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Segunda Opinião | "Nova RTP: O que esperar da mudança?"


2015 marca o ano da mudança na RTP. Uma nova administração chega à estação pública e promete mudar o serviço público na televisão em Portugal. Nuno Artur Silva é o senhor que se segue e é a cara desta mudança. Conhecido do grande público em várias frentes, como moderador de "O Eixo do Mal" da SIC Notícias ou apresentador do "Nas Nuvens" do Canal Q, o também responsável pelas Produções Fictícias tem como objetivo trazer a Portugal um canal mais diversificado, alternativo e cultural.

Ao longo dos seus 58 anos de existência, a estratégia de programação da RTP tem sofrido várias etapas. Se olharmos para o passado mais recente da história da estação, poderemos constatar que a grelha se tem aproximado cada vez mais das televisões privadas. A RTP continua a fazer serviço público ou entrou simplesmente na guerra pelas audiências? Talvez as duas opções estejam corretas.

Em 2014, o horário nobre da estação passou a contar com a exibição diária de duas séries - "Bem-Vindos a Beirais" e "Água de Mar" - e um concurso de cultura geral. Ainda houve tempo para, durante a primeira metade do ano, vermos o talk-show "5 Para a Meia-Noite" (que depois viria a ser substituído por reposições de programas e séries). A primeira questão que se impõe é: porque é que a RTP produz duas séries diárias e emite-as à mesma hora que as novelas da concorrência?

No caso de "Bem-Vindos a Beirais", estamos perante um claro caso de sucesso. A série não lidera, mas consegue bons resultados para o horário. O segredo do sucesso? Talvez a história bem portuguesa e o facto de os episódios serem fechados. Já "Água de Mar" não conquistou os portugueses e continua a ser um dos programas com pior desempenho na estação pública. Mais do mesmo? Uma concorrência forte? O que não resulta nesta produção? E afinal, o que queremos dizer com "resultar", se o objetivo da RTP deveria ser apostar em conteúdos interessantes e criativos e não vencer nas audiências? Muitas perguntas colocadas e poucas respostas definitivas acerca deste tema...

Se olharmos para o daytime da RTP, continuamos com uma grelha bem semelhante à da concorrência. Talk-show, notícias, telenovela, talk-show, notícias (o único momento diferenciador de toda a grelha da tarde) e, finalmente, um concurso. Em relação aos talk-shows, não haverá muito apontar: a aposta não é diferente, mas os formatos da RTP são claramente inovadores e tentam afastar-se dos conteúdos que as privadas nos apresentam nos programas da manhã e da tarde. Em relação ao concurso, falamos claro de "O Preço Certo", o campeão de audiências da RTP. O programa do "gordo" (Fernando Mendes) continua a conquistar miúdos e graúdos mas é, sobretudo, a população mais idosa que acaba por preferir este formato.

A nova administração quer acabar com o programa de Fernando Mendes. Os telespetadores não querem que isso aconteça. Numa nova estratégia em que a grelha pretende ser inovadora e diferenciadora, o que faz um programa com mais de uma década, quase sempre com os mesmos conteúdos, com um humor mais popular do apresentador e com um formato que se mantém inalterado há vários anos? Talvez faça a diferença para muitos portugueses, sobretudo os mais velhos, que vêm na companhia do "gordo" um dos poucos momentos alegres do seu dia. Afinal, será válido ou não manter "O Preço Certo"? Será que as pessoas querem que o programa de Fernando Mendes acabe? Vale a pena apostar num novo formato que seja culturalmente mais interessante mas que tenha uma audiência quase reduzida?

Para além destes formatos já falados, existem outros programas que parecem não ter lugar na nova grelha da RTP. Formatos de grande entretenimento como "The Voice Portugal" ou "Got Talent Portugal" poderão ser eliminados da estratégia de programação devido aos elevados custos. E o que dizer de "Aqui Portugal", o programa de chamadas de valor acrescentado de sábado à tarde?

Se as novas apostas da RTP trouxerem à antena o cinema, o teatro, a música, as artes plásticas, os programas de humor, a boa conversa, a História ou a ciência, por exemplo, vale a pena haver uma grande mudança. A questão que se impõe é de que forma essa mudança será feita. Será que o objetivo será acabar com os formatos que vão de encontro do espetador mas que não acrescentam nada de novo, substituindo-os por outros, com bastante "sumo" mas que não tenham audiência?

Como sempre, fica no ar a dúvida: o que é serviço público? Que tipos de formatos devem ser exibidos por uma televisão? E afinal o que é que as pessoas pretendem ver? Sabemos que a grelha atual da RTP é - fora algumas raras e boas exceções - direcionada sobretudo para um público mais velho. Era bom ter formatos mais jovens, mais criativos, dinâmicos e inovadores. Mas há sempre a possibilidade de conciliarmos várias faixas etárias num mesmo programa. E há formas de informar, ensinar e trazer cultura à televisão com programas interessantes e divertidos. "Portugueses Pelo Mundo", "Ingrediente Secreto", "Fá-las Curtas" ou "Conta-me como Foi" são quatro conteúdos que são um bom exemplo do que a RTP já fez desse género - geografia, culinária, cinema e história retratados sem grande pretensões, de forma simples e direta.

É isso que se pretende e se espera da nova RTP: uma televisão com uma nova forma de pensar, uma nova forma de fazer conteúdos televisivos... uma nova forma de chegar aos portugueses através do verdadeiro serviço público. Resta esperar para saber se isso será conseguido.

Segunda Opinião - 23ª Edição
Uma crónica escrita em parceira pelo Fantastic e o Diário da TV

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