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Fantastic Entrevista... Cucha Carvalheiro

  FANTASTIC ENTREVISTA 
TEMPORADA 7 / EDIÇÃO 1 / SETEMBRO DE 2014

1 - Cucha Carvalheiro é um dos nomes maiores da ficção portuguesa. Quando surgiu o gosto pela representação?
Essa dos nomes maiores deve ser porque tem muitas sílabas! Em criança quis ser bailarina (descobri há uns anos um desenho meu, num caderno da 2ª classe, com um palco, dois projectores e uma menina no centro. A legenda: “this girl is dancing in the air”). Nessa altura estava no colégio inglês e gostava muito das aulas de ballet. Depois fui para Angola, para uma escola onde não havia ballet e o sonho do palco adormeceu. Só acordou já na faculdade, no Grupo Cénico da Faculdade de direito, em Lisboa. Aí descobri que queria ser actriz.

http://www.barlavento.pt/upload/multimedia/TN1300368897.jpg2 - Os seus primeiros passos enquanto atriz são dados no teatro. Como recorda esses momentos?
Foram tempos de grandes descobertas: comecei por colaborar como contra-regra, o tal sonho do palco ainda estava adormecido, e foi o Adolfo Gutkin, que era o encenador, que um dia, nos bastidores, estando o espectáculo a decorrer, me disse: ”estás morta por saltar lá para dentro”. Tinha razão… Descobri a minha vocação. E o facto de ter começado pelo trabalho de bastidores ensinou-me que a arte de representar é um trabalho colectivo, que aquilo que o público vê é o resultado do trabalho de muita gente que fica na sombra.
 
3 - Como foi viver o início da televisão em Portugal?
No início da televisão em Portugal eu tinha 9 anos, vivi-os apenas como espectadora assídua das “noites de teatro”, um programa semanal da RTP, com peças de teatro produzidas pela própria RTP e emitidas em directo. Foi assim que comecei a gostar de teatro. Apesar da censura, nesse tempo havia serviço público…

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A telenovela "Na Paz dos Anjos" foi emitida em 1994 pela RTP1.

4 - A primeira telenovela na qual participou foi "Na Paz dos Anjos", estreada na RTP há precisamente 20 anos. Qual a importância da 'Laurinda' na sua carreira?
Devo a “Laurinda” ao Nicolau Breyner, que me vira num café-teatro da Comuna. Foi uma experiência extraordinária, o elenco era enorme, com actores de várias gerações como o Armando Cortês, a Fernanda Borsati, a Maria José, o João Perry, e os mais novos ou os inexperientes como eu bebíamos as histórias que eles nos contavam e aprendíamos, vendo-os fazer. 

5 - A ficção nacional tem evoluído de forma exponencial nos últimos anos, nomeadamente a nível técnico e artístico. Concorda com esta afirmação? Porquê?
Concordo plenamente. A experiência acumulada de sucessivas gerações vai gerando profissionais cada vez mais qualificados. A quantidade gera qualidade. E poderíamos estar em condições de fazer muito melhor se houvesse mais tempo, quer de preparação (escrita, pré-produção, ensaios), quer de gravação e de pós-produção. Mas tempo é dinheiro…

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Em "Depois do Adeus" interpretou a personagem Cidália Figueiredo.
6 - A última produção na qual a vimos enquanto atriz foi na série "Depois de Adeus", um marco na ficção histórica. Qual a importância deste tipo de produtos na nossa televisão?
Tudo aquilo que diz respeito à nossa memória colectiva, como é o caso de “Depois do Adeus”, deveria, a meu ver, fazer parte da estratégia do serviço público de televisão. É quase inconcebível que só quarenta anos depois do 25 de Abril se produzisse uma série sobre o drama dos chamados “retornados”. O problema é, mais uma vez, o dinheiro, mas, no caso da televisão pública, é também uma questão política. Uma série de época, feita com o cuidado com que se produziu o “Depois do Adeus”, é um produto caro. Enquanto não houver uma definição clara do que é o serviço público de televisão, como se financia, e se é ou não relevante um financiamento sólido ao serviço de uma política cultural séria, séries como o ”Depois do Adeus” serão, lamentavelmente, escassas

7 - Atualmente é diretora de atores da novela "O Beijo do Escorpião", trama que é agora líder de audiências. Acha que o papel de um diretor de atores por vezes é desvalorizado? Qual a importância do mesmo para o sucesso do produto?
Não me parece que o papel do director de actores seja, de um modo geral, desvalorizado. Não é essa a minha experiência. Teoricamente, a função deveria pertencer ao realizador. É isso que acontece no cinema, por exemplo. Mas ao ritmo a que trabalhamos em televisão em Portugal, o director de actores é fundamental para assegurar a coerência das personagens e de todo o elenco em função da história que se quer contar, para resolver pequenos problemas de interpretação do texto que sempre surgem nas gravações, para ensaiar e integrar os actores que aparecem a meio da história. Em última análise, para dar segurança aos actores, porque o realizador está concentrado numa série de questões ao mesmo tempo e o director de actores está só e apenas a olhar para os actores.

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Cucha Carvalheiro com parte do elenco de "O Beijo do Escorpião".
8 - Foi ainda diretora de atores da 1ª série de "Morangos com Açúcar" e lecionou representação na ESTC. Como foi trabalhar com atores mais jovens? Existe muito talento nas novas promessas da representação em Portugal?
Não fui a primeira directora de actores dos “Morangos”. A primeira directora de actores dos “Morangos” foi a actriz Manuela Maria, a meu convite. Eu era directora artística da NBP. Quanto à questão dos jovens, comecei a dar aulas de interpretação e a dirigir actores e fazer castings há cerca de 15 anos. É muito estimulante verificar a diferença que existe entre os jovens de há quinze anos e os de agora. Como se o facto de terem crescido a ver ficção em português e outros jovens da sua idade a representar, os tivesse já ensinado a serem mais confiantes, menos inibidos, mais disponíveis. Talento existe, como já existia.

9 - Já participou também em vários filmes, nomeadamente no filme "Silvestre" de João César Monteiro, a sua estreia no grande ecrã. Gostaria de voltar a representar para cinema?
Embora, lamentavelmente, se faça cada vez menos cinema em Portugal, já participei em mais alguns filmes depois do “Silvestre”… Vou, por acaso, fazer uma participação numa curta-metragem no próximo mês de Outubro. Gostaria de fazer mais cinema, penso que os realizadores portugueses também…

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Em "O Rei Leão" Cucha deu a voz a Shenzi, que no original foi dobrado por Whoopi Goldberg.

10 - Deu voz a inúmeras personagens dos filmes de animação da Disney, como é o caso da Úrsula de "A Pequena Sereia" ou a Bruxa de "Branca de Neve. Como é realizar este tipo de trabalho?
É muito divertido. Sobretudo é gratificante quando uma criança nos reconhece pela voz deste ou daquele personagem.


11 - Atualmente, como vê o estado da cultura em Portugal?
Vejo o estado para um lado e a cultura para o outro. Vejo a cultura a ser confundida com o entretenimento. Vejo a arte a ser confundida com o negócio. Devo estar com problemas de visão…

12 - O que lhe falta fazer enquanto atriz?
Trabalhar mais como actriz. 

EM POUCAS PALAVRAS
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Um filme... 1900 de Bernardo Bertoluci
Uma série... Depois do Adeus
Um sonho... Voltar a acreditar que o mundo pode ser bem melhor.
Uma peça de teatro... A Cabra, de Edward Albee.
Um ídolo... Não tenho.
A companhia ideal... Um bom romance.
Um destino de sonho... Um cruzeiro a Angola num paquete como os da minha infância.
Ser atriz é... Brincar a sério.
A Cucha Carvalheiro é... de confiança.