Duplo Clique | "Negócios à Dentada"
Shark Tank chegou à televisão portuguesa à procura de sangue empreendedor. E os tubarões só querem arrebatar os melhores negócios. Estreou na SIC o programa de investimentos mais aclamado por todo o mundo – para centenas, uma oportunidade de remar contra a maré. No lago dos tubarões, “o dinheiro não é tudo. É a única coisa”.
A crise empresarial, a narrativa do empreendedorismo e a necessidade de agitar a programação fizeram da ameaça em alto mar uma grande oportunidade. Surgindo neste contexto, Shark Tank seria uma aposta televisiva tão segura quanto perigosa para o horário nobre de sábado, mas surpreendentemente aliciante. No episódio de estreia, 900 mil espetadores, em média, mostraram interesse em acompanhar o “ataque” dos tubarões aos melhores negócios. Carnaxide abriu a época balnear mais cedo.
A crise empresarial, a narrativa do empreendedorismo e a necessidade de agitar a programação fizeram da ameaça em alto mar uma grande oportunidade. Surgindo neste contexto, Shark Tank seria uma aposta televisiva tão segura quanto perigosa para o horário nobre de sábado, mas surpreendentemente aliciante. No episódio de estreia, 900 mil espetadores, em média, mostraram interesse em acompanhar o “ataque” dos tubarões aos melhores negócios. Carnaxide abriu a época balnear mais cedo.
João Koehler, Mário Ferreira, Miguel Ferreira, Susana Sequeira e Tim Vieira são os chamados sharks. Os cinco empresários estão dispostos a investir, do seu próprio dinheiro, no mínimo 2,5 milhões de euros, sem limite máximo e com muita garra. Além da telegenia que lhes é autêntica no ecrã, salta à vista a pulsão acirrada, competitiva e estratégica que lhes corre nas veias. Susana Sequeira, uma mulher entre homens, mostra-se a jurada mais ponderada na postura em frente às câmaras, abstendo-se, com frequência, de alinhar nos projetos.
À produção da SIC terão chegado mais de mil candidaturas, mas apenas 90 projetos passaram à fase das gravações. Os concorrentes, com a média de idades a rondar os 36 anos, têm-se mostrado capazes de apresentar atrativamente os seus projetos, em áreas tão distintas como a restauração, a saúde e o turismo. As apresentações denunciam, por vezes, a falta de naturalidade da postura comunicativa, mas não comprometem as negociações.
A versão portuguesa de Shark Tank, com produção executiva a cargo da Blue Pipeline, da Endemol, e co-produzido pela Take and Sound, não gorou as expetativas de quem já seguia as temporadas da edição internacional na SIC Radical. O cenário de 700m², em tudo fiel ao original, e a Realização exímia de João Gandarez – ágil entre planos próximos e rápidos – tornam os episódios uma experiência televisiva sofisticada e um verdadeiro testes de stress a qualquer um. A par do cuidado técnico, a decisão de não introduzir apresentador merece elogios. Shark Tank prova, com efeito, que nem todas as adaptações televisivas estão condenadas ao fracasso.
O “tanque” nacional não é, mesmo assim, um local de mergulho para o grande público. O discurso específico da negociação, que recorre a uma linguagem empresarial incompreendida pelos leigos, tende a afastar uma franja de público à hora de exibição, ou a empurrá-la para a concorrência. Shark Tank conseguiu atrair espetadores de novo perfil no horário, mas nunca será um programa de massas; antes direcionado a um público mais educado e perito na matéria.
A amplitude dos projetos e investimentos lusos, longe de se equiparar à norte-americana, não deixa de ser apreciável e prova que o dinheiro existe, correndo dos bolsos dos grandes empresários. Shark Tank surte impacto na realidade, e talvez seja esse o seu grande mérito e uma das razões para o seu estatuto galardoado. Abriu a época alta do empreendedorismo. Talvez não seja má ideia sair do sofá e ir nadar com os tubarões.
Shark Tank, para ver aos sábados, às 22h45, na SIC.
Uma crónica de André Rosa
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