"Sonhar Era Fácil" estreia na RTP1
Estreia no dia 2 de maio, quarta-feira, em horário nobre, uma série documental de 5 episódios que aborda o tema da comédia no cinema
português, a partir de uma perspetiva histórica e analítica, através de
extratos dos filmes mais significativos e do testemunho dos
protagonistas. Produzida em 2011, contará com depoimentos filmados de Cármen Dolores, Maria
Eugénia, Artur Agostinho, Deolinda Rodrigues e ainda com outros de arquivo.
António
Silva, Vasco Santana, Eduardo Fernandes, Barroso Lopes, Chianca de
Garcia, José Gomes Ferreira, António Lopes Ribeiro, Ribeirinho, Madalena
Sotto, Arthur Duarte, Milú, Fernando Fragoso, Perdigão Queiroga,
Augusto Fraga, Laura Alves, Eugénio Salvador e Raul Solnado são alguns dos atores que veremos neste novo projeto da RTP.
Para além destes, outras personalidades ligadas ao teatro, ao cinema e à televisão darão o seu testemunho. Nomes como José Manuel Castello Lopes, Luíz Francisco Rebello, Francisco
Nicholson, Lauro António, Herman José, Nicolau Breyner, Maria Manuel
Ribeiro, Luís Reis Torgal, José de Matos-Cruz, Filipe La Féria e
António-Pedro Vasconcelos são alguns deles.
Episódio 1
OS ANOS TRINTA – ANATOMIA DO HUMORA partir de “A Canção de Lisboa”, de 1933, realizado por Cottinelli
Telmo, “Maria Papoila”, de 1937, de Leitão de Barros e “Aldeia da Roupa
Branca, realizado em 1938 por Chianca de Garcia, é feita uma análise da
génese da comédia no cinema português, da sua inscrição numa tradição do
humor português (sobretudo a caricatura e o teatro de revista) e das
influências estrangeiras que sofreu. Neste episódio, mostra-se o que foi
a vida e a obra dos realizadores destes três filmes e a sua relação com
o regime salazarista, com destaque para Chianca de Garcia, que acabou
por abandonar Portugal para se radicar no Brasil, e dos atores que deram
corpo aos principais personagens destas comédias (Vasco Santana,
Beatriz Costa e António Silva), assim como a aventura que foi produzir o
primeiro filme sonoro “na nossa língua feito no nosso país”, “A Canção
de Lisboa”.
Episódio 2
OS ANOS QUARENTA – OS IRMÃOS RIBEIROA comédia no cinema português na década de quarenta, pela mão dos irmãos
Ribeiro (António Lopes Ribeiro e Ribeirinho), com filmes como “O Pai
Tirano” e “O Pátio das Cantigas”, ambos de 1941, e “A Vizinha do Lado”,
de 1948, é o tema deste episódio, em que o destaque vai para depoimentos
destas duas grandes personalidades, e onde é retomada a análise da
tradição do humor naqueles filmes, nomeadamente a influência do teatro
português do início do século XX, exemplificado na adaptação de “A
Vizinha do Lado”, uma das peças mais relevantes de André Brun, que foi, a
par com Gervásio Lobato, um dos maiores dramaturgos dessa época. Também
tratada neste episódio é a presença do bairro típico lisboeta, como o
prolongamento do espírito da aldeia, com os seus valores
pequeno-burgueses e conservadores - base de apoio do regime salazarista
-, de que “O Pátio das Cantigas” é o melhor exemplo.
Episódio 3
OS ANOS QUARENTA - O GRANDE ARTHURCom as comédias realizadas por Arthur Duarte, “O Costa do Castelo”, “A
Menina da Rádio”, “O Leão da Estrela” e “O Grande Elias”, na década de
quarenta, é analisado o segundo período da comédia portuguesa, “a
comédia romântica”, onde se impõe a dupla Milú/António Silva. A
personalidade única e determinada de Arthur Duarte, o seu rigor e
profissionalismo, aprendidos em anos de trabalho nos estúdios da UFA, na
Alemanha, e o seu sentido da popularidade dos temas e dos atores, são
apresentados na primeira pessoa, através do testemunho do próprio
realizador. Neste episódio vemos como a comédia se impõe, como o género
mais popular do cinema português e o que melhor sobreviveu ao regime, e
acompanhamos o percurso do maior dos seus intérpretes, António Silva.
Episódio 4
OS ANOS CINQUENTA – FIM DAS ILUSÕESNeste episódio continua a acompanhar-se a carreira de António Silva que
protagoniza dois filmes de Perdigão Queiroga, “Sonhar Era Fácil”, de
1951 e “Os Três da Vida Airada”, herdeiros do período áureo da comédia
das duas décadas anteriores, mas que já anunciam o fim de um ciclo, de
descrença e quebra de confiança no Regime, que as outras comédias desta
década vêm acentuar. Analisamos outros filmes, como por exemplo
“Perdeu-se um Marido”, realizado por Henrique Campos em 1952, ou os
filmes de 1956 “A Costureirinha da Sé”, de Manuel Guimarães e “O Tarzan
do 5º Esquerdo”, de Augusto Fraga, ou também deste último “O Passarinho
da Ribeira” de 1959, que nos ajudam a perceber as razões da decadência
da comédia no cinema português, que acompanha, afinal, o fim das ilusões
que o salazarismo durante três décadas “vendeu” aos portugueses e que
deixam de ter eco na classe média urbana, deixando o país e o povo já
sem capacidade para sonhar.
Episódio 5
PÚBLICAS VIRTUDES, VÍCIOS PRIVADOSA partir dos filmes já analisados nos episódios anteriores, neste último
episódio mostra-se como a ”comédia à portuguesa” é hoje um dos mais
ricos mananciais de informação para o estudo da ideologia e dos valores
do salazarismo, que tinha em António Ferro, o ministro da propaganda de
Salazar, o seu ideólogo. A comédia, que aparentemente não beliscava os
valores da classe média em que se apoiava o regime (família, honradez,
valorização do trabalho), acabou por sabotar esses valores, graças ao
personagem de António Silva, ao mesmo tempo que quebrava a seriedade que
António Ferro queria imprimir à mensagem do Estado Novo através dos
filmes históricos, das adaptações dos clássicos e da valorização dos
vultos da História Pátria. À revelia de Ferro (que a considerava boçal e
pouco propícia a elevar a mentalidade e o gosto dos portugueses, tarefa
que ele pretendia levar a cabo com a sua “política do espírito”), a
comédia acabou por se impor, tornando-se rapidamente o género mais
popular do cinema português, o único que conseguiu resistir ao tempo e
que ainda hoje continua a fazer rir os portugueses.
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