Fantastic Entrevista | Paulo Azevedo
FANTASTIC ENTREVISTA
TEMPORADA 8 / EDIÇÃO 2 / JUNHO DE 2015
1 - O Paulo Azevedo nasceu a outubro de 1981, com algumas limitações físicas. De que forma foi complicado lidar com este problema?
Penso que para a minha família terá sido bem mais complicado devido a ter sido um choque grande e que ninguém estava a espera. Mas com a ajuda da família que nunca me escondeu, mostraram-me sim que era diferente, mas não inferior, fez de mim muito mais forte.
Com Diogo Morgado, nas gravações de "Podia Acabar o Mundo" |
2 - O Paulo é ator. Participou em "Podia Acabar o Mundo", novela da qual fez parte do elenco principal. Como correu esta experiência?
Foi fantástica. Eu comecei a representar muito cedo, com 6 anos já fazia teatro. O "Podia Acabar o Mundo" foi o culminar de muita luta, sacrifício, muitos anos, mas, sobretudo, um abalar de mentalidades e preconceitos. Ninguém estava a espera de alguém sem mãos, diferente, numa novela. Venci num mundo onde ainda por vezes prevalece a beleza ao talento. Acredito que se fosse numa das novelas de hoje teria muito mais audiência e visibilidade. O "Podia Acabar o Mundo" foi o arranque da SP Televisão com a SIC, serviu de rampa de lançamento para projetos futuros de grande qualidade e sucesso.
3 - Em "Sol de Inverno" volta a interpretar um papel, desta vez como 'Tiago'. Ao seu lado, Andreia Dinis representava o papel de uma mulher que ficou paraplégica após um acidente. De que forma a ficção pode ser utilizada para a sensibilização de causas como estas?
A ficção e a imprensa fazem toda a diferença, pois diariamente entram na casa dos portugueses e moldam mentalidades. Dou um exemplo: antes olhavam para mim na praia com pena e, depois de ter ido para o ar a "Grande Reportagem" da Sofia Arêde sobre mim, "Uma vida Normal", passei a ser olhado com admiração. Por isso a ficção é muito importante nestas causas, mostram que os ditos diferentes são tão capazes como qualquer um.
Paulo venceu a 2ª edição de "Splash! Celebridades" |
4 - Foi o vencedor da 2ª temporada do programa "Splash! Celebridades" da SIC. Foi para si um grande desafio? Estava à espera de ser o vencedor?
Foi enorme. Foi a primeira vez que me apresentei sem as próteses e corri riscos, superei-me a mim próprio. Se te fossem dizer que alguém sem mãos e pernas ia saltar de 3 andares de altura acreditavas? Eu não. Então fi-lo. Sinceramente não estava à espera de vencer, mas fiquei muito feliz por saber que sou (ou ainda sou) acarinhado pelo público.
5 - Em 2009 lançou o livro "Uma Vida Normal". Porque decidiu escrever o mesmo?
Não fui eu que quis, foi a Porto Editora que insistiu comigo. Eu pensei em escrever apenas numa idade mais avançada. Depois a editora mostrou-me que uma história de vida tão intensa devia ser contada já, porque tinha mais força. Então escolhi a jornalista Sofia Arêde para escrever, e assim foi.
6 - O Paulo revelou que a força de vontade é essencial na vida de todos nós. Por isso mesmo, acabou por sensibilizar as pessoas para a sua causa, através do seu exemplo. Qual a melhor postura a adotar nesta "batalha" contra o preconceito?
Fazer ver diariamente que ser diferente não é sinónimo de ser inferior. Lutar pelos nossos sonhos e objetivos arduamente. Não com unhas e dentes, porque tal como eu também podem não ter unhas. :)
7 - Diariamente, consegue ser autónomo?
Totalmente. Aliás, em Lisboa morei sozinho. Cozinho, como, escrevo, tomo banho, etc. Tenho uma vida normal.
8 - Sente que é importante os portugueses serem felizes com o que têm e aprenderem com as histórias que os rodeiam, nomeadamente a sua?
A minha ou a de muitos outros que, tal como eu, não desistem e fazem das fraquezas forças. O importante é aceitarem-se e gostarem de vocês tal como são. Só assim serão felizes.
No filme "Nirvana", de Tiago P. de Carvalho |
9 - Em 2014 fez parte de "Nirvana - O Filme", no papel de Zé. Pode falar-nos um pouco sobre esta personagem e da experiência do cinema?
Não foi a primeira experiência em cinema, já tinha feito o "Po". Mas foi muito boa, comecei pelo teatro, passei pela TV e finalmente o cinema, onde tudo é feito com tempo. Fiz um gangster lunático com sede de vingança e comédia a mistura. Uma personagem diferente de tudo o que fiz, onde a minha diferença não era um impedimento para ter um papel, mas fazia parte de mim e era importante no filme. Aprendi muito.
10 - No dia do pai, 19 de março de 2015, recebeu o maior presente que poderia ter: o nascimento do seu filho. Como viveu este momento tão especial?
É verdade. A partir daqui o resto deixou de ser a minha vida para um ser tão pequeno tomar o meu coração. Ele sim, o Gustavo, é o meu realizador, a ele obedeço no corta e ação, ele é o meu papel principal.
11 -Disse, recentemente, numa entrevista à revista Vip o seguinte: "O meu receio é não conseguir superar as minhas limitações para com o meu filho". Passados três meses, este receio mantém-se?
Não é tão grande, porque a cada dia ele muda, mas sim, vai manter-se até eu morrer. Isto, porque nós, pais, temos medos a vida toda de não ser o melhor pai. Mas com a ajuda da Sónia, a a melhor mãe, tudo se consegue.
12 - Gostaria de voltar a participar num programa de televisão? Qual o formato que prefere?
Claro que sim. Prefiro a ficção, sem dúvida, mas estou aberto a todos e quaisquer desafios, seja o que for. Se for com dignidade, quero trabalhar.
13 - Que projetos se seguem nos próximos tempos?
Acabei recentemente "Os Nossos Dias 2", da RTP1, e agora estou à espera de novas oportunidades.
14 - Em poucas palavras, quem é o Paulo Azevedo?
O Paulo Azevedo é um grande teimoso que não desiste do que ama. :)
Fantastic Entrevista
Temporada 8 / Edição 2
por André Oliveira e António Quelhas
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