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13 Anos de 'Uma Aventura' - Entrevista a Helena Pedro Nunes


Foi a 14 de outubro de 2000 que a série "Uma Aventura" chegou à SIC. Aquele que viria a ser um dos maiores sucessos de sempre da televisão portuguesa mantém-se há 13 anos no ar, com vários reposições, todas elas com bons resultados de audiência. 

Ao longo desta semana, apresentamos entrevistas exclusivas a caras que marcaram esta grande aventura da televisão portuguesa. Hoje, dia em que celebramos os 13 anos da produção, falamos com Helena Pedro Nunes, a mentora do projeto que apresentou, há mais de uma década, esta ideia original à SIC.

Em 2000 a SIC aposta numa série juvenil inovadora para as manhãs de fim-de-semana, "Uma Aventura". Como recebeu o convite para fazer parte da equipa?
Não foi um convite, eu é que fui a impulsionadora do projeto.  Os livros já existiam, eram escrito por duas autoras que eu também conhecia e lembrei-me de ir ter com elas e ficar com o exclusivo dos direitos, durante 5 anos, para produzir a série. Eu era a diretora geral de uma produtora, a Focus, fiz o "Diário de Maria" e "Os Riscos", por isso já tinha muito treino na produção, constitui por isso a minha própria empresa e criei a série.

Depois de apresentar a ideia à SIC, como é que a mesma foi aceite?
Muito bem aceite, mesmo. Eu também já tinha óptimas relações com a SIC e a RTP. Foi realmente um grande sucesso, eu também já tinha muita experiência em produção, correu tudo da melhor forma e criou-se um projeto que alcançou um enorme sucesso.

Faz hoje precisamente 13 anos que esta "aventura" começou na televisão. Apesar das inúmeras repetições, o sucesso continua há mais de uma década. Como explica este fenómeno?
Eu até considero que seja o case study, porque na altura os jovens que viam a série hoje já são adultos e ainda a recordam com muito carinho. Por exemplo, o meu filho tem a mesma idade que a série, pois ao mesmo tempo que comecei esta produção, comecei também a produção mais importante da minha vida, que foi o meu filho. Ele nasceu em 2000, vai fazer 13 anos e ele próprio sempre viu e gostou, desde pequenino, foi crescendo com a série "Uma Aventura"

Disse-nos, precisamente, que a série "Uma Aventura" era para si como um filho... Tambem os atores que faziam parte do elenco eram para si como filhos?
Também, alguns nunca tinha feito televisão, foi o primeiro papel deles. Tentei também trabalhar com atores já consagrados para alancar também esses jovens, que tinha que ter aquele perfil das personagens. E saíram-se muitíssimo bem, considero que foi uma excelente equipa. Então, tive que gerir isso tudo, eles estavam na idade de estudar, não foi fácil conciliar tudo, mas conseguimos, eles desempenharam muito bem o seu papel. Com certeza que terei sempre uma ternura muito especial.


Ainda hoje mantém contacto com alguns deles?
Não tanto, porque uns seguiram outros percursos, outros continuaram os estudos. E eu própria fiz um intervalo a nível de produção, dedicando-me a outras áreas, como as artes. Tenho muitas saudades de produção de televisão mas estou agora a pensar criar alguns novos projetos. Estou a pensar voltar em breve à area de produção para televisão, tenho um projeto muito engraçado para apresentar. Mas de qualquer forma, antigamente trabalhava-se de outra forma, há que ter em conta o suporte financeiro. Fazer omeletes sem ovos, não é possível e qualidade tem um preço.

A Helena é uma artista plástica pela originalidade dos seus trabalhos... De que forma usou essa originalidade na série? De que forma a arte pode ser usada em projetos televisivos?
Tem que haver muita qualidade, muita criatividade. Existem algumas ferramentas fundamentais para um bom projeto, tais como um bom conteúdo, uma boa direção, um bom realizador, um bom guião... No topo disto tudo tem que estar uma ideia original. Por exemplo, esta coisa das adaptações tem que estar sempre para segundo plano. É como um quadro, uma obra criativa tem sempre impacto, copiar o estilo de outro artista já não tem o mesmo impacto. O que tem a ideia original é o que tem mais sucesso e mais retorno.

Acha que atualmente fazem falta mais séries do género em Portugal?
Acho que sim, até porque as crianças são um grande target potencial de televisão, fazem imensa falta. Incentiva o espírito de grupo, por exemplo. Uma das razões pela qual eu criei esta série foi porque na altura os desenhos animados estavam cheios de violência. E eu tinha no meu imaginário de criança "Os Pequenos Vagabundos", quando brincava com os meus primos na Quinta do meu avô, faziamos aventuras em grupo... Eu sempre gostei muito do sector infanto-juvenil, porque é um público muito exigente, desde o conteúdo, ao texto, à música. Se o produto não for bom, imediatamente rejeitam-nos, mudam logo de canal. Trabalhei sempre com muito rigor para eles, nomeadamente a nível da linguagem. Por exemplo, com "Uma Aventura" eu ia para a praia para ouvir o 'calão' que se falava na altura, para usar sempre a linguagem que o nosso target usava.

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A realidade dos guiões são também um factor de sucesso?
Exato, e não é só o sensasionalismo. Tem que haver sempre um aspeto pedagógico, tem que ter coisas com que elas se indentifiquem, mas que lhes ensine algo. A série "Uma Aventura", nesse aspeto, tinha a linguagem deles mas também se preocupava com o mostrar o Património Nacional, como o Palácio da Pena, a Quinta das Lágrimas, a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos... Havia um certo lado pedagógico. Tenho vontade de pegar noutro projeto destes e desenvolvê-lo, porque sou muito a favor disso.

Em que temporadas esteve envolvida?

Eu mantive-me no projeto nas duas primeiras temporadas. As próprias autoras liam os guiões e envolveram-se muito, daí que foi um projeto com tanto sucesso. Eu penso que a terceira série já não teve o mesmo impacto, porque não foi feita com o mesmo preciosismo. Eu na altura também não pude integrar a equipa, pois tinha um filho bebé, também começaram a haver cortes orçamentais e era impossível fazer-se com a mesma qualidade o mesmo projeto. Entretanto, tenho estado à espera de uma nova oportunidade para fazer um novo projeto. Continuo a ser uma criativa em back office mas ainda não me aventurei noutra, por enquanto.

Porque é que este projeto é tão especial para si?
"Uma Aventura" é um filho, de facto. Foi uma aventura pessoal e familiar, porque empreendi muito do meu tempo, da minha vida, porque foi um projeto meu, que criei desde raíz, do qual me orgulho muito. Tive colaboradores ótimos, desde o realizador, à direção de produção, o guarda-roupa, a equipa técnica, os atores, a Patrícia Vasconcelos... Foi uma equipa criada com muita energia e todos vestiram muito bem a camisola, todos entraram nesta aventura pessoal e profissional. Agradeço a todas as pessoas que colaboraram, à equipa toda, que continuem a apaixonar-se e envolvidos com a energia que deram a este trabalho, com certeza que farão outros com o mesmo gosto e dedição.