Fantastic Entrevista | Marta Faial
FANTASTIC ENTREVISTA
TEMPORADA 8 / EDIÇÃO 3 / JULHO DE 2015
1. Marta Faial. O universo mediático foi conhecendo o seu nome, primeiro graças ao seu trabalho como modelo. Mas é com a participação em Morangos com Açúcar que inicia a sua carreira na representação. Como surgiu esta oportunidade?
Foi um acaso... Por volta dos meus 16 anos comecei a procura de trabalhos de verão para poder ter a minha independência financeira e para não sobrecarregar os meus pais. Assim sendo, inscrevi-me em várias agências e fui a vários castings de publicidade/moda e um dia surgiu um para TV, o casting para a série Morangos com Açúcar. Infelizmente ao fim de duas horas perdida por Lisboa por me terem dado a morada incorrecta,desisti e vim embora. Uma semana depois recebo uma chamada de outra agência para esse mesmo casting para a série 3 e é aí que começa a minha experiência como atriz. Fui bastante descontraída porque achava que não ia encontrar o sítio correto de novo e porque achava também que não ia ficar, mas fui selecionada para as várias fases de casting e acabei por fazer parte do elenco principal da série 3 de Morangos com Açúcar.
2. A entrada no elenco da terceira série de Morangos com
Açúcar abriu as portas da representação. Antes da série, que
outras experiências tinha tido, dentro e fora do ecrã?
Fiz
tanta coisa... Como fiz menção na primeira pergunta, eu quis a minha
independência financeira cedo e para que isso acontecesse comecei a
trabalhar um pouco por todo o lado, distribui papéis para marcas, fui
hospedeira de eventos como a Volta a Portugal em Bicicleta, entre
outros. Trabalhei durante anos em restaurantes, bengaleiros, bares, em
simultâneo com a área de TV e moda. Nesta área fiz publicidade, trabalhos de
moda (sempre mais relacionados com fotografia) e uns poucos
desfiles. Cheguei a fazer a Moda Lisboa ainda muito novinha, mas nunca me
identifiquei com o a profissão de manequim, nem nunca tive altura para
tal.
Marta Faial e Tiago Castro em "Morangos com Açúcar - Férias de Verão 3" |
3. É filha de Ana Marta Faial, reconhecida modelo angolana. De que forma este facto a ajudou a lidar melhor com a fama?
O facto da minha mãe ter sido uma manequim com uma carreira fantástica e muito marcante em Portugal fez com que eu tivesse acesso a um mundo que talvez não seja muito comum para uma criança, muito mais ainda porque o meu pai também era gerente de vários restaurantes, bares e discotecas que eram muito badalados na altura. Muito cedo, e sempre colada à minha mãe por ser muito pequenina, tive através da Moda Lisboa, a Fil ,a Portex e outros eventos importantes de moda na altura, acesso a atores, manequins, estilistas, fotógrafos, cabeleireiros, figuras públicas e aquilo pelo que me apaixonei desde então, os bastidores. Quando começou a haver uma maior exposição por parte dos média e da TV pelo sucesso da série 3 de Morangos com Açúcar não houve tempo para deslumbramentos ou algo desse género. Já conhecia o meio e a minha única preocupação era fazer o melhor trabalho que podia, visto ser a primeira experiência como atriz.
4. Em Portugal, participou também em Rebelde Way, da SIC, no papel de Jamila. Como foi voltar a trabalhar com um elenco jovem?
Qualquer personagem que nos seja entregue, quer num elenco juvenil, quer num elenco mais adulto é uma experiência muito gratificante, é sempre um desafio e eu acho que um ator vive muito de desafios. A única diferença em relação a outros projetos é que sendo eu também ainda jovem na altura foi mais fácil enturmar-me!
No videoclip Intensamente Estúpida d'O Martim
5. Além da televisão, surgiu recentemente no videoclip Intensamente Estúpida, d’O Martim. É um género de produção em que gostaria de fazer mais trabalhos?
No que diz respeito a videoclips, este não é o primeiro, já fiz alguns. E gosto bastante, encaro um videoclip como uma pequena curta metragem, vejo como uma história com princípio, meio e fim, com personagens. Acabo por representar e criar algo que é o que gosto de fazer.
6. Foi estudar representação para Nova Iorque, nos EUA. Que vivências trouxe de lá?
Senti a necessidade de ir para Nova Iorque para conhecer e estudar novos métodos de representação. Já tinha frequentado escolas e workshops em Portugal, que gostei bastante. Mas foi na escola onde estudei, William Esper Studio, que encontrei um método que se adequava mais às necessidades enquanto atriz. Cresci muito, aprendi ainda mais, e isso mudou a minha forma de trabalhar. Foi sem dúvida uma fase que me marcou muito pela positiva profissionalmente e pessoalmente. É uma cidade que até hoje eu adoro e em que fui muito feliz, quer a estudar, quer como na minha última estadia por lá como convidada para a Gala dos Emmys de 2013, a propósito da nomeação da novela Windeck.
Foto: Revista Vip |
7. Que diferenças encontrou nessa área profissional entre Portugal e os EUA?
A maior diferença que senti foi o apoio entre colegas e pessoas da área artística. Existe um companheirismo muito grande, conheço várias histórias. Aliás, aconteceu comigo, tive atores ou figuras públicas bastante conhecidas dispostas a ajudar-me a encontrar uma agência, um manager certo, e darem a conhecer a sua experiência. Não deixa de ser um país onde a competição é muito maior e mais feroz mas existe também maior oferta, ou mais oferta para todos, sem olhar à raça, corpo, cor, religião ou sexo. É o país das oportunidades!
8. Acha que os portugueses ainda pensam que os atores que brilham “lá fora” é que são bons?
Para ser sincera, não sei como responder a essa pergunta... Não partilho dessa opinião, mas também sou suspeita. Acho que o que acontece é que somos um país cheio de vontade, profissionalismo e talento em variadíssimas áreas, que muitas vezes por falta de oportunidade acaba por ser forçado a empurrar os seus para outro canto do mundo. Temos tendência a não dar o devido valor ao que é nosso quando aqui está, e sim, quando se singra noutro país, subitamente é-se muito valorizado em Portugal... Talvez isso dê a ilusão que quem vem de fora é melhor... Não sei...
Em Windeck interpretou a personagem Tchyssola Paim. |
9. Em 2012 integrou o elenco de Windeck – O Preço da Ambição, que inicialmente causou frenesim junto do público da RTP, mas rapidamente atingiu bons resultados no horário em que era exibido. Como foi participar neste projeto que marcou uma viragem na ficção angolana?
Foi um privilégio para mim ter a oportunidade de fazer o que mais gosto enquanto conhecia as minhas raízes e um país que também quero considerar meu. Windeck foi uma novela que marcou, sem dúvida, a ficção angolana. Deu a oportunidade a vários países como Portugal, Brasil, França, entre outros, de ter acesso a uma nova sociedade, moderna, em crescimento, nunca deixando de ter a cor, a musicalidade e a beleza de Angola e do povo angolano.
10. O que é que a programação portuguesa ganha em receber os formatos da comunidade lusófona?
A meu ver receber formatos da comunidade lusófona é tão normal como de outros países. Desde sempre que me lembro de ver filmes, séries, animações, em inglês, espanhol ou outras línguas. Porque não fazê-lo em português? Devemos ser um dos poucos países que não traduz toda a programação televisiva na língua nacional. Não que quisesse que isso acontecesse, mas tendo sempre em conta a qualidade dos mesmos, acho muito interessante ver e seguir conteúdos com a nossa língua, feitos e pensados por países que estão tão ligados a nós e à nossa história.
Na telenovela Jikulumessu, Marta Faial é a vilã Bianca. |
11. Em que medida a nova produção angolana, Jikulumessu marca uma evolução dessa ficção?
Jikulumessu foi um projeto muito querido por toda a equipa, procurou-se sempre inovar, formar e arriscar. Em Windeck não havia infra-estruturas ou meios para se gravar em Angola para além dos exteriores, tudo o que era em estúdio era gravado em Lisboa nos estúdios da SP. Em Jikulumessu houve um grande investimento nos meios técnicos, com os melhores e mais sofisticados materiais e câmaras do mercado, foi feita uma cidade cinematográfica com 4000m² completamente funcional com água, luz, ar condicionado entre outras coisas. Foram feitos estúdios com todas as condições precisas para a gravação de qualquer conteúdo de ficção. Apostou-se num tipo de filmagem mais semelhante ao cinema. E ouve também uma componente de formação intensiva, quer de técnicos,quer de atores angolanos. Todos os atores e figuração eram acompanhados diariamente pelos diretores de atores. É um produto que tem como objectivo mostrar Angola, de uma maneira mais terra a terra, mostrar a sua beleza, o seu povo, os seus problemas, tabus, a sua música e no fundo a sua identidade.
Marta Faial venceu o prémio de Melhor Atriz nos Prémios Luanda. |
12. Já participou em curtas-metragens e também na longa Nirvana - o Filme. Que tipo de papéis gostaria de desempenhar em cinema?
13. Ganhou o prémio de melhor atriz nos Prémios Moda Luanda 2015, tem feito capas de revista e dado entrevistas. Depois do período de ausência do ecrã, sente que os olhos do público estão de novo postos em o si?
Desde
pequena que tenho um fascínio por cinema, não existe um papel
específico que pense querer fazer. Gosto de tanta coisa, vivo e vibro
com tipos de cinema tão diferentes. Quero desafios, quero o processo e o
tempo que é dado à construção de personagem, quero a importância que é
dada a cada pequena coisa no plano, quero a caracterização e luz e
todos aqueles pormenores que por mais pequenos no cinema ganham vida...
quero muito ter essa experiência.
13. Ganhou o prémio de melhor atriz nos Prémios Moda Luanda 2015, tem feito capas de revista e dado entrevistas. Depois do período de ausência do ecrã, sente que os olhos do público estão de novo postos em o si?
Só posso dizer que foi um ano e meio muito exigente e de muita realização pessoal! Foi um privilégio receber um personagem como a vilã Bianca, foi um desafio pelo qual estou muito grata e só tenho a agradecer a quem acreditou no meu trabalho. Quanto aos "olhos" postos em mim, não posso falar muito para além do público angolano. Fiquei muito feliz e grata pela nomeação como melhor atriz de Angola 2014 pelos prémios Moda Luanda 2015 mas não achava que ia ganhar. Angola votou e escolheu o meu trabalho no meio de tantos outros profissionais talentosos e isso marcou-me muito, foi um reconhecimento, um carinho e um privilégio que vou guardar comigo para sempre!
14. Quais são as palavras-chave da sua carreira?
14. Quais são as palavras-chave da sua carreira?
Neste momento diria que são: dedicação, disciplina, persistência e paixão por esta profissão.
15. Em poucas palavras, quem é a Marta Faial?
É tão difícil responder a isso... Quem sou eu.. Posso apenas dizer que ainda estou a descobrir.
Fantastic Entrevista // Temporada 8 | Edição 3
por André Rosa e André Oliveira
Comente esta notícia