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Segunda Opinião | "O verdadeiro Filho da Mãe"

 

Rui Maria Pêgo está de volta à televisão com um formato inovador e que promete divertir o público do Canal Q. Filho da Mãe é o nome do projeto que leva o público a conhecer, de forma satírica, a ‘verdadeira’ vida de Rui M. Pêgo. Nesta série, que mistura o género demockumentary (numa perspetiva mais cinematográfica) com o de reality-show (televisivamente falando), pretende-se ironizar as ‘novelas da vida real’ que tanto sucesso fazem na nossa televisão.

O que resulta melhor em Filho da Mãe é esta ideia de trazer ao público rótulos como o filho da Júlia Pinheiro ou o miúdo beto, que compõem uma suposta vida perfeita de Rui Maria Pêgo. Depois, com a intervenção bem humorada de convidados especiais ao longo dos vários programas, percebemos que a sua vida não é assim tão intocável como possa parecer.

Luciana Abreu, Sónia Balacó, Inês Castel-Branco, Mariana Botelho Moniz ou Raquel Strada foram algumas das caras que já participaram neste formato da autoria do protagonista e escrito em parceria com Susana Romana. A série é uma das grandes apostas do Canal Q para esta rentrée. E percebe-se porquê, pois tem tudo para ser um sucesso, pelo menos junto do público que pretende entrar no espírito da produção e rir-se de si mesmo. 

É que Filho da Mãe consegue trazer duas vertentes pouco exploradas em formatos do género: goza com programas televisivos, mas brinca também com o próprio público. Poderíamos compará-lo, por exemplo, ao Último a Sair, por ter esta componente de ironia e sátira aosrealities, mas Filho da Mãe traz ainda mais novidade, porque sai à rua, acompanha um suposto dia-a-dia do apresentador e resulta num produto visualmente mais livre e irreverente. Até a própria produção e equipa técnica acaba por ser referida. Ao levar ao extremo os exemplos satíricos, Rui M. Pêgo faz-nos ver ainda o quão ridículos somos, nós espectadores, que seguimos ferverosamente os reality-shows que as privadas nos oferecem.

Rui Pêgo fá-lo, mostrando uma relação inexistente entre mãe e filho, que na série é sempre disfarçada pelo próprio. Ele usa precisamente o rótulo de filho da Júlia Pinheiro para se defender, quando a ideia é até combatê-lo. Rui fá-lo ainda quando demonstra que não tem dinheiro para pedir uma bebida numa esplanada, contrariando a ideia de riqueza e ostentação dos famosos. Continua a fazê-lo ao tentar transformar Luciana Abreu numa beta, aproximando-a do que ele e a sua amiga Maria Botelho Moniz são. E vemos isso ainda quando Rui maltrata a sua assistente, quando refere a ideia de famosos patrocinados por marcas ou através da criação de um clube de filhos de figuras públicas. E tudo isto faz com que a mentira se torne uma verdade. A ficção espelha, de forma genial, a realidade que se pretende explorar.

O programa vai para o ar aos domingos, no Canal Q, pelas 22h30, ao mesmo tempo que os generalistas apresentam grandes formatos como The Voice Portugal, Peso Pesado e A Quinta. E “se está no Canal Q, é um programa que está queimado”, como se pode ouvir num dos diálogos entre Rui e Sofia Carvalho, da SIC Mulher, no terceiro episódio de Filho da Mãe. Então que continue queimado, porque só assim poderá continuar a ser uma lufada de ar fresco, a ser um programa verdadeiramente alternativo e, o melhor de tudo, a ser um género tão próximo e ao mesmo tempo tão distante dos formatos das generalistas. Afinal, o que é que os separa? Precisamente o facto de ser transmitido no Canal Q, onde é dada a Rui Pêgo e à sua equipa a oportunidade de trazer um humor inteligente e sem preconceitos. 

Segunda Opinião - Edição 42
André Oliveira (Fantastic Televisão)
Uma rubrica em parceria com o Diário da TV