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Duplo Clique | "A novela desceu às ruas"

 

Sedutoras desde o primeiro minuto. Vibrantes. Bonitas. Lutadoras. Quantos adjetivos poderiam descrever as mulheres? Não só as mulheres atrizes do elenco da TVI, mas especialmente aquelas que todos os dias sonham e trabalham por uma vida melhor. Um notável leque feminino emprestou o seu corpo e alma, no domingo dia 1 de junho, à grande aposta da ficção em bom português, um retrato dos nossos dias que se pintou popular, próximo, realista tanto quanto possível. À imagem do povo, em “Mulheres”, para ver diariamente na última faixa do horário-nobre.

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É uma novela de estreias absolutas e melodiosas. A começar pela indiscritível Mariza, surpreendida pelo convite para entoar o genérico da TVI – um minuto audiovisual de puro deleite que materializa o regresso às melhores aberturas de telenovelas dos últimos anos. E, tal como a vida das sete mulheres da ficção, também o tema se reinventou. Da autoria de Miguel Gameiro, a letra e música na voz da fadista mais célebre dos nossos palcos conheceu novo instrumental além do calor do piano e entraram as cordas, pontilhadas de emoções, suavidade e dinamismo.

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Porque “o tempo não para”. Não para os sete casais lisboetas timidamente apresentados no primeiro episódio, desvendando um pouco da atmosfera problemática das suas vidas. Na verdade, essas vidas foram escritas ao sabor da adaptação portuguesa do formato colombiano “El Ultimo Matrimónio Feliz”. Sobre mulheres e redigida por Eduarda Laia e Raquel Palermo, “Mulheres” tem a obrigação de cheirar a Lisboa, ao mesmo tempo que perfuma todo o país e os seus habitantes. É uma novela do povo no seu conteúdo próximo e atual; simultaneamente sofisticada nos artifícios técnicos e estéticos; que deve primar pela correta e profunda exploração dos temas sociais mais inquietantes da vida portuguesa. Como não destacar a tão prometedora personagem de Jéssica Athayde e o debate sobre a violência doméstica? Ou o flagelo socioeconómico do desemprego, protagonizado por Afonso Pimentel e pela estreia absoluta de Maria Rueff na ficção de Queluz de Baixo? 

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É de vidas que se fala em “Mulheres”, das suas dificuldades, conquistas, anseios e felicidades. Por isso, pode dizer-se que a novela, enquanto género, desceu às ruas. Parou nos semáforos, andou de transportes públicos, folheou o jornal gratuito – fez o que as mulheres anónimas fazem nas suas rotineiras jornadas entre o emprego e a família. A novela é o fenómeno televisivo mais marcante dos últimos 40 anos, desde que a RTP começou a emitir “Gabriela” após o noticiário. Consagrou-se, enquanto género, no formato de grande consumo eleito pelas audiências como a montanha-russa de teste aos seus receios e problemas, onde a crise, a família e os valores são debatidos com um quê de sensacionalismo. “Mulheres” parece não ter a ganhar com a exploração desmedida dessa matriz – configurando uma nova tentativa da Plural/TVI elevarem a qualidade dos seus produtos –, e sublinha o que une e não o que divorcia as mulheres. Inevitavelmente, poderá escorregar em alguns estereótipos, embalada pelo ímpeto de querer ser a novela de todas as portuguesas. Talvez não seja.

A estreia marcou números apreciáveis, prendendo 1 milhão e 410 mil espectadores à televisão, mas já não conseguiu liderar no horário no segundo dia. Pelo seu estrelato bem doseado e diferente, poderá revelar-se um projeto mais sustentável e consensual com as preferências dos espectadores. E mesmo que muitos não sejam adeptos deste formato de ficção especialmente próximo das donas de casa, vale a pena ver para ouvir Mariza cantar “O Tempo não Para”. Apurar os sentidos sem deter o sexto sentido, em “Mulheres”, é possível e ganha um novo significado. 

 DUPLO CLIQUE [7ª EDIÇÃO]
Uma Crónica de André Rosa