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Duplo Clique | "Agora Eles"

 

“Vamos ouvir a sua voz. Histórias, memórias que somos nós!”. Começou assim “Agora Nós”, com Tânia Ribas de Oliveira e José Pedro Vasconcelos. Está no ar, desde 22 de setembro, o novo programa da RTP em que o público é convidado a escrever o guião das manhãs, todos os dias de forma diferente. O daytime do serviço público cumpre a sua missão, distancia-se da concorrência privada e aniquila as trivialidades. Dizem que a voz é dos portugueses, mas a antena é deles.

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O tempo de antena é de Tânia Ribas de Oliveira e José Pedro Vasconcelos, uma dupla coerente e simpática; ágil e elegante, caraterísticas pelas quais se pauta a postura de ambos. A eterna companheira de João Baião divide, com mestria, o teleponto com o sempre irreverente e versátil apresentador das terças-feiras no 5 Para a Meia-Noite. E o par funciona. São eles os anfitriões de um “show televisivo” dinâmico e bem-disposto (com Catarina Camacho e Serenella Andrade na equipa de repórteres), produzido na expetativa de marcar a diferença, o que não é fácil, assumindo os públicos fidelizados nos canais vizinhos.

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O pronome “Nós” sugere uma comunhão de pessoas, e na manhã de estreia mais de 251 mil telespectadores quiseram espreitar o que seria o “Agora Nós”, granjeando ao canal 2,6% de rating e 17,2% de share. Sobre isso, a apresentadora não escondeu que quer “entrar na batalha”, entusiasmada com uma produtora, equipa e ideias novas. Otimismo partilhado por Hugo Andrade, desejoso que o novo programa “faça mossa” à SIC “até ao final do ano”. 

Trata-se um talk-show das manhãs que é mais moderno que o público que se senta nas bancadas. A conceção cenográfica, da autoria de Fernando Ansa, inspirou-se no estilo vintage (presente na mobília central onde decorrem as conversas) e soube combiná-lo com as linhas modernas do décor, espaçoso, iluminado e bem decorado com padrões portugueses e elementos amadeirados. A textura acastanhada torna o cenário mais acolhedor e não tão plástico, elevando em pequenos degraus os apresentadores, músicos e convidados.

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A um estúdio bem concebido juntam-se os conteúdos bem estruturados, a cargo da Diretora de Conteúdos Cristiana Neves. O desígnio do serviço público continua presente – através da divulgação de projetos institucionais, autopromoções, cartaz cultural, consultório em direto, entre outros – mas de uma forma menos aborrecida e sensaborona. José Pedro Vasconcelos não é um novo Baião, nem aspira a um Manuel Luís Goucha, por isso mantém-se discreto mesmo que não resista a soltar deixas humorísticas mais ou menos oportunas (apanhando em falso, por vezes, a sua parceira). Juntos, não fazem a festa de um entretenimento popular e espampanante; dão antes a conhecer, com a distinção a que outros programas da RTP já nos habituaram, projetos e autores musicais que valem a pena escutar. Foi o caso do Projecto Kaya e de Lucky Duquies, RioLisboa e de David Antunes e Vanessa, um momento “feliz” durante a primeira semana do formato.

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“Agora Nós” procura explorar uma margem diferenciadora em relação ao que já se inventou e reinventou em Televisão. Vai correndo até à meta da liderança – o que de momento é ambicioso – e por isso merece os louros, tentando ultrapassar o “Queridas Manhãs” da SIC. Em poucas palavras, é um bom programa, sacrificado em resultados porque um público maioritário não conhece o que de bom se está a fazer no canal do Estado. Mas como a voz é dos portugueses, pode ser que “Agora” seja de vez.

“Agora Nós”, para ver de segunda a sexta, às 10h, na RTP.

Duplo Clique - 23ª Edição
Uma crónica de André Rosa