Vale do Fim | Capítulo 13 (Parte 3)

Também disponível no Wattpad em http://goo.gl/uVVbsb
Capítulo 13 - Um Suicídio Encomendado (Parte 3)
Noite seguinte ao sucedido
na sala do conhecimento
Alina acordou sobressaltada com o seu telemóvel a
tocar. Olhou para o relógio e viu que eram três da manhã. Quem lhe estaria a
ligar a uma hora daquelas. Ela sentiu uma fúria dentro dela. Até ver quem lhe
estava a ligar. Aí sentiu-se confusa e intrigada. Era Artur. A chamada pelo
menos vinha do número dele. Atendeu sem hesitar.
- Artur?! Artur és tu?!
– Perguntava vezes sem conta sem deixar a pessoa do outro lado falar. Não sabia
se aquilo era um sonho ou mesmo realidade.
- Não é o Artur, Alina!
Sou eu. Preciso que venhas ao laboratório! – Disse Viktor calmamente.
- Que brincadeira de
mau gosto é esta? Queres que vá até aí matar a Eva porque não tens colhões
suficientes para o fazer?
- Alina! Vem, preciso
de te ver! – Alina ouviu outra voz na chamada. Uma voz que a fez voltar a ter
as lágrimas nos olhos.
- Artur! És mesmo tu?!
Como? Eu matei-te! Eu vi que não respiravas! – Alina estava tão feliz mas não
podia deixar de se questionar sobre aquilo que estava ali a acontecer.
- Vem até aqui Alina!
Vem rápido! – Disse por fim Viktor, desligando a chamada.
Alina apressou-se a vestir. Não sabia o que
pensar daquilo tudo. Era Artur. Era a sua voz! Mas e se fosse apenas uma
gravação? Algo que a quisessem fazer crer para ela voltar a fazer mais um
trabalho sujo para a PastFuture. Se fosse isso que estivesse para acontecer ela
não se levantaria mais. Não aguentaria mais uma facada nas costas. Se não podia
confiar nas únicas pessoas que confiou durante a vida toda como poderia confiar
em alguém.
Uma viagem de quinze
minutos pareceu-lhe quinze horas. Estava completamente drogada naquela chamada
que recebera. Drogada de amor por Artur. Só ele a fazia mover, era impossível
ela o perder. Em pouco menos de nove meses seriam três. A criança que ela
trazia consigo no seu ventre não poderia crescer sem pai. O que diria ela
quando soubesse que a mãe dele alvejara o próprio pai. O que diria ela se
soubesse que o pai ressuscitara na noite seguinte? Nada fazia sentido na sua
cabeça, mas algo dizia que tinha sido aquilo que acontecera.
Mal parou o carro viu
Viktor. Aquilo fê-la ter um dejá vu da noite anterior e pensar que aquela
chamada não fora mais que um esquema para a obrigar a matar mais um dos
elementos do projecto MG.
- Se isto for mais uma
das vossas artimanhas eu vou fazer de tudo para que o meu controlo da mente não
me vença desta vez e eu vou matar-te a ti ou ao August. – Cuspiu Alina assim
que o viu.
- Se não o conseguiste
fazer com o Artur achas mesmo que conseguias controlar a tua mente quando está
sob o efeito do Projecto CM? – Disse Viktor sempre sereno. Alina invejava a
capacidade de Viktor para ser tão calmo e pacifico mesmo nas situações de maior
transtorno. Era impossível perceber se ele estava nervoso ou não. – Vamos
entrar Alina! Não sabemos quanto tempo temos até ele voltar a ficar
inconsciente.
Ao ouvir aquelas
palavras Alina percebeu que era verdade. Artur tinha acordado, estava vivo, mas
parecia não estar a salvo. Parecia poder morrer a qualquer instante. Se assim
fosse ela preferia nem o ter sabido, a dor ia ser ainda maior do que já era.
Andaram até ao fundo do
laboratório da PastFuture e foi aí que entraram numa sala. Uma sala pequena com
apenas uma cama e uma máquina que mostrava a condições vitais do paciente, que
mostrava as condições vitais de Artur. Os seus olhos encheram-se de lágrimas. A
primeira reacção dela foi de o abraçar. A maior alegria que poderia ter depois
de um dia de tamanha tristeza. Aquela visão de Artur preencheu o vazio que
Alina sentira durante todo aquele interminável dia.
- Como? Eu matei-te! –
Disse Alina emocionada ao abraça-lo.
Artur levantou a
t-shirt que vestia deixando-a surpresa. Não havia sequer uma cicatriz do local
onde ela disparara a bala. A sua pele estava como sempre esteve.
- Isto é o Projecto MG.
Graças a ele estou vivo! – Revelou-lhe Artur. – Não culpes o Viktor ou o
August. Eu fui o culpado por o que te fizeram. Fui eu que lhes pedi para seres
tu a matar-me. Se eu tinha que morrer então que fosse por a única pessoa que
realmente me amou.
- Foste tu? Se eu não
tivesse tão feliz por te ter aqui acho que agora te mataria mesmo, e desta vez
faria de tudo para te matar! – Disse Alina, aliviada por tê-lo de novo na sua
vida. Poder tocar-lhe e ver que ele estava ali era o melhor que Deus lhe podia
ter dado, mesmo tendo sido ele a engendrar aquela partida de muito mau gosto.
A sua felicidade foi
estragada com uma questão que surgiu na sua mente. Lembrou-se das palavras que
Viktor lhe dissera à porta do laboratório. Lembrou-se que ele disse para o ver
enquanto ele estava consciente.
- Tu vais voltas a
morrer? – Perguntou Alina em aflição. Não podia acreditar que aquilo fosse sol
de pouca dura. – Passando o efeito do projecto MG tu voltas a morrer?
Artur ficou calado a
olhar para ela. Foi Viktor que quebrou o silêncio. E ainda bem, ela já nem se
lembrava que estavam mais pessoas naquele quarto, para ela só importava Artur.
- Temos de nos reger
pelo que se passou com o Miguel. Ele parece a chave deste mistério que estamos
agora prestes a desvendar. Sabemos que o rapazito ficou inanimado três vezes.
Uma delas quando morreu e as outras duas quando adormeceu. O que achamos é que
o sono pode influenciar de alguma forma no que eu denomino falsa morte. Eu não
sairei deste quarto, Alina, quero monitorizar tudo o que lhe vai acontecer.
Quero saber tudo o que há a saber sobre este projecto. Prometo que ele vai
voltar para ti. Tu e essa criança que carregas no teu ventre vão ter a sua
protecção, assim como a minha e a do August. Nunca estarás sozinha, tu és parte
da família.
Alina ficou emocionada
ao ouvir aquelas palavras. Sentia-se agora arrependida por ter desejado tanto
mal aos dois homens que estiveram com ela desde que começou a ter uma vida
melhor. Mas eles não a podiam criticar, ela não sabia de nada do que se estava
a passar.
Ficou com Artur mais
uma hora, depois disso decidiu ir descansar. Quando chegou à porta do
laboratório viu um homem. Não era seu conhecido, nunca o vira na vida. Ele
estava a levantar-se do chão naquele preciso momento. Quando a viu começou a
correr. Alina abriu a porta mas não se deu ao trabalho de o seguir, em vez
disso baixou-se e apanhou um envelope que estava no chão. Era destinado a August.
Alina foi entregar a Viktor que ainda estava com Artur.
Continua...
Vale do Fim - Capítulo 13
Por Ricardo Reis
Comente esta notícia