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Duplo Clique | "Você na TV: Primeiro Plano" [Especial]



A edição desta semana faz “Duplo Clique” nos bastidores do programa “Você na TV!” e conta-lhe o que acontece durante o direto.

A experiência de assistir ao vivo a um programa de televisão não interessa a todos. No entanto, fascina quem vê televisão e quem estuda na área, além de ocupar umas poucas dezenas de senhoras reformadas. O público dos sucessos de bilheteira de La Féria é o público do programa de Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira, no ar de segunda a sexta desde outubro de 2003, há 11 anos a liderar no horário com uma média de 367 mil espectadores por dia. É o programa que faz companhia durante três horas e que educa, informa e entretém. O talk-show é produzido mecanicamente nos estúdios sede da Televisão Independente, em Barcarena, e segue em direto para milhares de habitações.

Às nove da manhã, o público residente e convidado (98% mulheres) compõe uma fila à porta das instalações da Media Capital, aguardando pacientemente – o tempo folheia-se entre catálogos da AVON, conversas corriqueiras e cumprimentos entre amigas daquelas andanças matutinas. Num guichet entretanto aberto, uma rapariga simpática da produção dá baixa dos nomes de todas as pessoas e entrega um cartão magnético de livre-trânsito no estúdio (o trajeto até às casas-de-banho exteriores permite circular no estacionamento coberto da frota de carros de reportagem da TVI, luzentes e alinhados simetricamente). No interior do edifício, uma cafetaria e uma sala de público cumprem as condições necessárias para a audiência do estúdio instalar-se comodamente, enquanto as senhoras com lugar cativo nas bancadas se lançam às casas-de-banho para retocar maquilhagens, penteados, arranjar vestidos e sapatos. O décor de “Você na TV!” esboça-se na janela da porta do estúdio, comunicando com um corredor espaçoso. Aí se encontram cenários desmontados, bancadas e as cadeiras do programa “Juntos no Verão”. Pouco antes das dez, a porta abre-se.

Escassos metros de percurso por um túnel criado no cenário de “A Tarde é Sua” permitem observar um lugar escuro e quase irreconhecível, já que as portas por onde entra Fátima Lopes não estão montadas. Ao longe, o cenário de “Você na TV!” parece maior do que na televisão, mas logo a ilusão se encarrega de mostrar a verdadeira escala. Dois níveis de bancadas preenchem o espaço e a cozinha de Hêrnani Ermida mirra em formato kitchenette. Por detrás das câmaras contempla-se o balcão publicitário do espaço “Viva Melhor”; cadeiras empilhadas, televisores e, elevada mas não tão vertiginosa, a teia de cabos e iluminação.


Três câmaras em tripés móveis e uma grua são suficientes para garantir a dinâmica visual da emissão, permanentemente focadas nos apresentadores e nos convidados. O xadrez visível/invisível só é decifrado no local. Enquanto os espectadores, no conforto do lar, se distraem com o lançamento de umas novas almofadas de praia, simultaneamente dois membros da produção encarregam-se de, em minutos, montar o expositor seguinte no lado oposto do cenário, ou de colocar as cadeiras dos apresentadores e convidados numa posição ajustada, sem exagero, ao centímetro. O programa decorre sem sobressaltos. As vozes dos apresentadores ouvem-se um pouco abafadas e o assistente de realização, com um auricular, vai recebendo e transmitindo instruções. A grua desliza silenciosamente quase por cima das cabeças da assistência, mas no ecrã a profundidade é muito maior.
Sem alaridos, começa o intervalo publicitário, período em que é permitido ligar os telemóveis. Manuel Luís Goucha desaparece do lugar. Cristina Ferreira permanece sentada e recebe, de uma assistente, uma ligeira refeição. Come sem desviar os olhos do tablet que tem nas mãos, além de manter atualizadas as contas no Instagram, Facebook oficial, DailyCristina e as mensagens no telemóvel pessoal. O segundo intervalo é dedicado aos autógrafos que o público convidado teima em colecionar e às fotografias com a dupla maravilha das manhãs, mas o momento dececiona: os apresentadores nem sequer se levantam e limitam-se a esboçar um sorriso convincente, mas pouco genuíno.

http://www.tvi.iol.pt/multimedia/oratvi/multimedia/imagem/id/14087494/

A emissão de 5 de agosto marcou-se pelo ritmo sereno e pelas temáticas sérias e quase enfadonhas abordadas nas rubricas de Camilo Lourenço e Quintino Aires. Manuel Luís Goucha não se coibiu de dar a sua opinião acerca de diversos assuntos, enquanto Cristina Ferreira se mostrou mais alheada, mas preocupada com desafios internos. Os bastidores de “Você na TV!” podem revelar-se pouco excitantes, mas ajudam a perceber que a emissão aparentemente perfeita que “vai para o ar” é afetada por contratempos (naquele caso, o freeze que afetou um direto da rubrica criminal), sem que os espectadores dessem por isso. Visitar um estúdio obriga o comum espectador a redimensionar as suas expetativas e a aceitar que, na verdade, a magia da Televisão é necessariamente mecânica para ser eficaz e parcialmente encenada para conservar os laços emotivos com o público.
A poção mágica é a capacidade para congregar num produto elementos que tenham a ver com a emotividade, com a surpresa, com o espetáculo, embrulhando tudo isso numa formatação que seja equilibrada, sem ser excessivamente populista, nem sofisticada. Isto é dificílimo de fazer, mas, às vezes, consegue-se.
 Júlia Pinheiro em entrevista a Felisbela Lopes, in 20 Anos de Televisão Privada em Portugal.

Duplo Clique - 17ª Edição
Uma crónica de André Rosa