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Duplo Clique | "Gala das Estrelas 2014" (TVI)

 Foto: Daily Cristina

A “Gala das Estrelas” repetiu o nome, repetiu a sala de espetáculos e repetiu a liderança no horário. Assim tem acontecido nos últimos anos, a festa de Natal de uma empresa transmitida como um espetáculo de variedades para todos os portugueses.
 

A “Missão Sorriso” prolongou-se durante toda a noite e serviu igualmente de mote ao evento, realizado no Salão Preto e Prata do Casino do Estoril, mas a reunião comemorativa dos profissionais do canal é um dos aspetos mais diferenciadores, aquilo que imprime uma sensação de proximidade entre os rostos da TVI e o público que os vê em casa. Sem rodeios, deve perceber-se que a “química” entre espectador e ator/apresentador/jornalista pode ser (e é, por via da produção televisiva) conseguida com recurso a determinados discursos, como se de uma publicidade se tratasse (a lógica comercial das audiências assim sugere). No entanto, a verdade é que esses discursos funcionam, marcam a diferença, aproximam o público do canal e o canal do público. Essa campanha de laços afetivos abrandou nos últimos meses, mas quem não se lembra do spot “Todas as pessoas são feitas de outras pessoas”, um dos trechos televisivos mais sublimes da autoria do departamento criativo da TVI? 



“De que é feita uma televisão?
[…] Histórias fantásticas de pessoas reais
E das normais, de pessoas extraordinárias
Para mim, são as pessoas
Sem dúvida, as pessoas. As pessoas
E todas as pessoas são feitas de outras pessoas”

A gala de Natal e a “Festa de Verão” da TVI são os dois momentos em que os profissionais do canal deixam cair as barreiras que separam as suas funções e os respetivos departamentos. Os atores divertem-se com os colegas apresentadores e os colegas jornalistas esquecem por momentos as hard-news com que todos os dias informam o público. A massa de gente que, em casa, sintoniza inconscientemente a televisão no canal quatro e a vai ouvindo como companhia: são as donas-de-casa, os estudantes e os utentes nas salas de espera, entre tantos outros milhares. 

   

Manuel Luís Goucha, Cristina Ferreira e Fátima Lopes foram os anfitriões da noite, emprestando o microfone às caras da estação que subiram ao palco para deixar o apelo do “760”. Longe vão os tempos dos espetáculos mais sofisticados, com direito a orquestra em palco (por decisão orçamental, houve até um ano em que a gala não aconteceu). Os espetáculos dos últimos anos têm oscilado no que respeita à qualidade do entretenimento, mas as soluções criativas, que não são infinitas, mantêm-se decisivas para conceber as galas dinâmicas, e em certos momentos digas de recordação, que a TVI tem feito.

  

O alinhamento deste ano apostou mais na espectacularização visual dos números. Cifrão e Noua Wong foram os geniais coreógrafos do corpo de baile, presente em quase todas as atuações, e a realização de Vasco Vilarinho o principal responsável pelo efeito espantoso da gala. Como não podia deixar de ser, algum do humor foi “contaminado” pela atmosfera da “Casa dos Segredos”. Maria Rueff surpreendeu tudo e todos, uma vez mais, com a sua interpretação sarcástica e hilariante de Teresa Guilherme, qual personagem de voz esganiçada com as expressões físicas e orais sui generis. Reproduzindo a paródia que Rueff protagonizava na RTP no programa “Estado de Graça”, a TVI mostrou que sabe rir-se de si própria e os espectadores, certamente, adoraram. 

   

Poderiam ter adorado ainda mais o espetáculo se os apresentadores da TVI não tivessem partilhado atuações com os convidados musicais de excelência que o canal contratou – Miguel Araújo, Luísa Sobral, HMB e Carlos do Carmo, o único português a ganhar um Grammy –, concedendo-lhes antes o merecido tempo de antena como artistas reputados que são. Ainda assim, as cantorias foram bem-sucedidas, destacando-se a atuação ao rubro dos HMB com Manuel Melo e o ator Vítor Silva Costa, e a música original “Natal aqui na TVI” cantada por Pedro Granger. A grande voz do espetáculo foi, sem nota de dúvidas, Carlos do Carmo, o convidado de honra com o melhor momento artístico do serão, que pelo orgulho e prestígio imensos que representa para Portugal, arrancou veementes aplausos. Ficou a esperança de ainda existir espaço nas televisões generalistas reservado aos verdadeiros artistas, contribuindo para a desintoxicação do gosto musical do povo e para uma elevação do espírito. Quanto ao espírito do sorriso, a missão foi cumprida: no final da noite os donativos das chamadas telefónicas perfizeram cerca de 300 mil euros.
   


A multifacetada sala de espetáculos em Cascais recebeu, assim, mais uma transmissão exclusiva da TVI, seduzindo mais de um milhão e 405 mil pessoas ao longo de duas horas e meia. Os confettis rebentaram no final, como quem diz que a TVI faz a festa, atira os foguetes e são os espectadores a ir buscar as canas, para ver a festa todos os dias.  

Duplo Clique - 31ª Edição
Uma crónica de André Rosa