Duplo Clique | "Comédia a Quatro"

A TVI abriu as portas à família Telles de Britto no passado dia 7 à meia-noite. O programa “Giras & Falidas” chegou finalmente aos ecrãs de Queluz de Baixo, cumprindo uma promessa eternamente adiada, para gáudio dos espectadores e dos resultados audiométricos. A madame falida, a herdeira histérica e a filha trabalhadora, o merceeiro e a sempre prestável empregada deram-nos as boas-vindas à “Pensão das Falidas”, com “comida caseira e águas correntes quentes e frias”.

O verdadeiro foco dos holofotes recai, necessariamente, sobre as interpretações exímias levadas a cabo pelas atrizes principais Carla Andrino, Jéssica Athayde, Laura Galvão e Sofia Nicholson. Carla Andrino consegue deliciar os espectadores com a sua personagem altamente trabalhada e dotada de uma margem de manobra caraterística. A brilhante atriz construiu uma princesa falida de primeira categoria: carismática, apaixonante, desequilibrada, histérica e comovente, dramática, ociosa, enfim, uma rainha sem trono. O seu braço direito – no dinheiro e na falta dele – é a sua filha Diana de Telles Britto (Jéssica Athayde), personagem-cliché de uma jovem que nunca fez nada na vida, que se bamboleia nos saltos altos, estima as aparências e raramente usa os dois neurónios que tem.
Está claro que a sobrevivência daquela família não poderia depender exclusivamente das madames de Sintra. Ana Luísa (Laura Galvão) é a outra herdeira da família depauperada. Consciente das dificuldades e exigências da vida, procurou incessantemente um trabalho que lhe permitisse pagar o curso de advocacia e ainda equilibrar as finanças da “mansão”, ajudando a empregada Maria da Conceição Domingos (Sofia Nicholson) a governar a anarquia instalada. Laura Galvão deu um enorme salto qualitativo enquanto atriz, depois de vestir a pele da jovem estudante Madalena na sexta temporada de “Morangos com Açúcar”. A participação na novela, mais do que uma clara aposta por parte da direção de atores no seu talento e mestria, concedeu-lhe a oportunidade de construir uma personagem madura, problematizante e consistente, um caso de ficção inspirado no drama real dos jovens desempregados.

Ao elenco de luxo como fator determinante para o sucesso da série juntam-se os inúmeros tiques caraterísticos das personagens, sem os quais a composição final não teria tanto impacto. A comicidade é garantida através dos exageros, encenações risíveis, cómicos de linguagem e cómicos de situação mais coreografados, denotando uma veia mais infantil na construção dos diálogos e das cenas. Destaque ainda para a inclusão de algumas personagens de outros formatos cómicos de sucesso, como “Os Batanetes”, e a aparição dos apresentadores das manhãs da TVI e da personagem do cantor Pépito Martín, interpretada por José Carlos Pereira na novela de época “Anjo Meu”.

Elegantes, aperaltadas, simples e resilientes, as princesas de Ribeira das Flores têm os parentes na lama mas nem por isso ousam manchar a sua condição. Hóspedes e espectadores podem esperar o impensável enquanto visitarem a “pensão de quinta categoria” com um pé em Sintra e outro pé no balcão de insolvências. Elas podem não ter nada, mas sorriem só de pensar como a bancarrota pode ser “himalaias de chique” em Portugal.
Giras e Falidas, 2ª a 6ª, às 00h, na TVI.
DUPLO CLIQUE [1ª EDIÇÃO]
Uma Crónica de André Rosa
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