Header Ads

Duplo Clique | "A televisão portuguesa em 2014"

 

“Ano novo, vida nova”. Será verdade, ou a vida televisiva dos espectadores portugueses continua na mesma? Antes de lançar perguntas ao novo ano e ao que o público da RTP, SIC e TVI espera da Televisão em 2015, há que procurar respostas no ano que terminou. 


Em poucas palavras, 2014 foi a pista de uma corrida a três velocidades. Em terceiro lugar, a RTP, eternamente submetida ao espartilho do serviço público, com conteúdos mais comerciais e bem produzidos, mas prejudicada nas audiências e desgastada pelas polémicas de que foi sendo alvo. Em segundo lugar, a SIC, perita que se mostrou nos chamados “flops” de audiências e, em contraciclo, na consolidação da liderança do horário-nobre. E em primeiro lugar, no que aos números diz respeito, a TVI, igual a si própria, repetitiva, lucrativa e com apostas arriscadas, proclamando-se líder em todos os horários perante as evidências contrárias. De uma forma geral, a televisão portuguesa do ano passado caraterizou-se por concorrências idênticas em géneros de programação e horários de exibição. 

http://img0.rtp.pt/icm/thumb/phpThumb.php?src=/extra/images/81/81bbf88809cd4f16adf39e8b86936ae4&w=620&sx=0&sy=2&sw=420&sh=230&q=75

A RTP, por exemplo, deu seguimento à sua aproximação à faixa etária infanto-juvenil (com “The Voice” e “Água de Mar”) e saiu-se muito bem com “Bem-Vindos a Beirais”, a sua grande vitória nas audiências. De um extremo ao outro, a estreia de “Rising Star” como o programa mais interativo da televisão portuguesa deixou muito a desejar, na ótica dos espectadores da TVI (e do próprio canal, ainda que de forma timidamente assumida). 

http://www.atelevisao.com/wp-content/uploads/2014/05/Sabadabadao-Logo.jpg

Na corrida pela liderança na faixa das manhãs – da qual em princípio a RTP devia demitir-se, o que não acontece – ficou, todavia, provado que “Agora Nós” foi a melhor estreia de setembro, uma verdadeira opção face ao “Queridas Manhãs” da SIC. Tal facto não foi razão para reprovar a estratégia da RTP, que terá alterado a sua grelha para algo melhor, mas sim para lhe dar o devido mérito na conquista do mesmo público face ao programa concorrente. A SIC operou um esvaziamento gritante de conteúdos, sobretudo com o programa “Grande Tarde” e com a ovelha-negra dos sábados de verão. “Sabadabadão” foi uma autêntica granada nas mãos de Júlia Pinheiro e acabou por “sair de fininho”, ao contrário de “Masterchef”, um formato importado, excecionalmente produzido pela Shine Iberia para a TVI e que foi, também, das melhores surpresas do ano. 

http://portaldosprogramas.com/wp-content/uploads/2014/02/O-Beijo-do-Escorpi%C3%A3o-j%C3%A1-tem-website-oficial-dispon%C3%ADvel.jpg

A estratégia de programação e conteúdos da TVI manteve-se de pedra e cal: o canal levou a sua vitória avante de manhã, à tarde e aos domingos, graças à fórmula “pão e circo”, doce, salgada e apimentada. O grande entretenimento de domingo à noite foi, mesmo assim, previsível e não encontrou grande resistência, especialmente a partir do momento em que a SIC se atirou para a lama com a estreia do reality-show “O Poder do Amor”. Quanto à ficção, o público viu-a perder o gás. As novelas “Belmonte” e o “Beijo do Escorpião” terão sido os melhores produtos em antena, ainda assim maltratados pelas sucessivas mudanças de horário; e a continuação de “Jardins Proibidos” foi nitidamente uma má ideia. 

http://cdn.controlinveste.pt/storage/DN/2012/big/ng2162871.gif

RTP, SIC e TVI continuaram, portanto, no trilho dos programas cuja rentabilidade financeira e audiométrica foi fácil de prever. A fórmula girou em torno das telenovelas, ensanduichando os noticiários, praticamente inalterados nas suas competências e identidades. O jornalismo da RTP continua a ser, provavelmente, o mais credível, o da SIC o mais independente e o da TVI o eterno “tabloide”, uma ideia que parece ser difícil de destruir, contra todos os esforços que José Alberto Carvalho e Judite de Sousa têm em feito, desde 2011, em prol da revitalização da informação do canal. 

http://c6.quickcachr.fotos.sapo.pt/i/B32148b2d/17044261_zzVvf.jpeg

E se as novelas foram o “pão nosso de cada dia”, o cinema nem por isso. Os fins-de-semana de cinema internacional não existiram nas privadas por decreto gastronómico (enchouriçados que foram pelo “Somos Portugal em Festa”), tendo Carnaxide exibido alguns títulos capazes de liderar ocasionalmente. Ainda sem qualquer espanto, a Cultura, quase nem vê-la. “Autores”, da TVI, e “Cartaz”, da SIC, continuaram arredados do horário-nobre como se a Cultura funcionasse como tranquilizante para os notívagos. O cancelamento do “5 Para a Meia-Noite” da RTP foi, sem margem para hesitações, o maior rombo no horário da estação e na oferta de bom humor e entretenimento. Cortando aqui e esticando dali, o canal do Estado (que continua a sorver milhões de euros ao erário público, e cujo público reclama mais qualidade mas não se dá ao trabalho de ver e elogiar), conseguiu dar despacho aos seus compromissos constitucionais, na certeza de não ter agradado a gregos e a troianos com a transmissão de touradas e de tanto “Mundial Somos Nós”. 

 http://www.atelevisao.com/wp-content/uploads/2013/09/f_img_977a7dbde6223b8f52a900d05004b5a7.jpg

Nunca é tarefa fácil ponderar balanços anuais, sobretudo passando em revista toda a programação portuguesa durante os últimos 365 dias do calendário. Assumindo a impossibilidade de referir todos os projetos que se destacaram em 2014, melhor ou pior, nos três canais, fica assegurado o esforço de fazer deste comentário, ainda que parcial, um balanço representativo das áreas de entretenimento, ficção e informação da televisão generalista que entreteve os portugueses. E o caríssimo leitor, o que espera da televisão nacional em 2015?

Duplo Clique - 32ª Edição

Uma crónica de André Rosa