Duplo Clique | "Pecar não compensa"
“Quem nunca pecou que atire a primeira pedra”. A frase de contexto bíblico é dita por todos, do alto da sabedoria, ou arrogância, de cada um, ou simplesmente porque a doxa, um “conjunto de ideias e juízos generalizados e tidos como naturais por uma maioria”, tem sempre algo a dizer em qualquer situação. Assumindo que já todos pecámos na vida (muito ou pouco, com maior ou menor intensidade) a RTP pôs o dedo na ferida e foi à procura de sete pecadores anónimos, lutando pela sua reabilitação. “Sete Pecados Mortais” é uma série de reportagens temáticas em torno dos principais instintos humanos, grandes deleites e ainda piores pesadelos. O país é de brandos costumes, mas os portugueses não são nenhuns santos.
Eles andam aí, os pecadores. A RTP descobriu-os, a jornalista Mafalda Gameiro falou com eles e assim se construiu uma série de pequenas reportagens, com base em testemunhos reais de quem se deixou seduzir por cada um dos sete pecados. O genérico abriu com gotas de tinta derramadas em água, uma metáfora de como os excessos podem dissolver a qualidade de vida de qualquer um de nós.
Eles andam aí, os pecadores. A RTP descobriu-os, a jornalista Mafalda Gameiro falou com eles e assim se construiu uma série de pequenas reportagens, com base em testemunhos reais de quem se deixou seduzir por cada um dos sete pecados. O genérico abriu com gotas de tinta derramadas em água, uma metáfora de como os excessos podem dissolver a qualidade de vida de qualquer um de nós.
A sofisticação jornalística deste trabalho mostrou-se evidente e, até mais do que isso, habilidosa. O jornalismo começa a reinventar-se no modo de contar histórias, tateando novos suportes e soluções narrativas. O resultado são conteúdos de valor acrescentado, criteriosos, credíveis e simultaneamente atrativos para as audiências. Neste caso, o canal público agradece: os episódios emitidos depois do “Telejornal” rondaram os 16% de share. Mas o que faz uma boa história? As pessoas. Histórias reais de pessoas que emprestaram a voz e a sombra às suas narrativas intensas e perturbantes. Na impossibilidade de gravar os momentos e situações descritos pelos entrevistados, a produção, a cargo de Amélia Gomes Ferreira, pensou na melhor solução: recriar esses momentos com recurso a encenações com atores, emprestando ritmo e atmosferas bastante cinematográficos e realistas às vivências relatadas. Uma dimensão de cinema que nem por um instante ousou comprometer os critérios jornalísticos, assim se lê sobre o projeto no site da RTP.
Luxúria, vaidade, ira, inveja, avareza, gula e preguiça. Cada um dos pecados foi dissecado até ao limite, em 15 minutos, mas primeiro que tudo definido pelos próprios pecadores. A luxúria como “um desejo sexual levado ao extremo”; a vaidade como um “orgulho doentio”; a ira como a “raiva por tudo e por todos”; a inveja como um “sentimento de tristeza e autodestruição”, a avareza como um “pecado capital”; a gula, enfim, como uma “fuga aos sentimentos” através da comida. A preguiça, cujo episódio está por exibir, é o que praticamos todos os dias.
“Todas as reportagens são reveladoras de como é possível ultrapassar comportamentos extremos”. O caríssimo leitor, porventura, deu por si demasiado tempo a olhar-se ao espelho? Julga-se o centro do universo? Não queira acabar como eles, peque menos e viva mais e melhor. Poderá ter sido esta uma das mensagens a chegar aos telespectadores, imersos nos ambientes decadentes e moralmente corrompidos dos entrevistados. A consulta de especialistas em diferentes áreas, cada uma ligada ao pecado em análise, permitiu o devido “enquadramento científico” das patologias, apesar do óbvio destaque concedido aos protagonistas, tendo a jornalista um tempo de antena mais diminuído.
A série de reportagens “Sete Pecados Mortais” prima pela excelência técnica, com imagem da autoria de Rui Rodrigues e Carla Quirino e edição de Miguel Teixeira. A banda-sonora, em absoluta sincronia temática com as histórias viciantes sobre os vícios alheios, assumiu especial importância na criação de uma estética audiovisual – dir-se-ia –, irreverente para os padrões jornalísticos da RTP.
Sete homens e mulheres de diferentes idades e ocupações falaram, talvez, por outros sete milhões de pecadores. “Sete Pecados Mortais” provou duas coisas. A primeira, que o jornalismo não peca por informar e educar neste formato; a segunda, é que tal como o crime, pecar não compensa.
As 7 reportagens de “Sete Pecados Mortais”, emitidas desde 6 de outubro na RTP, podem ser vistas aqui: http://www.rtp.pt/play/p1660/e172856/sete-pecados-mortais. O último episódio será exibido na segunda-feira, dia 24 de novembro.
Luxúria, vaidade, ira, inveja, avareza, gula e preguiça. Cada um dos pecados foi dissecado até ao limite, em 15 minutos, mas primeiro que tudo definido pelos próprios pecadores. A luxúria como “um desejo sexual levado ao extremo”; a vaidade como um “orgulho doentio”; a ira como a “raiva por tudo e por todos”; a inveja como um “sentimento de tristeza e autodestruição”, a avareza como um “pecado capital”; a gula, enfim, como uma “fuga aos sentimentos” através da comida. A preguiça, cujo episódio está por exibir, é o que praticamos todos os dias.
“Todas as reportagens são reveladoras de como é possível ultrapassar comportamentos extremos”. O caríssimo leitor, porventura, deu por si demasiado tempo a olhar-se ao espelho? Julga-se o centro do universo? Não queira acabar como eles, peque menos e viva mais e melhor. Poderá ter sido esta uma das mensagens a chegar aos telespectadores, imersos nos ambientes decadentes e moralmente corrompidos dos entrevistados. A consulta de especialistas em diferentes áreas, cada uma ligada ao pecado em análise, permitiu o devido “enquadramento científico” das patologias, apesar do óbvio destaque concedido aos protagonistas, tendo a jornalista um tempo de antena mais diminuído.
A série de reportagens “Sete Pecados Mortais” prima pela excelência técnica, com imagem da autoria de Rui Rodrigues e Carla Quirino e edição de Miguel Teixeira. A banda-sonora, em absoluta sincronia temática com as histórias viciantes sobre os vícios alheios, assumiu especial importância na criação de uma estética audiovisual – dir-se-ia –, irreverente para os padrões jornalísticos da RTP.
Sete homens e mulheres de diferentes idades e ocupações falaram, talvez, por outros sete milhões de pecadores. “Sete Pecados Mortais” provou duas coisas. A primeira, que o jornalismo não peca por informar e educar neste formato; a segunda, é que tal como o crime, pecar não compensa.
As 7 reportagens de “Sete Pecados Mortais”, emitidas desde 6 de outubro na RTP, podem ser vistas aqui: http://www.rtp.pt/play/p1660/e172856/sete-pecados-mortais. O último episódio será exibido na segunda-feira, dia 24 de novembro.
Duplo Clique - 27ª Edição
Uma crónica de André Rosa
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