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[Cinema] Hunger Games: A Revolta (Parte 2) - Crítica


Chegou ao fim uma das sagas juvenis que mais fãs empolgou desde o final de Harry Potter. Depois de três filmes surpreendentes, que colocaram as expetativas dos espetadores cada vez mais altas, Hunger Games: A Revolta – Parte 2 prometia muito. O que vimos foi suficiente para agradar, mas não para impressionar.

Em A Revolta – Parte 1, ficámos a saber o contexto da revolução e o objetivo do Distrito 13. Claramente, este filme marcou um salto em termos narrativos em relação aos dois filmes anteriores, ambos concentrados na arena dos Jogos da Fome. Mas a primeira parte de A Revolta acabou por ser mais contida em relação àquilo que os fãs da saga aguardavam: um desfecho em grande. Isso fez com que a maior parte da ação se tenha concentrado neste quarto e último filme. De facto, A Revolta – Parte 2 consegue superar, em muitos aspetos, a produção anterior, mas mesmo assim deixa no ar a ideia de que faltava mais qualquer coisa para que a derradeira aventura de Katniss (Jennifer Lawrence) e companhia fosse verdadeiramente épica.


No seu início, o filme começa por ser mais lento do que era suposto. A história custa a “arrancar” e durante a primeira meia-hora ficamos com a sensação que pouco ou nada acontece. O filme só começa realmente no momento em que o Esquadrão 451 – o grupo militar formado para derrubar o Presidente Snow (Donald Sutherland) – começa a sua jornada em direção à mansão do Capitólio. É com a frase “Let the 76th Hunger Games begin!" que Finnick (Sam Claflin) introduz o que se segue: uma série de mortes, devido à primeira armadilha, incluindo a de Boggs (Mahershala Ali).

Depois disto, A Revolta – Parte 2 acaba por ser uma sucessão de momentos que variam entre a emoção e a previsibilidade. Ficamos com a sensação de que continua a faltar ritmo à história, que parece arrastar-se um pouco, ficando o espetador à espera da apoteose final – que nunca chega a acontecer. Para os fãs que leram os livros, este é um dos filmes mais fiéis à versão literária, com a presença de praticamente todas as cenas da história no grande ecrã. Mas o que pode muito bem resultar no papel, poderá não ser propriamente contagiante no cinema. O facto de a narrativa ser tão fiel ao livro faz com que o público – sobretudo quem nunca o leu – ache algumas das partes enfadonhas. 


Tecnicamente, este último volume de Hunger Games consegue ser bastante bem executado, com um uso de efeitos especiais adequados a cada cena. Todos os momentos criados digitalmente são credíveis, como é o caso da queda de alguns edifícios ou do óleo derramado na primeira armadilha. Talvez a construção dos “mutantes” enquanto personagens tenha sido um dos pontos negativos, por ser exagerada, uma vez que estes surgem e desaparecem sem se perceber bem como foram criados. Por outro lado, a realização melhora consideravelmente em relação à primeira parte e a ideia de invasão, de revolta, ajuda a que sejam criadas várias sequências com planos bem conseguidos. 

Depois de tantas indecisões por parte de Katniss, seria de esperar que o desfecho do triângulo amoroso com Gale (Liam Hemsworth) e Peeta (Josh Hutcherson) fosse resolvido com uma cena mais intensa. Contudo, a despedida de Gale surge de forma estranha, sem grandes explicações para o que aconteceu e a deixar no ar uma ideia de ingratidão por parte de Katniss. Por outro lado, a morte de Primrose (Willow Shields), acaba por nos levar ao êxtase... mas apenas por uns segundos. É que por ser tão rápida, acontece de maneira pouco emotiva e sem nos explicar porque é que a irmã da protagonista se encontrava na frente de guerra, junto à mansão de Snow, soando até a algo forçado.


Se o desfecho de Prim foi repentino, a sequência que o antecedeu acabou por ser uma das melhores do filme. Durante os quatro filmes de Hunger Games, a crítica política esteve sempre presente, de uma forma indireta e até metafórica. Neste caso, o momento em que Katniss e Gale se infiltram no meio dos refugiados e se dirigem até à mansão, acaba por ganhar um significado especial, tendo em conta o contexto dos acontecimentos internacionais que atravessamos atualmente. É também, independentemente desta analogia, uma das cenas mais bem conseguidas, pela tensão e suspense que são criados. Será que eles vão chegar a entrar na mansão? Ou serão eles reconhecidos? 

Destaque para o plot twist da presidente Coin (Julianne Moore), a verdadeira vilã da história – uma posição completamente inesperada e que, quando revelada por Snow, nos leva a duvidar de tudo. Mais tarde, a cena em que Katniss decide matá-la ao invés de executar o presidente, não surpreende e ficamos com a sensação de que já sabíamos que isso ia acontecer desde o momento em que há uma votação e Katniss concorda com uma edição especial dos Jogos da Fome.


Hunger Games: A Revolta – Parte 2 não é um mau filme, apesar de não ser o melhor da saga. O filme está bem adaptado, está bem filmado, está bem editado, os atores estão bem na sua interpretação. Mas falta mais qualquer coisa. Falta ritmo – e não necessariamente sequências repletas de perseguições e explosões –, mas sim mais intensidade nos diálogos das personagens. Acaba por ser um pouco contraditório, mas se normalmente as melhores adaptações são as que seguem à risca o livro, aqui talvez fosse melhor o trabalho ter sido diferente.

A vertente comercial da saga também fez com que a produção cinematográfica tivesse de abranger uma grande fatia de público, com espetadores de várias faixas etárias. Por isso mesmo, houve 'lamechice' a mais e violência a menos. A despedida de Katniss podia ter sido ainda mais épica e o seu regresso ao Distrito 12 poderia também ter sido mais bem trabalhado. Mas mais do que uma despedida inglória para Katniss, foi para as personagens que a rodeiam, que pouco destaque e profundidade emocional tiveram nesta derradeira obra da saga. Exceção apenas para Effie (Elizabeth Banks) e Haymitch (Woody Harrelson), que terminam com um beijo de despedida e uma relação secreta a ser revelada. Não foram cruciais na história, mas a exuberância de Effie e a descontração de Haymitch foram suficientes para conquistar o público. 


O regresso de Peeta e a passagem de tempo na última cena, acaba por roçar o previsível e não nos surpreende. Por um lado, todos gostamos de finais felizes, por outro este não era o fim perfeito para Hunger Games. Avaliando todo o percurso de Katniss, acaba por ser incoerente que uma rapariga a braços com uma vida precária e difícil, que sempre mostrou a sua garra, lutou pelos seus ideais e foi o símbolo de uma revolução social e política termine no meio de um campo florido, com uma imagem de “dona de casa” marcada pela felicidade de cuidar dos filhos e do marido. Talvez seria este o desfecho de Katniss se nunca tivesse participado nos Jogos da Fome, mas nunca seria este o final da história de vida da heroína com quem vibrámos nos últimos quatro anos.

Uma crítica de André Oliveira
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