Duplo Clique | "Quem tudo quer, tudo perde"
Cem mil euros à distância de oito perguntas e muita perspicácia. No novo concurso da TVI, os concorrentes sentem o cheiro do dinheiro, mas percebem que a torre de sonhos rapidamente se desmorona. No The Money Drop, quem entra a ganhar tem saído a perder.
O objetivo da TVI passa por contrariar a popularidade d’O Preço Certo (RTP), essa locomotiva recheada de prémios e audiências incontestáveis. Nos primeiros dois episódios, o dinheiro de Queluz atraiu audiências suficientes para liderar, mas logo Fernando Mendes recuperou o controlo, atirando a concorrência para o patamar dos 600 mil espetadores. Parece que não há esperança para elevar o índice cultural do horário das sete.
The Million Pound Drop é o formato original britânico, produzido pela Endemol em 2010. Num ápice, chegou a 50 países, com nomes adaptados, tal como o caso português. Teresa Guilherme apresenta o formato e mantém a postura do reality-show, divertida, espontânea e profissional. Talvez tenha sido essa uma das razões para assumir o programa, levando consigo parte do público que a admira e não perde os seus projetos. A verdade é que decisão de dar o seu rosto ao programa – mais do que justificada – contribuiu para que não descansasse a imagem e para manter inativas outras apresentadoras da TVI.
The Money Drop procura ser “irreverente” e “original”. O esquema pergunta-resposta mantém-se, pelo que é nos detalhes que pode marcar a diferença. Ao contrário dos outros concursos, o prémio monetário não é um grafismo no ecrã e existe fisicamente. A essa falsa sensação de propriedade, tida pelos participantes, junta-se um artifício mecânico de quatro alçapões (correspondentes às respostas possíveis à pergunta colocada). Depois da distribuição dos maços de notas pelas três hipóteses que consideram mais acertadas, os concorrentes esperam, impacientes, para ver se as quantias desaparecem nas tampas que abrem. Até o saldo ficar a zero e o jogo acabar.
Os participantes do game-show provam, uns mais do que outros, que dominam a cultura geral, mas as categorias demasiado vagas e o raciocínio precipitado têm feito o prémio “ir pelo cano”. Perante tantas respostas obviamente erradas, quase se torna mais curioso reparar nos dois seguranças de cara séria que permanecem estáticos numa ponta do cenário, como se alguém fosse saltar da plateia para roubar o dinheiro.
O concurso acontece num estúdio construído em altura e em profundidade, com uma conceção cenográfica o mais fiel à original. O desenho de iluminação contribui para o impacto visual, em sintonia com a música, e a Realização de Vasco Vilarinho (responsável pelas principais emissões da TVI) capta com rigor os diferentes momentos do jogo. A entrada dos concorrentes e a apresentação das respostas têm os movimentos de câmara mais entusiasmantes, além da alternância dos planos consoante as reações dos jogadores.
Contas feitas, The Money Drop é um entretenimento ligeiro, possivelmente convidativo para quem está farto de telenovelas e quer perder uns quilos desse vício. No novo concurso da TVI, é mais fácil “perder a cabeça”… porque “quem tudo quer, tudo perde”.
Duplo Clique - 45ª Edição
Uma crónica de André Rosa
Uma crónica de André Rosa
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