Duplo Clique | "Maré-baixa em Queluz"
“As tardes de sábado nunca mais vão ser as mesmas”. Ou vão? Prometendo uma folia estival, assim estreou na TVI, no sábado, o programa “Juntos no Verão”, formato de entretenimento puro apresentado por Teresa Guilherme e conduzido por Isabel Silva. O verão ainda agora chegou e a produção de Queluz de Baixo não pretende deixar as tardes arrefecer – mas a tarefa é difícil. Quando o calor apertar e a toalha de praia for o único local de repouso dos portugueses em opção ao eterno sofá, não haverá maré que inunde de sucesso o programa da TVI. O horário de sábado está queimado de tantas insistências com estes formatos e “Juntos no Verão” não parece ser aquele irresistível “lugar ao sol”. Até porque não sai do estúdio.
É isso mesmo: um programa de verão que não vai ao lugar de excelência do verão – a praia – deve ter medo de se queimar. Ou de mergulhar fora de pé, já que “Juntos no Verão” seria (de acordo com a imprensa especializada) um programa mais fresco e dado a banhos, em piscinas ou em tournée pelas praias de norte a sul do país. E não só não saiu do estúdio climatizado, como também não molhou os pés. Isabel Silva ainda se deslocou à praia de Santo Amaro de Oeiras para entregar prémios aos banhistas despidos de forma mais irreverente, mas em pleno direto a partir do paredão, a tecnologia quis procrastinar e as emissões foram interrompidas sem aviso. Foi um balde de água fria.
A nova aposta das tardes de sábado foi entregue a uma exímia profissional da Televisão. Teresa Guilherme está como um peixe na água e não perde ritmo; como sempre, mostrou-se divertida, audaz, carismática e competente, ancorada num público cuja boa disposição parece ter sido ensaiada. Isabel Silva não denotou nervosismo, manteve-se genuína mas destacou-se pouco, porquanto das poucas vezes que surgiu no ecrã perdeu a fala. A condução do programa não poderia ter sido melhor entregue, certo, mas é a nível de conteúdos que “Juntos no Verão” morre na praia. As comparações com “Sabadabadão” são inevitáveis. SIC e TVI asseguram que “tudo pode acontecer”, entregam prémios imediatos ou através de jogos mais ou menos risíveis, despertam emoções num público subitamente protagonista e compõem assim (ainda que em horários diferentes mas no mesmo dia), formatos de entretenimento ligeiro, no qual a TVI não abdica dos imperativos “760”. Juntos até rimam, sem rimar nas audiências.
A reunião de uma família que conheceu, há anos, a dura distância da emigração foi o momento alto e mais emotivo da estreia. Mas a emissão contou ainda com muitos gestos solidários dignos de referência, como a concretização de desejos e necessidades dos concorrentes e a campanha de recolha de ração para animais, protagonizada por Manuel Luís Goucha, que imprimiu à emissão o seu bom gosto e profissionalismo, garantidos os devidos contratos publicitários.
“Juntos no Verão” é areia do mesmo balde de onde saíram os programas antecessores no horário e arrasta-se pela tarde dentro de forma injustificável, pontuando musicalmente o alinhamento com atuações de artistas convidados, menção seja feita a Nelson Freitas, que com voz ao vivo “espalhou” mel pela plateia. De resto, não acrescenta nada de novo nem ao género televisivo nem àquele horário de sábado, certamente melhor servido com a aposta em filmes internacionais, numa época do ano marcada pela quebra do consumo televisivo (veja-se que o programa de Queluz se ficou pelos 5,1% de audiência e 18% de share, patinhando na piscina das crianças enquanto “Aqui Portugal” liderava na RTP).
Será tempo de lançar a boia de salvação ao horário de sábado da TVI?
DUPLO CLIQUE [10ª EDIÇÃO]
Uma Crónica de André Rosa
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