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Duplo Clique | "Ídolos em fim de carreira"



“Ídolo”, do latim idolum, significa “objeto de grande paixão”, em sentido figurado, de acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Ao fim de cinco tentativas de namoro, ainda é possível os portugueses apaixonarem-se por um ídolo? Parece difícil. A sexta temporada de Ídolos, o concurso mundial que procura um cantor espetacular numa massa de anónimos, estreou na SIC há duas semanas e só na segunda emissão conseguiu ultrapassar o nível de um milhão de espetadores. Parece que as serenatas estão fora de moda.


O formato Pop Idol, criado por Simon Fuller, chegou à televisão portuguesa em 2003. A produção de novas temporadas deu-se a um ritmo médio de três anos, uma solução encontrada pelas direções de conteúdos da SIC de forma a rentabilizar o contrato de direitos adquiridos. O desgaste do concurso é por demais evidente – provando que, no que respeita a saturação da oferta televisiva, a TVI e a SIC caminham de mãos dadas. Além disso, o programa parou no tempo. O logotipo e o genérico mostram-se graficamente obsoletos, perdendo vitalidade, e até a própria lógica dos programas se manteve praticamente inalterada.


Dir-se-ia que Ídolos é um sucesso cristalizado. Só que o histórico das audiências não deixa dúvidas: se foi um sucesso, foi um sucesso lá fora. Há doze anos, a estreia foi vista por 900 mil espetadores e perdeu para a concorrência (no dia 5 de setembro, a RTP estava a dar o jogo Portugal x Turquia, dos sub-21). Este ano, ficou pouco abaixo, com uma média de 867 mil espetadores, tendo a RTP, mais uma vez, oferecido resistência. Conclusão: em tanto tempo, pouco ou nada mudou na forma como a SIC oferece Ídolos aos portugueses.


A novidade desta temporada é o solo de João Manzarra e a contratação de Maria João Bastos para o painel de jurados. A atriz, outrora exclusiva da TVI, é um dos melhores trunfos do concurso, por ter mostrado, desde cedo, um verdadeiro à-vontade e cumplicidade com Paulo Ventura e Pedro Boucherie Mendes. Na fase das audições, é esperada a pouca atenção concedida aos jurados e ao apresentador, centrando o protagonismo nos concorrentes.


O entretenimento de Ídolos assenta nas histórias de cada participante. Alguns percorrem quilómetros na estrada, em vão, sem conseguir agarrar o primeiro bilhete dourado. Outros, cantam em registos vocais impensáveis e com repertórios absolutamente anedóticos. O espetador ficará, porventura, com a ideia de que alguns concorrentes não têm noção daquilo a que se prestam, ao ceder imagens a uma exploração televisiva apostada em criar momentos de comicidade frouxa – uma amostra de “cromos” musicais. Depois de as verem, provavelmente farão um balanço mais dececionante do que positivo daquela experiência pessoal ou artística.


No que respeita à qualidade do resultado televisivo, Ídolos não marca pela inovação ou pela diferença. O alinhamento é capaz de aborrecer o espetador, ao fim de hora e meia de audições, enquanto a edição vai introduzindo cortes para convidar as pessoas a “não perder” o que vem a seguir (tornando o zapping uma ação subitamente interessante). A nível de estilos musicais, não se prevê nenhum desvio do que tem sido a predominância Pop e a preferência do grande público. No quadro geral, a sexta edição do concurso chega como um ídolo em fim de carreia: receoso de arriscar e acomodado no que lhe é o registo confortável.


Aos domingos à noite, os ídolos da SIC vão tentar cantar pela sua carreira e pela conquista do ouvido do público português. Acontece que a música é sempre a mesma, e por mais que se goste, ouvi-la sem novos acordes cansa profundamente o espírito.

Ídolos, para ver aos domingos, às 21h45, na SIC.


                                                                                    Duplo Clique - 47ª Edição

                                                                                     Uma crónica de André Rosa