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Duplo Clique | "Vozes em queda-livre"

 

    Os domingos da televisão portuguesa continuam a ser uma grande cruz, à tarde, e um grande X, ao serão. “Factor X” entrou na fase de galas e atuações ao vivo. Os concorrentes dão a voz, o corpo e a alma pela fama e pelo contrato com a discográfica, mas a SIC tem um problema: as vozes soam bem alto e as audiências permanecem rasteiras. A segunda edição do concurso chegou aos diretos com mais espetacularidade e melhor condução… porém, as notas continuam soltas.

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Um certo desnorte deve ter-se instalado no escritório de Luís Marques, diretor-geral da SIC, para frases tão resignadas terem vindo a público. “Não ficámos agradados [com as audiências], obviamente, mas agora está feito. Vamos ter o programa até ao final do ano”. É tempo de aguentar o barco, como se costuma dizer, apesar de, numa entrevista, o responsável do canal ter identificado o maior problema destes programas de talentos: “desgaste do género”. Alguma novidade?

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Os diretos trouxeram uma novidade na apresentação, Cláudia Vieira de braço dado a João Manzarra. Depois das prestações lineares e pouco memoráveis de Bárbara Guimarães o ano passado, a dupla jovem e elegante finalmente recebeu o seu espaço. A glamourosa atriz vestiu-se de gala e de branco mas nem por isso clareou os nervos da estreia. É pena que os apresentadores se limitem a “encher chouriços” e a entrevistar as famílias dos concorrentes em conversas tão áridas, mesmo que o humor de Manzarra tente colorir os diálogos. É pena que os apresentadores sejam incumbidos de debitar as linhas telefónicas de votação. Aquele que é, em primeira instância, um sintoma deste tipo de programa em que os jurados são cabeça de cartaz, também é um dos principais problemas da SIC: não criar empatia com os telespectadores, construindo laços emotivos e uma identidade pela qual as audiências se apaixonem.

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De facto, as galas de “Factor X” são concebidas para um público mais jovem, de perfil mais volátil e insatisfeito, mas interessado em assistir à montanha-russa por onde sobem ou descarrilam as futuras estrelas da música Pop. Acontece que, aparentemente, cada emissão é uma mina de ouro por descobrir. De Paulo Junqueiro a Sónia Tavares, as apreciações são estranhamente unânimes e ecoam sobre os concorrentes, todos potenciais vencedores. “Fantásticos”, “maravilhosos”, “incríveis”, “espetaculares” e, quem diria, assunto poético – “um monstro de recorte de leveza” – assim se referiu Miguel Guedes à melhor atuação da noite, de Isabela, do tema “Stay” de Rihanna. Esgotam-se os adjetivos da Língua Portuguesa em cada comentário final, quando no final a expulsão, da responsabilidade do público, confirma que nem todos os finalistas eram a “última bolacha do pacote”.

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A SIC esmerou-se na produção e quis surpreender o público. As luzes ritmadas e espampanantes impuseram a sua presença no ecrã quase numa disputa de espaço com os cantores. Se as vozes são grandes, o palco é maior. Nem o recurso a um corpo de baile mais expressivo e a artifícios cenográficos como o fumo de palco foram suficientes para explorar melhor a área vital do espetáculo, além de a realização insistir em desviar do enquadramento as coreografias dos bailarinos. As VT’s de apresentação dos concorrentes e dos jurados merecem, de resto, os maiores elogios, pela envolvência quase épica que produziram.

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“Factor X” é uma montra das melhores cordas vocais portuguesas e o leque de concorrentes é sem dúvida poderoso. Ainda assim, a gala de estreia perdeu público, perdeu para a RTP e acabou por prender à televisão uma média inferior às 800 mil pessoas. Se nem elas nem quem produz o programa sabem dizer o que é o fator “x”, não é de estranhar que também não saibam porque é que o concurso está a perder o pio. Pelo menos até daqui a uns anos. 

"Factor X", para ver aos domingos, às 21h30, na SIC.

Duplo Clique - 26ª Edição
Uma crónica de André Rosa