Header Ads

Duplo Clique | "Quem dança, seus males espanta"

  

“Achas que sabes dançar?”. A SIC lança a pergunta à procura de respostas. Cinco anos depois da exibição da primeira temporada nacional do talent-show, Carnaxide resolve acertar o passo do horário-nobre de domingo com aquele que considera o programa nº 1 de dança em todo o mundo. A vida dos bailarinos, porém, rodopia muito para lá do momento em que os holofotes se desligam. Por enquanto, o envelope dourado é tudo o que os anónimos concorrentes procuram, um passaporte para uma possível carreira. Nestas danças e andanças é preciso ver que, se a televisão portuguesa parece não sair do mesmo sítio, as vidas dos bailarinos nunca param, e para eles não é opção dar passos atrás.

https://scontent-a-mad.xx.fbcdn.net/hphotos-xap1/v/t1.0-9/s720x720/10363249_10152663356121247_5158652100878929452_n.jpg?oh=bea298af3ca4db8863f339887fd1d747&oe=552AE735
    
Portugal é um dos 25 países que compraram os direitos de adaptação e exibição do formato “So You Think You Can Dance?”, um original americano que, do outro lado do Atlântico, soma já umas incríveis 11 temporadas, transmitidas pela FOX. Aparentemente, nada mudou desde 2010 (ano da primeira edição portuguesa, com João Manzarra ao comando) além de a produtora do formato ser a Shine Iberia e a apresentadora ser Diana Chaves, comprovando que, no que concerne a adaptações de formatos internacionais, não há margem de manobra em termos televisivos para oferecer aos espectadores algo inteiramente novo. Sabendo que, por terras lusas, os portugueses se prestam às danças, será preciso ter “Feeling”, como cantam os HMB, para tentar descobrir o brilho do futuro bailarino de Portugal?

https://fbcdn-sphotos-g-a.akamaihd.net/hphotos-ak-xap1/v/t1.0-9/s720x720/10888687_10152663706436247_3481422216529964023_n.jpg?oh=d9c3d96f74dec274a2f36eaca7c84bc2&oe=55269113&__gda__=1432668840_10f89c5c58e9a172077e742c0ba2479a
    
De Portugal, como quem diz. O país continua a ser só Lisboa e Guimarães, localizações que agradam à produção do programa em termos logísticos mas que provocam uma centralização de oportunidades. Ao casting no Casino do Estoril compareceram candidatos de Alcácer do Sal, Quinta do Conde e Montijo, três localidades onde as escolas de dança são raras ou nem sequer existem. As dificuldades que muitos concorrentes enfrentam em esculpir o seu talento e perseguir o sonho, essas, a narrativa sensacionalista do programa captou-as na perfeição. As fichas de inscrição nos castings esmiuçam as histórias de vida marcantes dos concorrentes, as perdas familiares próximas e as demais agruras da vida, porém, mais do que o propósito de sensibilizar o espectador, há que sublinhar a mensagem de força e sacrifício veiculada pelo programa – já que, como tudo na vida, nada se consegue sem esforço e sem lutar por objetivos.

https://scontent-a-mad.xx.fbcdn.net/hphotos-xap1/v/t1.0-9/p720x720/10931341_10152655681111247_5758299386010993902_n.jpg?oh=6187a5bbcd5e3ed619100b095a82237b&oe=552F1E4B
   
Com o objetivo de elevar a qualidade do formato, a SIC convocou Diana Chaves para a apresentação e procurou constituir um painel credível e competente de jurados. Joaquín Cortés é, sem dúvida, a cabeça-de-cartaz, partilhando o cargo com Rita Blanco e Marco da Silva. O conhecido bailarino de Flamenco foi uma boa contratação, especialmente no sentido em que pode captar novas audiências, mas o facto de falar em espanhol causou imediata estranheza. Igualmente esquisita é a oralidade de Marco da Silva, bailarino e coreógrafo requisitado internacionalmente e que parece ter deixado no estrangeiro as regras do bom português. Dizer “prontos”, enquanto intervém num programa familiar, não abona a favor da sua postura, ainda para mais ao lado da atriz Rita Blanco. O público parece ter aprovado, desde cedo, a sua presença como uma mais-valia para o painel de jurados, não ousando questionar a sua carreira brilhante. A formação que recebeu em dança contemporânea – e até o seu temperamento irreverente e bem-humorado – conferem-lhe autoridade e garantem, assim, alguns momentos de humor ao longo da emissão.

https://scontent-b-mad.xx.fbcdn.net/hphotos-xfp1/v/t1.0-9/10917281_10152655670666247_373145719246539420_n.jpg?oh=fd21ae2aadf682ef67ce3a9c94445036&oe=556A05C5
    
“Achas que Sabes Dançar?” não atinge, apesar da dimensão visual da dança, o expoente máximo audiovisual. A realização, aparentemente preguiçosa em criar momentos televisivos significativos, mostra-se mecânica, talvez devido à fase das audições, pouco dada à espetacularidade visual. O alinhamento do programa acaba por não acrescentar nada de excecionalmente empolgante, exceção feita aos pequenos imprevistos das gravações. O momento de “provocação” de Marco da Silva por parte de um concorrente e a evacuação de uma rapariga que se lesionou no palco foram exemplos de episódios pontuais que as instâncias da montagem e edição souberam explorar de forma conveniente.

https://scontent-b-mad.xx.fbcdn.net/hphotos-xpa1/v/t1.0-9/p720x720/10257758_10152655665896247_2460541422481309271_n.jpg?oh=c45eb2f28c18114c745a0090d00cf754&oe=552467F8
   
No domingo de estreia, a dança da SIC convenceu 1 milhão e 340 mil espectadores. Mordeu os calcanhares à TVI, mas não foi – nem será a curto prazo – suficiente para atirar a concorrência para fora da pista. Mesmo assim, qualquer dança do “Achas que Sabes Dançar” é melhor que o striptease do canal vizinho. Tendo “feeling” ou não, “quem dança, seus males espanta”.

“Achas que Sabes Dançar?”, para ver aos domingos, às 21h40, na SIC.

Duplo Clique - 34ª Edição
Uma crónica de André Rosa