Fantastic Entrevista... Clark

 

 FANTASTIC ENTREVISTA 

TEMPORADA 7 / EDIÇÃO 6 / DEZEMBRO DE 2014

GANHE UM CD "BIPOLAR" DOS CLARK - CLIQUE AQUI

1 - Quem são os Clark? Qual o vosso género musical de eleição?
Os Clark são quatro músicos da região de Lisboa que praticam uma música que mistura influências de pop e rock na sua vertente mais indie baseada em guitarras e secções rítmicas versáteis, ora pujantes ora leves e em melodias vocais desenhadas em função das letras, por vezes românticas e outras negras, cantadas em português. Uma banda empenhada em conquistar um espaço próprio na música portuguesa e que agora apresenta um terceiro disco maturado com o entusiasmo de um primeiro.

2 - Começam a vossa formação em 1994 com o nome "Taxi Driver", foram os "Inocentes" e atualmente são os "Clark". O que mudou na vossa banda durante os últimos 20 anos?

Os nossos primeiros acordes juntos aconteceram de facto por volta de 1994/1995, numa cave escura de um prédio na Urbanização da Portela, uma urbanização típica de classe média, local de fronteiras entre a urbana Lisboa e o subúrbio da Portela, Loures, onde 4 jovens, estudantes, com tempo livre, interesses e gostos musicais mais ou menos semelhantes se juntou com o objetivo de fazer música e a apresentar ao vivo. Sob o nome de Taxi Driver a banda realizou uma primeira maquete em 1995 no antigo Estúdio da Valentim de Carvalho com a produção de Paulo Abelho.

Em 1996 acabamos por assinar um contrato com a EMI depois de termos sido disputados por diversas editoras. Desse contrato resultou a gravação e edição do nosso 1º trabalho, já em 1998 sob o nome de Inocentes, com algum sucesso mas que não foi potenciado nem aproveitado com culpas para ambas as partes cremos nós. Daí que em 2000 tenhamos acordado uma rescisão e quase de seguida assinado pela Som Livre de que resultou a edição de um novo disco "Sombra da Lua" já com o nome de Clark. Este é o percurso até chegarmos aos Clark mas basicamente a formação da banda manteve-se ao longo destes anos (3 dos 4 elementos sao os mesmos). Ao longo destes 20 anos a banda ganhou experiência de palco, trabalhou com vários produtores, passou por momentos altos e outros de "apagão" mas sobretudo mantém o entusiasmo e a crença em poder afirmar-se como um projeto sólido na música portuguesa.

3 - João Alexandre, Marco Carvalho, Miguel Sapateiro e Bruno Fernandes. São os quatro membros da banda. Qual o papel de cada um nos "Clark"?

João Alexandre - voz e guitarra,

Marco Carvalho - guitarra,

Miguel Sapateiro - baixo

Bruno Fernandes – bateria

Estas serão as funções individuais dos elementos dos Clark enquanto instrumentistas mas cada um de nós contribui com mais que o seu desempenho individual para a banda, seja na composição, na estética ou noutros aspetos o envolvimento de cada um é global.

4 - "Bipolar" é o vosso mais recente trabalho. Este projeto foi gravado entre 2010 e 2011, tendo sido editado em 2012 em plataformas digitais. Quatro anos depois do início do projeto, chega finalmente às lojas. Como é ver o resultado final de todo este processo?
Foi um processo demorado que passou por várias etapas com momentos difíceis e de alguma desmotivação mas sempre acreditando que seria possível concretizar. Até por isso o resultado se tornou mais "saboroso", sobretudo após a adesão conquistada por "Bipolar" nas plataformas digitais com milhares de downloads efetuados em todo o mundo.

 
5 - Como definem o vosso album "Bipolar"?
"Bipolar" é um álbum de canções agridoces, nao conceptual mas que aborda as temáticas das emoções e sentimentos das pessoas de formas quase antagónicas: amor/ódio, rápido/lento, apatia/excitação, verdade/mentira, ontem/amanhã, com instrumentação pop rock eletro acustica e arranjos de teclados vintage. Nada melhor que o escutar por exemplo em www.youtube.com/clarkpt

6 - Porquê apostar no formato físico deste projeto, numa altura em que as plataformas digitais são cada vez mais populares neste mundo da música?De facto as vendas de cd's caíram muito nos últimos anos. Mas o cd continua a existir, é um meio válido, que se toca e contempla de uma forma que não é possível no digital. Tem igualmente um impacto promocional distinto e que não pode ser desprezado quando o objectivo é chegar ao maior número de pessoas através da música. Daí fazermos questão em ter o cd editado físicamente. Aliàs a própria banda suportou a edição independente que deu origem à edição licenciada pela Farol Música.

7 - Este é o vosso terceiro disco. A evolução da banda é vísivel ao longo destes três albuns? Como caracterizam cada um deles?
Nós acreditamos que sim, que tal evolução existe num sentido natural e positivo. O 1º disco sob o nome de "Inocentes" foi o lançamento de uma banda naif em muitos aspetos, com um apreciável, conjunto de canções mas talvez nem sempre bem defendido pela própria banda e com cedências que jamais faríamos nos dias que correm. No entanto houve uma boa exposição da banda e um tema, "na idade da inocência", que se tornou praticamente um clássico da pop portuguesa de finais do século XX.

O 2º álbum já sob o nome de Clark, é o início da aventura do DIY (do it yourself) com a banda, a custas próprias e com o contributo dos produtores Marsten Bailey e Nuno Roque a gravar um disco numa garagem com meia duzia de metros quadrados, num barracão com tratores e o luxo de misturas no Fortress Studio em Londres. O disco nao terá tido o impacto comercial do 1º, mas alinhou-nos em termos de orientação musical e inclui o tema "Fading Down" com um videoclip realizado por Rui de Brito e nomeado para os premios MTV.

O álbum "Bipolar" é de novo um investimento dos Clark com o propósito de uma edição de autor, gravado em estúdio próprio e produzido por Nuno Roque que é para nós uma garantia de qualidade, conhecimento e mais valia.

Neste álbum a escrita flui, o som da banda torna-se homogéneo e por isso cada vez mais personalizado. A experiência dá conforto e confiança e esse é para os Clark o maior sinal de evolução.

8 - Comemoram 20 anos de carreira, este ano. Como têm visto a evolução da cultura musical em Portugal, ao longo destas duas décadas?

Muito difícil para os Clark não serem tendenciosos nessa análise pois para nós a música é bem/serviço de 1ª ou absoluta necessidade.

A cultura e a música em particular são um parente pobre do investimento público e o tratamento é tal que a própria educação musical nas escolas quase parece tratar-se de um capricho (para não falarmos de questões como a do Iva). Se não fôr através da iniciativa privada não poderemos criar grandes expetativas de mudanças para melhor.

É algo que já referimos há uns bons anos atrás mas a criação de salas para concertos que proporcionasse um circuito ao vivo descentralizado (por exemplo capitais de distrito) através dos espaços municipais ou universitários e onde os artistas pudessem apresentar os seus trabalhos seria visto como algo positivo num contexto de evolução da cultura musical em Portugal.

De igual modo ao longo destes últimos 20 anos a forma de fazer alguma rádio e tv em Portugal sobretudo nos canais generalistas e no que à musica portuguesa diz respeito tornou-se refém das audiências e de que são elas o suporte financeiro dos projetos o que mata à partida qualquer ousadia de formatos mais didáticos e construtivos com base na ideia que “…não é aquilo que o povo quer…”. Então replicam-se formatos de sucesso comercial (concursos de imitações) que sendo legítimos estarão longe de um verdadeiro contributo para a referida evolução da cultura musical em Portugal.

9 - No album têm músicas em português e outras inglês. Porquê esta opção?
Não aconteceu de forma premeditada. Em teoria sentimo-nos mais confortáveis manifestando-nos em português e achamos que no estilo de música que fazemos mais facilmente nos possamos distinguir na língua mãe. Acontece que 2 dos temas nasceram em inglês e assim ficaram. Fizemos uma tentativa de os passar a português mas optamos por os deixar assim sem quaisquer intenções de agradar a este ou aquele. Ao longo do tempo temos assistido também a uma receptividade muito variada para o português e inglês por parte do público e dos media relativamente às bandas portuguesas. Nós queremos agradar às pessoas claro, mas primeiro temos de gostar e nos sentir bem com o que fazemos.
 
10 - De que forma o local onde foi gravado este album - no estúdio Coutada do Som, num meio rural, na Lezíria - influenciou o resultado final?Primeiro por ser em ambiente rural, na zona da Lezíria de Benavente que temos um estúdio próprio com condições físicas e técnicas para fazer o nosso trabalho de forma autónoma. Depois porque a própria serenidade e ambiente do local funciona e influenciou o resultado final do trabalho. Assim como se se tratasse de um contraponto e equilíbrio ao reboliço diário de Lisboa onde passamos a maior parte do tempo. Até nesse aspecto julgamos que “Bipolar” realizado num meio rural não seria o mesmo feito na urbe. Ele contribui e identifica de forma adequada estes dois pontos antagónicos e tão presentes no espírito da banda e das nossas canções.

 

11 - Como foi apresentar o "Bipolar" num local icónico como o Cinema São Jorge?

Na verdade escolhemos o cinema São Jorge para apresentar "Bipolar". É um espaço acolhedor e com boas condições técnicas para este tipo de evento e a reação do público que deixou a sala muito bem composta foi excelente, inspiradora e gratificante. Confirmamos nesse dia e ao vivo que "Bipolar" tinha "pernas para andar", definitivamente. De resto, a reacção das pessoas em geral a este álbum tem sido muito positiva, expressa nos concertos e naquilo que nos é dirigido nomeadamente nas redes sociais no nossos espaços www.facebook.com/clarkoficial e www.youtube.com/clarkpt ou no canal Farol, a nossa editora. As pessoas ficam igualmente surpreendidas com a qualidade das nossas canções e com o facto da banda não ter uma maior exposição nos media. Daí que tenhamos investido muito na maior promoção possível deste disco através igualmente de entrevistas como esta para a Fantastic TV.

12 - Quais os concertos e projetos que se seguem?
Os Clark são uma banda que se realiza com concertos ao vivo. São a nossa "praia", onde nos sentimos bem e onde encenamos os nossos argumentos que são as nossas canções, a nossa interpretação e a interação com o público. Estamos ainda numa fase promocional, uma vez que o disco foi fisicamente editado já em 2014 e que foi bem preenchida com apresentações ao vivo nos meses de Maio e Junho. A nossa editora Farol Música tem feito um trabalho importante e revelado grande empenho no sentido de apresentar o álbum aos diferentes meios tendo alcançado alguns resultados de realce. No entanto há muitas barreiras, preconceitos e resistências para abrir portas a artistas com um passado não muito visível e isso também se reflete na contratação para concertos. Estamos em busca de um agenciamento que poderá de certa forma a contornar estas dificuldades.
No imediato, e até meados de 2015, contamos estar focados neste trabalho e em dá-lo a conhecer ao maior numero de pessoas, seja através dos meios promocionais, seja através da vocação principal da banda que são os concertos ao vivo, assim eles aconteçam. É natural que ainda em 2015 iniciemos um processo de gravação de novos temas para os quais há já alguns esboços.