Duplo Clique | "Festa de sol a sol"

A frescura rural e o calor da cidade encontraram-se na Festa Continente, o certame que pelo sétimo ano consecutivo se realizou em Lisboa, no Parque Eduardo VII, levando o melhor da agricultura portuguesa até junto do público. No sábado dia 27, a TVI levou a cabo uma transmissão em direto pautada pela música, reportagens e demasiado call TV – numa tarde abrasadora em atmosfera familiar. 

Foto: TVI

O canal de Queluz “sacou” à RTP o exclusivo da festa do Continente, e assim teve mais uma oportunidade de renovar a sua proximidade com os espetadores… e com o gado português. O interesse no evento foi mais que justificado: uma das marcas mais sólidas em Portugal patrocina um parque temático montado no coração de Lisboa e promove os seus parceiros industriais. Como parceira estratégica, encontra na estação mais vista pelo público um grande meio de divulgação e autopromoção dos valores da empresa. Foi o melhor da televisão popular junto da melhor produção do setor primário.

Foto: Cristina Ferreira

Cristina Ferreira, Pedro Teixeira, Marisa Cruz, Marta Cardoso, Mónica Jardim e Leonor Poeiras dosearam o protagonismo da condução do programa. O à-vontade junto das multidões prevaleceu e a espontaneidade foi a palavra de ordem (bastou ver Leonor Poeiras largar o direto para ir deslizar numa boia aquática, e no fim do percurso ir “ao fundo”, para perceber que os apresentadores da TVI “dão espetáculo”). Cristina Ferreira, a apresentadora “de peso” necessária para prender a atenção no palco principal, foi, também, a que mais parece ter-se sentido em casa. Perante o histerismo da sua voz, Pedro Teixeira encontrou um fator de inibição, deixando apagar, por vezes, a sua presença. A certa altura, os apelos ao 760 pareciam já uma alucinação (como o são diariamente), não fosse o sol bater-lhes de chapa na cabeça e isso servir de desculpa.

Foto: TVI

A emissão da TVI apenas inovou num aspeto televisivamente interessante face à cobertura do ano passado, da RTP: as imagens aéreas. Os drones utilizados proporcionaram imagens de grande beleza paisagística, ou não fosse Lisboa um ex-líbris mundial. De resto, os meios à disposição permitiram realizar uma emissão muito competente e de grande envergadura (o comum espetador não imagina quantos carros de exterior, câmaras, gruas e quilómetros de cabo são necessários para transmitir algo desta natureza). 

Foto: Continente

Pouco naturais – porque o direto não se compadece com o romantismo da música ao vivo –, as atuações musicais não fugiram do vulgar playback, mas escaparam (felizmente!) ao repertório pimba que mina a televisão portuguesa. A maior exigência e ecletismo em relação aos artistas convidados foi um ponto deveras positivo, ainda que os B4 tenham lá ido dizer que é melhor não duvidar do regresso do pimba…

Foto: TVI

Para o ano, a Festa Continente sobe à Praça de Espanha, tal não tem escalado a cidade. Depois de manchar de estrume o xadrez da Praça do Comércio e ter provocado náuseas aos lojistas da Avenida da Liberdade, perdeu sombras, mas ganhou uma piscina pública debaixo da bandeira de Portugal. Quem não levou nenhuma banhada foram as fãs de Tony Carreira, ávidas pelo concerto. A dúvida permanece no ar: o que é que Tony Carreira (além do contrato com o Continente e com a TVI), tem a ver com as alfaces frisadas e com a beterraba biológica?

Foto: Continente

Seria interessante saber quantos milhares foram picnicar só para ter lugar à frente do palco, visitando a feira para fazer tempo. Em todo o caso, “a festa das festas” foi uma festa do campo na cidade, repleta de atrações para as famílias e com uma organização irrepreensível. E a TVI fez serviço público, atentando ao facto de em nada se ter afastado dos valores nacionais.

Duplo Clique - 55ª Edição
Uma crónica de André Rosa