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Duplo Clique | "Olho para o Negócio"

 
Temos Negócio. Assim se chama o novo programa da TVI, um formato nunca antes visto quer na grelha da estação, quer na programação internacional do mais alto gabarito. Calma, estimado leitor, desengane-se: é mais um reality-show. O programa escolhido para preencher o horário-nobre das noites de sábado só peca pela tentativa absurda de aspirar a ser um reality-show. De resto, tem tudo para seguir a linhagem do antecessor concurso de culinária líder incontestável das audiências de sábado, oferecendo um entretenimento diferente, oportuno e didático.  

Formato original holandês, com produção nacional a cargo da TVI, Shine Iberia e do OLX (principal patrocinador), Temos Negócio propõe um esquema bastante simples. Um armazém, 15 concorrentes distribuídos por cinco equipas (com 50 mil euros para investir à partida) e a missão de fazer o maior lucro possível até ao fim da jornada.  


O universo dos negócios é um tema inexplorado na televisão portuguesa, em absoluto contraciclo com a realidade socioeconómica de um país cujo povo se orgulha de ser especialista no “desenrasca”. Por isso é que a TVI apelou, nas candidaturas, à criatividade, engenho, espírito empreendedor e capacidade de negociação dos participantes. Longe do colosso tanque dos tubarões – magistralmente adaptado pela SIC este ano –, Temos Negócio é menos sofisticado, mas ganha outros pontos de interesse.  

As engrenagens de Temos Negócio funcionam logo bastante bem: além de uma competição, trata-se de um verdadeiro workshop televisivo sobre como negociar, comprar e vender na era moderna, em que uma parte das transações se efetua através de um computador, de um smartphone ou de um telemóvel. Com os concorrentes os espetadores podem aprender táticas, evitar erros e potenciar, se assim for o caso, os negócios na realidade exterior ao estúdio de televisão.  


E não havia ninguém melhor para liderar o programa que Leonor Poeiras. A apresentadora prova, mais uma vez, como é uma das profissionais mais versáteis, carismáticas e competentes da TVI. Dando a cara, a voz à narração e assumindo a condução em estúdio, Leonor Poeiras conquista, também, um dos maiores privilégios da vida, que é trabalhar naquilo que se gosta – ou não fosse também uma personalidade inventiva e empreendedora, de que o site Oficina Poeiras e os seus trabalhos de bricolage e decoração são o melhor exemplo.  

Os autores da edição portuguesa de Temos Negócio não se coibiram, no entanto, de tentar transformar o concurso de negócios num pequeno reality-show. Que por ser pequeno se torna comezinho e de fraco valor acrescentado, podendo até minar a fidelização dos espetadores que não forem adeptos de mais discussões sobre quem lava a loiça do grupo ou sobre o modo como se organizam na camarata sem privacidade. Criar condições para que haja uma dinâmica de conflitos entre os participantes é de uma lógica questionável; porém entendível, pois os ânimos acesos entre pessoas em situação de stress proporcionam sempre mais audiência que uma simples competição feita de golpes e contragolpes atrás das secretárias.  


Um armazém despojado, com condições de habitação mais parecidas com um campo de recruta militar, é o cenário escolhido como palco deste concurso em que o que interessa não é dormir ou ver televisão, mas sim comprar e vender sem limite. A conceção cenográfica simples diminui a riqueza do espaço e torna as opções da realização mais práticas e visualmente abrangentes. É o grafismo, por sua vez, que funciona mal. O relógio digital preto parece um gif animado, além de os quadros de contabilização que surgem no ecrã e o próprio logotipo do programa parecerem ter sido criados em PowerPoint. Até o nome das equipas respira infantilidade.  

Temos Negócio estreou sábado, dia 21 de novembro, a liderar no horário com pouco mais de meio milhão de telespetadores. Não é um género de entretenimento imperdível, mas torna-se estimulante no meio de uma oferta televisiva em que o negócio das novelas está mais que “queimado”. A TVI e o site de vendas online OLX celebraram um contrato de milhões em audiências e publicidade. E o leitor, tem olho para este negócio?

Temos Negócio, para ver aos sábados, às 23h15, na TVI.  
Duplo Clique - 70ª Edição
Uma crónica de André Rosa