ter uma presença menos esfuziante. Vasco Palmeirim tem o perfil certo para as entrevistas breves e bem-dispostas dos bastidores, assim como Catarina Furtado é uma profissional mais do que legítima para conduzir programas deste calibre. Contudo, não deixam de parecer os psicólogos de serviço, tendo de lidar com as emoções dos concorrentes.

 

The Voice Portugal já marcou o compasso à oferta da televisão portuguesa, pontuada pelo bom gosto e ecletismo da RTP. É o tipo de entretenimento que vale a pena ver e ouvir.

The Voice Portugal, para ver aos domingos, às 21h10, na RTP.

Duplo Clique - Edição 67
Uma crónica de André Rosa