Segunda Opinião | "760 é serviço público?"
Aqui Portugal podia ser um programa de entretenimento diferente e que trouxesse algo de novo à televisão portuguesa. Podia ser mais um formato próximo do verdadeiro serviço público que preenchesse as tardes de sábado da RTP1. E ao início era.
Quando começou, o Aqui Portugal era um programa de estúdio, apresentado por Sónia Araújo e Jorge Gabriel que, ao longo da tarde, recebiam na sua "casa" convidados musicais, com momentos de conversa, entre outros. Era um programa mais contido, mas bem mais interessante que o formato atual.
Agora, o Aqui Portugal não é mais do que "outro programa de 760" nas tardes da televisão portuguesa. Entre este e os formatos de domingo da concorrência - Somos Portugal e Portugal em Festa - pouco há de diferente. Até o nome é parecido.
A questão que se impõem nem é o formato em si. Apesar de ser 'mais do mesmo', esta é a 'caravana' da RTP que anda, semanalmente, de terra em terra a mostrar as tradições portugueses e a dar a conhecer artistas da música ligeira nacional - ou "música pimba", como é habitualmente apelidada. E este tipo de formato, na verdade, começou com o "Portugal Azul" da RTP e só depois a SIC e a TVI acabaram por seguir o mesmo caminho.
O que importa referir é o mesmo de sempre: o 760. As chamadas de valor acrescentado. O tempo infindável que os apresentadores pedem aos telespetadores para ligarem. As regras mudaram há uns meses e agora existe um limite de vezes, por hora, para os apresentadores icentivarem quem assiste ao programa a ligar. Mas mesmo assim, cansa. E pouco ou nada mudou.
Até porque, quando não ouvimos Hélder Reis e companhia a pedir para ligar, vemos o número, bem grande, em rodapé, com um valor bem apetecível ao lado - 10.000€, 20.000€... As defesas são sempre as mesmas: "Só liga quem quer"; "Quem não gosta não vê"; "Existem outras alternativas"; "O prémio sai, de facto, a alguém"; "Não estamos aqui para enganar ninguém...". Pois não, não estão ali para enganar ninguém, mas enquanto televisão pública estão ali para fazer serviço público. E se o "760" nas privadas já é questionável, na RTP será ainda mais. Fica a questão: será o 760 serviço público?
Segunda Opinião - 10ª Edição
Uma crónica escrita em parceira pelo Fantastic e o Diário da TV
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