Header Ads

Crónica FORA DO AR: Maré vazia!

“Na televisão nada de cria, tudo se copia”. Frase célebre que traduz na perfeição o modo de funcionamento do mercado televisivo em qualquer lugar do globo.
Em televisão a criatividade e originalidade são verdadeiramente raros, ocorrendo muito esporadicamente o aparecimento de algo novo e inovador, levando a que na maioria das vezes se recorra à reciclagem de conceitos e formatos...

Esta limitação criativa de cada mercado interno é ultrapassada pela importação de formatos do mercado televisivo global.

No entanto, em Portugal esta dinâmica de importação e exportação de ideias não funciona convenientemente.

Em primeiro lugar, a importação de novos formatos é muito reduzida, levando a que Portugal fica à margem de muitas tendências mundiais a este nível.

Em segundo lugar, a exportação de ideias consegue registar uma performance ainda pior sendo praticamente nula.

Isto leva a que o mercado português seja dos que menos se desenvolvem, sofrendo de uma grande inércia e letargia que apenas prolonga e acentua os problemas de que padece o nosso mercado.

Este fracasso comercial deve-se aos operadores televisivos e às produtoras nacionais.

Os operadores televisivos têm culpa pois têm insistido em grelhas de programas horizontais e quase monotemáticas, deixando pouco espaço para novos conteúdos. É um absurdo que as duas estações privadas possuam um horário nobre preenchido quase na totalidade por ficção (novelas) e informação. E mesmo dentro destes dois géneros a exploração de novas fórmulas é algo que não acontece.

Por outro lado, temos as produtoras, em número excessivo, de pequena dimensão, incapazes de apresentarem às televisões formatos próprios.

Ficando à espera que sejam sempre as televisões a tomarem a iniciativa.

E se isto não fosse o suficiente, vimos estas virem muitas vezes a praça pública reivindicarem que as televisões deviam encomendarem mais programas, sendo normalmente a RTP o alvo principal. Pois, pelos vistos o seu estatuto de televisão pública segundo os proprietários das produtoras é assegurar a sua existência, não interessando as necessidades do operador, esquecendo-se das leis de mercado da procura e da oferta.

Uma produtora para se manter no activo deve ser proactiva, criadora de formatos próprios, dinamizando o mercado onde se insere. Só assim poderá apresentar a solidez necessária para empreender uma actividade saudável no nosso país e aventurar-se nos mercados internacionais, onde poderia ter rentabilidade acrescida.

Vemos que mesmo naquilo que alguns dizem que somos bons, estou a falar das telenovelas, conseguem penetrar nos mercados externos. Certamente os pontos que referi anteriormente estarão na base desta dificuldade e deveriam ser corrigidos o mais brevemente possível.

Na falta de ideias próprias parece que nem aproveitarem o que fazem lá por fora acontece mais. Basta ver que os canais abertos em Portugal continuam ano após ano com os mesmos problemas e tentando ressolvê-los com as mesmas soluções falhadas, ao invés de procurarem inspiração noutros mercados, tentando algo que pode ser cópia, mas que por cá não deixa de ser novidade.

Esta situação de decadência da oferta televisiva dos canais abertos tem levado a uma verdadeira migração de espectadores para os canais por cabo. E isto acontece mais pela falta de apelo/atractividade dos canais generalistas do que pelo interesse na programação daqueles canais. Basta ver que quando a SIC e TVI por exemplo, apresentam conteúdos apelativos a cota dos canais cabos reduz-se significativamente.

Continuarão os canais generalistas mergulhados no sua autocomiserção deixando os canais cabo conquistarem cada vez mais mercado, ou irão finalmente reagir e mudar o rumo dos acontecimentos?

Fiquem em boa companhia!


Por Paulo Andrade