Fantastic Entrevista... Guilherme Fonseca
FANTASTIC ENTREVISTA
TEMPORADA 7 / EDIÇÃO 5 / NOVEMBRO DE 2014
1 - Durante vários anos foi guionista de vários programas da televisão nacional. Como surgiu a paixão pela escrita?
Não sei bem dizer. Apesar de nascido e criado na capital, fiz o secundário fora de Lisboa. E foi nesse 3 anos, numa cidade diferente, que comecei um blog, vá-se lá saber porquê. (Acho que era moda na altura, como os crocs agora.) A verdade é que todos os meus posts acabavam por se dirigir para a comédia. Ao mesmo tempo, apaixonei-me pela escrita, pelo humor e por cinema, o que levou a que tirasse mais tarde um curso de escrita nas Produções Fictícias e uma licenciatura em guionismo na ESTC. E tcharan. Acabei guionista de comédia.
Não sei bem dizer. Apesar de nascido e criado na capital, fiz o secundário fora de Lisboa. E foi nesse 3 anos, numa cidade diferente, que comecei um blog, vá-se lá saber porquê. (Acho que era moda na altura, como os crocs agora.) A verdade é que todos os meus posts acabavam por se dirigir para a comédia. Ao mesmo tempo, apaixonei-me pela escrita, pelo humor e por cinema, o que levou a que tirasse mais tarde um curso de escrita nas Produções Fictícias e uma licenciatura em guionismo na ESTC. E tcharan. Acabei guionista de comédia.
2 - Do seu currículo fazem parte programas como "Última Ceia", "Ídolos" ou "Feitos ao Bife". De que forma escrever para formatos tão diferentes é um desafio para um guionista?
É óptimo. Eu temo pelo dia em que escrevo sempre a mesma coisa. Eu próprio não me rio sempre das mesmas coisas. Porque tenho de escrever sempre igual? Sejam sketchs, concursos ou o piadas de política e actualidade (como o "Inferno" que apresento agora) o desafio é encontrar uma opinião, um ângulo cómico ou uma piada nova em todo o lado. O sentido de humor é como um ginásio: se trabalhamos sempre o mesmo músculo, ficamos disformes.
É óptimo. Eu temo pelo dia em que escrevo sempre a mesma coisa. Eu próprio não me rio sempre das mesmas coisas. Porque tenho de escrever sempre igual? Sejam sketchs, concursos ou o piadas de política e actualidade (como o "Inferno" que apresento agora) o desafio é encontrar uma opinião, um ângulo cómico ou uma piada nova em todo o lado. O sentido de humor é como um ginásio: se trabalhamos sempre o mesmo músculo, ficamos disformes.
3 - Atualmente, está ligado ao Canal Q, tanto como ator, como guionista e apresentador. O Q foi eleito o Melhor Canal de Entretenimento Nacional pelo 'Meios e Publicidade'. De que forma este prémio é importante para a equipa? E qual a importância deste projeto na televisão portuguesa?
O prémio é óptimo porque agora sim, andamos incrivelmente arrogantes. Estou a brincar. É sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido mas não creio que alguém no Q trabalhasse (eu pelo menos não o fazia) para receber prémios. Eu trabalho pelo gosto de fazer um programa como o Inferno. (Ah, e para pagar a renda. Parece que também é importante.) Em relação à importância de um projecto destes na televisão portuguesa: sinto que é enorme. Somos praticamente o único canal português a preencher toda a grelha com conteúdos originais e totalmente "tugas". O Canal Q teve apenas 2 programas importados em quase 5 anos de existência. O resto é tudo feito por nós. Nós andamos a provar, com pouco dinheiro e poucas horas de sono, que é possível remar contra a maré.
4 - Como apresentador, é uma das caras de um dos principais formatos do Canal Q, o "Inferno". Como é escrever e apresentar este formato diário?
É um stress enorme. Não posso dizer que é tudo "lindo e maravilhoso" porque seria uma gigantesca mentira. Escrever o guião, todos os dias, até às 14h é uma correria. Fazer entrevistas (para mim que não tenho formação nenhuma nesse campo) é uma pressão enorme. Depois apresentar já é divertido, uma adrenalina óptima embora desgastante. Só finalmente, quando acaba tudo, é que me consigo rir e saborear o que fiz. Aí sim. No dia seguinte de manhã, recomeça a corrida outra vez. É incrível. Mas um stress.
5 - O "Inferno" vive muito da atualidade, jogando com as notícias diárias e dando-lhe um toque de humor. Como vê atualmente os meios informativos da televisão nacional? Acha que os temas são tratados sempre da melhor forma?
Não. Posso dizer com alguma confiança, apesar de não ser jornalista e não dever falar assim do trabalho dos outros, mas não. Os jornalistas sofrem muitas vezes de duas coisas: de falta de dinheiro/apoio. E da "comercialização" das notícias. Não só já não há o jornalismo de investigação e de terreno que havia há uns anos atrás - porque não há dinheiro - como agora parece que os telejornais lutam pelas audiências da mesma forma que outro programa qualquer. Há 3 ou 4 canais de notícias a funcionar durante 24 horas. Onde é que há 24 horas de notícias em Portugal? Claro que acontecem duas coisas: ou os canais parecem uma tia chata que não sabe contar histórias ("morreram 4 com Legionella. Não, foram 3, um não se sabe. Espera, afinal são 2, um engasgou-se com um pastel de bacalhau, assim é que é.") ou então fazem figuras tristes como a da notícia do Diogo Morgado no "Game Of Thrones". Como é que num telejornal da SIC (canal onde de certeza têm o número de telefone da agente do Diogo Morgado) se faz uma peça baseada numa brincadeira partilhada no Facebook? É por isso que digo que "não". É o que sinto.
6 - "Camada de Nervos" é outro dos programas do canal Q no qual participa enquanto ator e guionista. Porque é que acha que os canais generalistas não apostam em formatos deste género, com uma linguagem diferente dos habituais sketchs apresentados?
A linguagem do "Camada de Nervos" foi muito associada à "Porta dos Fundos" mas nem sempre pela razão certa. O mais parecido que tinha era a qualidade de imagem, nem sempre os textos. A equipa de guionistas do "Camada de Nervos" era muito grande, portanto não tinha um "género" definido. Havia um pouco de tudo no "Camada" e isso acho que acabou por ser um dos trunfos do programa. Acho que os outros canais não arriscam pelo mesmo problema de sempre: é trabalhoso (a nível de produção) e é caro (a nível de carcanhol).
7 - É um dos guionistas da sitcom "Ah Pois, Tá Bem?" da TVI Ficção. Como é trabalhar num formato tão diferente do registo a que está habituado e para um público mais abrangente?
A resposta é praticamente a mesma da pergunta 2. Foi um desafio grande escrever num tom tão diferente do que estou habituado mas não queria estar sempre a fazer a mesma coisa. Tinha de ir ao "ginásio", lá está.
8 - O Stand up comedy é outra das vertentes exploradas pelo Guilherme. O palco continua a ser o local onde se sente mais à vontade? O facto de ter a reação direta do público é mais estimulante?
Sim. E é mesmo por isso. Não só, mas principalmente pela reacção directa. Não há duas actuações de stand up comedy iguais, por muito que se repita o texto. Cada público é um público e cada noite é uma noite (chiça, sou um poeta). Esse lado "arriscado" e de "improviso" de cada actuação é uma adrenalina que não encontro em mais lado nenhum. Dá uma grande segurança gravar um programa para uma câmara e ir para casa. O público não. O público vai-te dizendo, piada a piada, se estás a ir bem ou mal.
9 - Atualmente, devido sobretudo à visibilidade no Canal Q e também pelos espetáculos que realiza de norte a sul, é cada vez mais uma referência do humor em Portugal. Como lida com tudo isto? É muitas vezes abordado na rua?
(inserir riso javardo e despropositado) Não me considero uma "referência". O Herman é uma referência. O Raul Solnado é uma referência. O Miguel Esteves Cardoso é uma referência. O Ricardo Araujo Pereira é uma referência. Eu sou apenas um comediante que trabalha no Canal Q e que faz stand-up pelo país. Não sou "conhecido". Não há ninguém que faça humor, ou tenha mudado o seu humor, por minha causa. Eu quero divertir-me e divertir. Se pelo caminho ganhar mais fãs e seguidores do meu trabalho, perfeito. Porque lá está, convém pagar a renda.
O prémio é óptimo porque agora sim, andamos incrivelmente arrogantes. Estou a brincar. É sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido mas não creio que alguém no Q trabalhasse (eu pelo menos não o fazia) para receber prémios. Eu trabalho pelo gosto de fazer um programa como o Inferno. (Ah, e para pagar a renda. Parece que também é importante.) Em relação à importância de um projecto destes na televisão portuguesa: sinto que é enorme. Somos praticamente o único canal português a preencher toda a grelha com conteúdos originais e totalmente "tugas". O Canal Q teve apenas 2 programas importados em quase 5 anos de existência. O resto é tudo feito por nós. Nós andamos a provar, com pouco dinheiro e poucas horas de sono, que é possível remar contra a maré.
4 - Como apresentador, é uma das caras de um dos principais formatos do Canal Q, o "Inferno". Como é escrever e apresentar este formato diário?
É um stress enorme. Não posso dizer que é tudo "lindo e maravilhoso" porque seria uma gigantesca mentira. Escrever o guião, todos os dias, até às 14h é uma correria. Fazer entrevistas (para mim que não tenho formação nenhuma nesse campo) é uma pressão enorme. Depois apresentar já é divertido, uma adrenalina óptima embora desgastante. Só finalmente, quando acaba tudo, é que me consigo rir e saborear o que fiz. Aí sim. No dia seguinte de manhã, recomeça a corrida outra vez. É incrível. Mas um stress.
5 - O "Inferno" vive muito da atualidade, jogando com as notícias diárias e dando-lhe um toque de humor. Como vê atualmente os meios informativos da televisão nacional? Acha que os temas são tratados sempre da melhor forma?
Não. Posso dizer com alguma confiança, apesar de não ser jornalista e não dever falar assim do trabalho dos outros, mas não. Os jornalistas sofrem muitas vezes de duas coisas: de falta de dinheiro/apoio. E da "comercialização" das notícias. Não só já não há o jornalismo de investigação e de terreno que havia há uns anos atrás - porque não há dinheiro - como agora parece que os telejornais lutam pelas audiências da mesma forma que outro programa qualquer. Há 3 ou 4 canais de notícias a funcionar durante 24 horas. Onde é que há 24 horas de notícias em Portugal? Claro que acontecem duas coisas: ou os canais parecem uma tia chata que não sabe contar histórias ("morreram 4 com Legionella. Não, foram 3, um não se sabe. Espera, afinal são 2, um engasgou-se com um pastel de bacalhau, assim é que é.") ou então fazem figuras tristes como a da notícia do Diogo Morgado no "Game Of Thrones". Como é que num telejornal da SIC (canal onde de certeza têm o número de telefone da agente do Diogo Morgado) se faz uma peça baseada numa brincadeira partilhada no Facebook? É por isso que digo que "não". É o que sinto.
6 - "Camada de Nervos" é outro dos programas do canal Q no qual participa enquanto ator e guionista. Porque é que acha que os canais generalistas não apostam em formatos deste género, com uma linguagem diferente dos habituais sketchs apresentados?
A linguagem do "Camada de Nervos" foi muito associada à "Porta dos Fundos" mas nem sempre pela razão certa. O mais parecido que tinha era a qualidade de imagem, nem sempre os textos. A equipa de guionistas do "Camada de Nervos" era muito grande, portanto não tinha um "género" definido. Havia um pouco de tudo no "Camada" e isso acho que acabou por ser um dos trunfos do programa. Acho que os outros canais não arriscam pelo mesmo problema de sempre: é trabalhoso (a nível de produção) e é caro (a nível de carcanhol).
7 - É um dos guionistas da sitcom "Ah Pois, Tá Bem?" da TVI Ficção. Como é trabalhar num formato tão diferente do registo a que está habituado e para um público mais abrangente?
A resposta é praticamente a mesma da pergunta 2. Foi um desafio grande escrever num tom tão diferente do que estou habituado mas não queria estar sempre a fazer a mesma coisa. Tinha de ir ao "ginásio", lá está.
8 - O Stand up comedy é outra das vertentes exploradas pelo Guilherme. O palco continua a ser o local onde se sente mais à vontade? O facto de ter a reação direta do público é mais estimulante?
Sim. E é mesmo por isso. Não só, mas principalmente pela reacção directa. Não há duas actuações de stand up comedy iguais, por muito que se repita o texto. Cada público é um público e cada noite é uma noite (chiça, sou um poeta). Esse lado "arriscado" e de "improviso" de cada actuação é uma adrenalina que não encontro em mais lado nenhum. Dá uma grande segurança gravar um programa para uma câmara e ir para casa. O público não. O público vai-te dizendo, piada a piada, se estás a ir bem ou mal.
9 - Atualmente, devido sobretudo à visibilidade no Canal Q e também pelos espetáculos que realiza de norte a sul, é cada vez mais uma referência do humor em Portugal. Como lida com tudo isto? É muitas vezes abordado na rua?
(inserir riso javardo e despropositado) Não me considero uma "referência". O Herman é uma referência. O Raul Solnado é uma referência. O Miguel Esteves Cardoso é uma referência. O Ricardo Araujo Pereira é uma referência. Eu sou apenas um comediante que trabalha no Canal Q e que faz stand-up pelo país. Não sou "conhecido". Não há ninguém que faça humor, ou tenha mudado o seu humor, por minha causa. Eu quero divertir-me e divertir. Se pelo caminho ganhar mais fãs e seguidores do meu trabalho, perfeito. Porque lá está, convém pagar a renda.
10 - Fora do pequeno ecrã, como vê o atual estado da Cultura do nosso país? E o estado do 'nosso' Estado?
As coisas não estão óptimas? Não estamos com BES: "sólidos"? Não temos cinemas a abrir? Filmes novos a estrear todos as semanas? Teatros a encher todos os dias? De uma forma directa digo: estamos uma merda. Estamos preso a uma austeridade agressiva e violenta. Toda a gente tem duas hipoteses: ou emigra ou tenta fazer omeletes sem ovos. Há muito boa criatividade que nasce de tempos maus, mas não há geração que se eduque e cresça culta nestes moldes em que estamos. Ou muda alguma coisa. Ou o mais próximos que todos acabamos de "cultura" é ligar para um 760 e ganhar dinheiro em cartão.
11 - Ambiciona ter um programa em sinal aberto, com maior visibilidade? Ou prefere trabalhar num canal como o Q, mais livre e alternativo?
Para já sinto-me bem no Q. Na cabo, em geral. Os canais de sinal aberto estão a passar por uma fase grande de transformação. De repensar cachets grandes e tácticas de audiência. Vão depois entrar na fase de "encontrar vozes novas e diferentes para fazer programas". Uma fase de renovar o star system. E nessa altura, no fim desta fase de transição, logo penso nisso. Para já os canais grandes são mais do mesmo. Mas sem o dinheiro de antigamente. No Q há pouco dinheiro mas há liberdade. E isso não se paga. Já a renda... (ok, eu paro com isto).
12 - Enquanto profissional, o que lhe falta fazer?
Ui. Tanta coisa. Não quero propriamente ser uma Kim Kardashian (que de apresentadora a actriz, passando por modelo, cantora e capa de revista de rabos, já foi tudo). Mas quero experimentar mais coisas. Diferentes. Gostava de voltar a fazer rádio. Gostava de experimentar mais espectáculos em palco. Gostava de experimentar um programa de tv em directo. Só não quero é ser sempre a mesma coisa.
13 - Acha que Portugal ainda tem capacidade para se rir dos outros e de si mesmo?
Sim. Acho que nos sabemos rir de nós próprios. Só não gostamos muito quando os outros se riem de nós. Podes contar as anedotas todas de alentejanos que te lembrares. Mas se um espanhol ou um brasileiro as contar, ficas ofendido. Mas fora isso acho que somos um povo "gozão".
14 - Em poucas palavras, como descreveria o Guilherme Fonseca?
Fácil: está a ficar careca. (O que é só deprimente. E verdade. Na mesma proporção.)
As coisas não estão óptimas? Não estamos com BES: "sólidos"? Não temos cinemas a abrir? Filmes novos a estrear todos as semanas? Teatros a encher todos os dias? De uma forma directa digo: estamos uma merda. Estamos preso a uma austeridade agressiva e violenta. Toda a gente tem duas hipoteses: ou emigra ou tenta fazer omeletes sem ovos. Há muito boa criatividade que nasce de tempos maus, mas não há geração que se eduque e cresça culta nestes moldes em que estamos. Ou muda alguma coisa. Ou o mais próximos que todos acabamos de "cultura" é ligar para um 760 e ganhar dinheiro em cartão.
11 - Ambiciona ter um programa em sinal aberto, com maior visibilidade? Ou prefere trabalhar num canal como o Q, mais livre e alternativo?
Para já sinto-me bem no Q. Na cabo, em geral. Os canais de sinal aberto estão a passar por uma fase grande de transformação. De repensar cachets grandes e tácticas de audiência. Vão depois entrar na fase de "encontrar vozes novas e diferentes para fazer programas". Uma fase de renovar o star system. E nessa altura, no fim desta fase de transição, logo penso nisso. Para já os canais grandes são mais do mesmo. Mas sem o dinheiro de antigamente. No Q há pouco dinheiro mas há liberdade. E isso não se paga. Já a renda... (ok, eu paro com isto).
12 - Enquanto profissional, o que lhe falta fazer?
Ui. Tanta coisa. Não quero propriamente ser uma Kim Kardashian (que de apresentadora a actriz, passando por modelo, cantora e capa de revista de rabos, já foi tudo). Mas quero experimentar mais coisas. Diferentes. Gostava de voltar a fazer rádio. Gostava de experimentar mais espectáculos em palco. Gostava de experimentar um programa de tv em directo. Só não quero é ser sempre a mesma coisa.
13 - Acha que Portugal ainda tem capacidade para se rir dos outros e de si mesmo?
Sim. Acho que nos sabemos rir de nós próprios. Só não gostamos muito quando os outros se riem de nós. Podes contar as anedotas todas de alentejanos que te lembrares. Mas se um espanhol ou um brasileiro as contar, ficas ofendido. Mas fora isso acho que somos um povo "gozão".
14 - Em poucas palavras, como descreveria o Guilherme Fonseca?
Fácil: está a ficar careca. (O que é só deprimente. E verdade. Na mesma proporção.)
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