Fantastic Entrevista... Filipe Vargas

FANTASTIC ENTREVISTA 

TEMPORADA 6 / EDIÇÃO 4 / MAIO DE 2014

 

Filipe Vargas é o quarto convidado da 6ª temporada do "Fantastic Entrevista". Nesta que é a 55ª edição da rubrica do Fantastic, iremos estar à conversa com o ator, que atualmente podemos ver na novela "Sol de Inverno", da SIC. 

1 - Licenciou-se em marketing, mas como chegou à representação?

Trabalhei 10 anos como criativo em Publicidade. Gostei muito, é uma profissão fascinante, mas soube desde o princípio que não seria o que faria toda a vida. A representação esteve sempre em pano de fundo, mas como espectador: sempre gostei muito de teatro, cinema, séries, e pouco a pouco começou a crescer cada vez mais o desejo de fazer e não só de assistir. Até que um dia disse: "pronto, é agora". E atirei-me de cabeça. 

2 - Nesse momento, o que aconteceu?

Concorri a uma escola de teatro em Madrid, entrei e despedi-me. Fiquei lá a viver 4 anos e aprendi muito, ajudou-me a crescer como pessoa e foi uma formação vital para depois começar a trabalhar. No final do curso estava na dúvida entre ficar lá ou voltar para Lisboa e foi nessa altura que fiz o casting para o Dino, do "Conta-me como foi". Quando soube que tinha sido escolhido, nem pensei duas vezes, fiz as malas e voltei, tanto que já conhecia a versão original do "Conta-me", que é um formato espanhol com um sucesso enorme. E honestamente, acho que a nossa versão ficou ainda melhor. Mais cuidada, mais rigorosa e muito, muito portuguesa.

3 - Quando era criança, já queria ser ator?
Sempre fui um bocado o palhaço da família, fazia imitações, improvisava teatros, estava-me sempre a mascarar. Mas nunca pensei seriamente em ser actor, se calhar porque não havia nenhum actor na família, nem ninguém ligado ao teatro e às artes, se calhar porque na província, onde vivia, a oferta cultural e o estímulo eram menores, ou se calhar, porque ainda não era a altura. Aconteceu quando teve de acontecer.

4 - Indo até à sua carreira, o cinema é uma das áreas em que mais está envolvido. Como vê o cinema em Portugal?

Pouco tempo depois de ter começado a fazer o "Conta-me como foi", entrei no meu primeiro filme, "The Lovebirds", do Bruno de Almeida, e desde aí tenho saltado sempre entre o cinema e as séries. Já fiz mais de 15 filmes, ou seja, o cinema ocupa um lugar muito especial na minha carreira e por isso é com muita tristeza que vejo o que se está a passar neste momento. Vivemos tempos de crise e é natural que todos os sectores tenham cortes, mas o cinema teve um corte de 100%. O Estado deixou, pura e simplesmente, de subsidiar o cinema. E convém dizer que estes subsídios não saem dos bolsos dos portugueses. A verba atribuída ao cinema vem de uma percentagem dos ganhos em publicidade por parte dos canais de televisão. É por isso ainda menos compreensível que se tenha congelado o finaciamento à produção nacional. E com este congelamento, não são só os realizadores e actores que sofrem. 

5 - Quais as repercurssões desse facto no meio audiovisual?

São centenas de técnicos, centenas de profissionais que se viram sem trabalho e que tiveram de encontrar outras soluções. Esta situação tem tanto de dramático como de injusto, ainda para mais numa altura em que o (pouco) cinema que é feito cá tem sido reconhecido e premiado no mundo inteiro. Realizadores como Miguel Gomes, Gonçalo Tocha ou João Salaviza, só para citar alguns, têm ganho prémios nos festivais internacionais mais importantes, como Cannes, Locarno e Berlim, mas este facto, em vez de sensibilizar o Estado para um sector que leva o nome de Portugal além-fronteiras, teve exactamente o efeito contrário - 0% de apoio. Espero sinceramente que esta situação mude. E o mundo inteiro assim o espera também. Talvez nem toda a gente tenha esta noção, mas o cinema português aparece sempre nas listas dos melhores filmes do ano em revistas como a Film Comment (americana) ou a Cahiers du Cinéma (francesa), duas das publicações mais respeitadas pelo público e pela crítica. Encontramos sempre nomes como Manoel de Oliveira, João Pedro Rodrigues / Guerra da Mata, Pedro Costa, Gabriel Abrantes e muitos outros no "best of" de cada ano, o que é um autêntico milagre tendo em conta a diminuta produção nacional. Fazemos poucos filmes, mas muito bons. E temos talento para fazer mais e melhor. Só falta vontade política. 

6 - Também já participou em várias séries, como Lua Vermelha, Conta-me Como Foi e Pai à Força. O que tem preferência em fazer e com o que é que está mais ambientado?
Um actor é, acima de tudo, um contador de histórias, por isso, mais importante que o formato (série, telefilme, telenovela) o fundamental é ter um bom guião. Por isso, assim como não tenho qualquer preconceito em relação ao formato, também não tenho preferência por nenhum. O prazer de se agarrar numa boa personagem tanto pode acontecer no cinema, como no teatro, como na televisão. Sem uma história bem contada e sem uma personagem bem desenhada, um actor está perdido.

7 - Em Sol de Inverno interpreta uma personagem muito agarrada aos livros, dono de uma livraria... Como é que se preparou para este papel?

Eu gosto de ler, gosto de livros e vou frequentemente a livrarias, por isso o mundo do Mariano não me era estranho. Mas a minha maior inspiração para a personagem veio dos alfarrabistas, que têm uma visão menos comercial do mundo editorial. Os alfarrabistas são apaixonados pela leitura, vivem num mundo à parte, alguns são autênticos ratos de biblioteca, nem sempre sociáveis, mas sempre disponíveis para aconselhar, abrir horizontes e tentar mudar a vida de alguém com um livro. Para eles, o verdadeiro prazer é estar ali, rodeado de romances, poesia e do pó dos livros, e a vida cá fora passa-lhes um bocado ao lado. E eu fui buscar muitas coisas a este universo para o Mariano.

8 - Esta é a sua primeira novela. Tem sido um grande desafio?

Estou a adorar. Não só gosto imenso do Mariano, como tenho a sorte de contracenar com actores com quem aprendo muito, actores que sabem como enriquecer uma história. No Palacete, onde vive toda aquela gente, a Lé (Ana Padrão), a "minha" Fatinha (Luciana Abreu), a Célia (Cleia Almeida), o Tomás (Jorge Corrula), a Lúcia (Diana Chaves), e muitos outros, respira-se criatividade, bom-humor e vontade de se fazer sempre o melhor em cada cena. Na livraria, os dias passados com a Victória Guerra são um autêntico prazer e as cenas entre o Mariano e a Matilde são das que mais gosto de fazer. 

 

9 - Já tinha trabalhado com a atriz?

Eu e a Victória conhecemo-nos na rodagem do filme "As Linhas de Wellington", de Valeria Sarmiento, e desde aí que não nos temos perdido de vista, acho que é uma actriz com um talento enorme. E depois, estar num projecto televisivo com nomes como a Rita Blanco, o João Perry, a Ana Nave, a Maria João Luís, a Márcia Breia, a Fátima Belo, só para citar alguns, é um orgulho para qualquer actor.

10 - Sol de Inverno e, em geral, a ficção da SIC, tem tido grande sucesso. Como vê este sucesso nas audiências?

O sucesso começa pela escrita. A SIC, desde que começou a fazer novelas com a SP, apostou primeiro nos guiões, porque perceberam que o público gosta, acima de tudo, que lhe contem uma boa história. E houve também sempre uma preocupação especial com o elenco, com a fotografia, com os detalhes dos décors, com a caracterização, com o guarda-roupa, com toda a parte técnica. Numa palavra, o sucesso vem da qualidade. E tenta-se sempre fazer melhor.

11 - O que é reservado para o futuro na novela do Mariano?

Para saber isso, nada melhor do que ver o Sol de Inverno diariamente.